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O Mito do Eleitor Racional (Primeira Parte)

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Passado o 1º turno das eleições — e ainda digerindo os enormes erros dos institutos de pesquisas — , as discussões nos “grupos do WhatsApp” passaram a buscar explicações para os resultados. Desde a persistente teoria de que há fraude na urna eletrônica de 1ª geração utilizada pelo Butão, passando pela recriminação de quem pensa diferente, até a uma infrutífera busca de racionalidade do eleitor que votou na dobradinha Zema/Lula.

E é justamente essa “racionalidade do eleitor” que pretendo desmistificar neste e nos próximos artigos até o dia do 2º turno das eleições. Para esse fim, utilizarei o livro O Mito do Eleitor Racional, de Bryan Caplan.

O Paradoxo da Democracia

Antes de nos apresentar a sua teoria da irracionalidade do eleitor, Caplan fala sobre o paradoxo da democracia, um sistema que se propõe a ser o governo da maioria, mas que costuma adotar  —  e manter  — políticas que são prejudiciais para essa mesma maioria.

Na teoria, a democracia deveria ser uma fortaleza contra medidas políticas socialmente prejudiciais, mas, na prática, é um porto seguro para a social-democracia, na qual a conta de tantos benefícios simplesmente não fecha.

O objetivo de curto prazo do eleito (as próximas eleições), aliado ao baixo custo que o eleitor carrega ao acreditar em utopias (afinal, os custos de sua escolha serão compartilhados por outras 210 milhões de pessoas), criam incentivos perversos para a adoção de medidas populistas.

A eleição, ou a “festa da democracia”, não é uma ferramenta eficaz para deter más condutas de grupos de interesses. Ao contrário, é facilmente cooptada por eles, pois os eleitores, em sua grande maioria, são ignorantes em se tratando de políticas públicas. Por exemplo, não compreendem que piso salarial é um tabelamento de preço e, portanto, distorce o mercado e dificulta o acesso ao emprego.

Ao final, o autor afirma que comparar a democracia com o comunismo ou com a Idade Média (como quando afirmamos que ela “é o pior sistema de governo, exceto todos os outros”) estabelece um padrão baixo demais. Caplan lembra que a alternativa à democracia não é uma ditadura, mas o livre mercado.

Preferência sobre crenças

As pessoas são movidas por uma estrutura de crença, sem a qual muitas não veem sentido neste mundo – e há uma hierarquia de nossas crenças: algumas podem ser alteradas, outras, jamais serão.

Para o indivíduo, é mais fácil permitir que uma religião ou uma ideologia corrompa o seu raciocínio para preservar a sua crença “preferida” a ter que avaliar e confrontar todas as hipóteses possíveis. Ayn Rand chama isso de “apagão” ou “interrupção intencional da consciência, a recusa em pensar”.

Há pessoas que discordam de descobertas arqueológicas porque ferem a sua religião (i.e. criacionistas) e há pessoas que discordam de descobertas da Ciência Econômica porque contradizem suas ideologias marxistas ou keynesianas.

A ignorância racional do eleitor

Não são apenas fatos ou a cognição que influenciam a análise humana, mas também ideologias e a emoção.

A ignorância do eleitor é consequência do egoísmo natural do ser humano, não uma aberração cultural passageira. Ele sempre valoriza o seu próprio bem-estar material tanto quanto a sua visão de mundo. Porém — e aqui Caplan aponta o erro de comparar o consumidor ao eleitor  — , se, por um lado, uma decisão errada no mercado recai apenas sobre o consumidor, na política, uma crença equivocada recai sobre toda a população. Eis o motivo de o eleitor não se sentir compelido a investigar as suas escolhas políticas.

Se nos acostumarmos com a ideia da ignorância racional, logo o slogan “a solução para o problema da democracia é mais democracia” parece vazio. Qualquer medida para “consertar a democracia” não aumenta o incentivo do eleitor para se informar melhor, pois isso é custoso e pode perturbar o seu sistema de crenças.

Erros sistemáticos

Os erros dos eleitores nas questões de relevância política são sistemáticos, particularmente quanto à economia. O eleitor médio possui preconceitos contra o mercado, a imigração, a relação de trabalho etc. Pessoas são sistematicamente a favor de protecionismo e de salário-mínimo, mesmo que suas consequências práticas sejam nocivas à sociedade.

Esses erros sistemáticos derivam de ignorância de economia básica, da manutenção de um sistema de crenças e do baixo custo político envolvido no processo eleitoral.

Por isso, o protecionista não arrisca nada ao defender a indústria nacional: porque ele sempre vence independentemente de qual política é adotada. Ou os impostos caem, quebrando uma empresa ineficiente, e ele tem a satisfação de dizer “eu avisei”; ou os impostos de importação permanecem altos, diminuindo o poder de compra de milhões de brasileiros, e o protecionista tem igualmente o prazer em falar: “imagine como as coisas estariam piores se as empresas nacionais não estivessem protegidas”.

Conclusão

Se os eleitores fossem “consumidores” racionais, os políticos teriam o incentivo de apelar para as preferências do eleitorado, a fim de “atender bem ao cliente”. Porém, como são religiosos ou ideológicos, o incentivo é por medidas populares em detrimento de bons resultados, pois confortam a sua visão de mundo. O legislativo observa pesquisas de opinião. Por isso, a demagogia é uma condição natural da democracia.

Crenças equivocadas podem levar a democracia a falhar, mas não porque ela seja capturada por grupos de interesses ou porque o eleitor não sabe votar. A democracia falha porque os eleitores conseguem exatamente que sejam adotadas as medidas tolas que eles desejam.

(continua…)

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Tiago Pedreiro de Lima

Tiago Pedreiro de Lima

Formado na AMAN em 2005, Mestrado Profissional pela EsAO em 2015 e Curso de Altos Estudos Militares em 2021. Especializado em Logística e defensor das ideias da liberdade. As opiniões aqui emitidas são estritamente pessoais e não refletem a posição do Exército.

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