O Monarca e o Ex-operário: diferenças e semelhanças
Rafael Hollanda *
Uma das características mais marcantes dos governantes com personalidade ponerogênica é que quando começam a ocorrer revoltas maciças contra o regime vigente, a sua mente psicótica se converte em uma mistura desatinada de medo e arrogância que pode fazer com que qualquer ato cometido pelo administrador neste estado psicológico signifique a sua eterna ruína. O exemplo que eu mais gosto de usar para explicar o fenômeno é a sucessão de procedimentos desesperados e carregados de prepotência que culminaram na queda de Sua Majestade Imperial, o Shah Reza Pahlavi da Pérsia. Período este que se sucedeu de Dezembro de 1978 a Janeiro de 1979.
A semelhança dos comportamentos do Shah naquela época e do ex-presidente Lula nas últimas semanas, ambos indivíduos com personalidade ponerogênica, exemplifica perfeitamente bem como todo regime controlado por tais indivíduos tem um final muito parecido. O auto boicote psicótico é sempre o seu ato derradeiro.
Vamos aos fatos: era dezembro de 1978. O Império Persa, já em plena revolta popular e com os seus cidadãos diariamente ocupando as ruas pedindo a queda do governo, com a sua imagem internacional debilitada pelo patrimonialismo exacerbado da Família Imperial e pela repressão da polícia política do regime (SAVAK) aos cidadãos contrários ao governo, vivia, inelutavelmente, os seus últimos momentos.
Com Khomeini no exílio na França enviando, em enormes quantidades, através de seus alunos, mensagens de fé e de convocação à derrubada do governo aos comitês anti-shah em fitas cassetes e com Ali Khamenei, Mohammed Beheshti e Hussein Montazeri entocados nas mesquitas de Qom organizando as manifestações que tomavam conta do País, os Ayatollahs já haviam conseguido reunir os grupos mais heterogêneos do Império contra a monarquia. Naquele mês de dezembro, grupos liberais, republicanos, comunistas, islâmicos, zoroastrianos e reformistas já clamavam pela retirada imediata do Shah do poder.
Contando apenas com o apoio das Forças Armadas, da SAVAK, de parte do empresariado e dos governadores das províncias produtoras de petróleo, o Shah via-se bastante acuado por conta das maciças demonstrações contra ele nas ruas do País. Porém, ainda contando com o poder armado, com o dinheiro das empresas e do petróleo, Sua Majestade poderia ter evitado a sua derrubada se soubesse ter prudência e esperar a tormenta passar, administrando a situação com as ferramentas que tinha e, com o devido tempo, sufocar a revolução. Ao invés disso, o claudicante Governo Imperial Iraniano tomou uma decisão suicida e, com isso, terminou por chancelar, naquele momento, a sua queda.
Inseguro, psicótico, arrogante e assessorado na sua grande maioria por burocratas mal preparados e bajuladores, o Shah, em um ato de claro surto ponerogênico, mandou um dos seus ministros escrever um artigo furioso de cinquenta linhas no principal periódico do país, o Ettela´t, chamando o Aiatolá Khomeini de “ a maior pária do Império”, os generais das suas Forças Armadas de “ os mais corruptos cidadãos do país” e fazendo a ameaçadora e totalitária declaração dizendo que caso os manifestantes não calassem a boca e não saíssem das ruas, a SAVAK cortaria trinta milhões de cabeças, se fosse necessário, para manter a Família Imperial no poder. Como os senhores leitores notaram, a atitude do Shah e do seu Ministro, confirmam a tese enunciada no primeiro parágrafo deste texto.
A repercussão do artigo foi bombástica. Nos dias que se sucederam a sua publicação, as Forças Armadas Imperiais se dividiram, o ministro da defesa se demitiu, e os empresários deixaram de apoiar o regime e fugiram do País. O premiê Jamshid Amouzegar ficou furioso e o Shah, entre ataques de histeria e crises de depressão, andava de um lado para o outro no Palácio de Niavaran gritando: “eu sou invencível!”. O Governo Pahlavi, com o surto do seu líder, se autodestruiu.
A publicação do artigo levou as raias da loucura a população iraniana e os comitês revolucionários. As manifestações se intensificaram ainda mais e os manifestantes instalaram megafones pelas cidades do país para ler o artigo para a população e dar-lhe uma ampla divulgação.
Nas primeiras semanas de Janeiro de 1979, o Shah enlouquece de vez. Demite todo o Ministério, os comandantes das três armas e nomeia Shapour Bakhtiar como Primeiro-Ministro. No dia seguinte a nomeação dos novos ministros, ocorre em Teerã a maior manifestação da história do Império Persa, com mais de 4 milhões de pessoas nas ruas pedindo a derrubada do governo. O Shah ordena que os agentes da SAVAK “atirem para matar” em todos os manifestantes que virem pela frente. Ocorre um verdadeiro massacre. No dia 13 de Janeiro os recém-nomeados comandantes militares do Império, enviam uma circular ao Shah declarando guerra a SAVAK, o seu repúdio as ações violentas e comunicando que as Forças Armadas, a partir daquele momento, eram fieis ao líder da revolução iraniana, o Aiatolá Khomeini. No dia 16 de Janeiro e temendo uma guerra civil, o Shah deixa o País e foge para o Egito com a sua família. O premiê Shapour Bakhtiar dissolve a SAVAK, liberta os presos políticos e autoriza a volta de Khomeini ao País.
O diagnóstico de Lula no Brasil petista de 2016 e do Shah Pahlavi no Império Persa de 1979, é praticamente o mesmo. Ambos tem os mesmos sintomas, a mesma arrogância e o mesmo desespero. Ambos se destruíram com atos impulsivos e inconsequentes. Todo psicopata ponerogênico, quando acuado, se auto boicota e acaba criando, com as suas próprias mãos, uma revolução que vai derrubá-lo.
O Shah tinha a SAVAK, Lula tem o “Exército do Stédile”; o Shah disse que cortaria 30 milhões de cabeças para se manter no poder, Lula pede aos seus militantes que cortem as veias daqueles brasileiros que vestiram verde e amarelo; o Shah escreveu um artigo no jornal insultando os seus generais e o Líder religioso de 30 milhões de seus súditos á época, Lula foi pego em gravações xingando os Ministros do Supremo, os Presidentes das casas legislativas, o Juiz Sérgio Moro e todos os cidadãos de bem do Brasil; o Shah respondeu as manifestações contrárias a ele com um massacre físico ao povo iraniano, Lula respondeu as manifestações contrárias a ele com um massacre moral ao povo brasileiro. Os atos de Lula são o nosso “artigo do Ettela´t”.
Então, pelos dados da história e pelo diagnóstico da mente do ex-presidente Lula, fiquem tranquilos: o governo da sua fantoche Dilma Rousseff cairá em breve.
* Rafael Hollanda é estudante de direito do Ibmec-RJ.