O jornalismo em perigo no Brasil
Os ditadores compreenderam profundamente há tempos, algo que a grande massa sequer percebeu: as ditaduras ou regimes de coerção são “melhor sustentados” com apoio popular. Entre as diversas áreas em que a coerção está avançando no Brasil, a que menos poderia estar ameaçada está: o Jornalismo.
A ideia de que as pessoas apoiem algo que as vai oprimir não parece fazer muito sentido. Mas o ponto é que líderes, que se beneficiam com o impedimento das críticas ao Governo do qual fazem parte, sabem que só irão obter apoio popular se propagarem que estão contribuindo para a liberdade ou direitos do cidadão, daí o profissionalismo impecável de muitos políticos na arte do discurso— pena que este profissionalismo pára por aí.
Um exemplo clássico é usar as expressões “democratização da imprensa” ou “controle social da mídia” para classificar a revisão prévia de conteúdo. Se um jornalista criticar algo legítimo, de interesse público, mas que seja contrário aos interesses do grupo ou partido que está no comando do governo, será que esta crítica vai passar pelos censores, digo avaliadores?
Nem é preciso dizer que o petista André Vargas, ferrenho defensor do “Controle Social da imprensa”, faria um bocado de esforço para que os “avaliadores” considerassem a estranha relação dele com o Doleiro Alberto Youssef, bem como seus estranhos contratos com o setor público, algo que fere estes “princípios sociais” da mídia e impedissem-na de falar sobre o assunto.
Uma boa definição de jornalismo é que ele “consiste [freqüentemente] em publicar o que outros querem esconder, mas que o cidadão tem direito a saber. Isto é a notícia” [Eugênio Bucci em Sobre Ética e Imprensa]. Um pouco diferente do que fazem alguns bloggeiros “progressistas” que recebem gorda verba pública. Aliás, estes senhores, dos quais a cor da chapa é branca, não foram questionados pela Deputada Jandira Feghali (PSOL) ou pelo procurador Rodrigo Janot, foram?
O caso recente do SBT é clássico neste sentido. “Ah, mas os comentários serão feitos ainda. Mas em formato de editorial”. Ah é? Se uma profissional, exercendo seu ofício de formadora de opinião, incomodou a muitos e fez uma emissora recuar para preservar esta profissional, será mesmo que esta mesma emissora, institucionalmente, vai ter condições de peitar quem está no governo, sabendo que os mesmos definem a renovação das concessões de TV?
Com os comentários individuais, o jornalista pode ter e expressar posições que não, necessariamente, condizem com a posição das empresas das quais ele presta serviços, daí a liberdade para criticar entidades que tenham algum tipo de relação com o veículo que publica estas críticas.
Para quem, ainda sim, não compreendeu a gravidade do que está acontecendo, vale conhecer o quão burocrático é o processo de aprovação de um comunicado oficial em uma grande empresa e pensar que neste caso o comunicado seria contrário aos interesses daqueles que comandam a mais forte Instituição de poder, que repassa milhões para a empresa que vai emitir este comunicado. Qual a real chance deste comunicado ser aprovado?
Outro exemplo foi a entrevista que Dias Toffoli concedeu ao Estadão. O ministro taxou o repórter de preconceituoso e não respondeu ao questionado se, o fato de o ministro ter sido advogado do PT, conflitava o com cargo que ele assume agora, de Presidente do Superior Tribunal Eleitoral, justo em ano de eleição.É absurda a pecha ao repórter neste caso? sim, mas o problema é que muitas pessoas “abraçaram” a ideia. Ora, este cidadão, que sequer passou em um concurso de juiz de segunda instância e tornou-se ministro do Supremo, é o mesmo que não se absteve de julgar Zé Dirceu, seu antigo cliente — do alto de um cargo em que Dias Toffoli foi nomeado sobre influência do próprio Dirceu. Algo que nem deveria ser permitido, já que detém um claro conflito de interesses. Ou será que estou sendo preconceituoso?
O jornalismo está diretamente ligado à democracia e ao Estado de Direito, àquele que o império é das leis, que valem, inclusive, para punir o partido que estiver no governo. Ter essa corja, propositalmente, confundindo público com o privado em próprio benefício é algo comum, absurdo, mas comum em nosso país. Agora, o problema chega ao paroxismo quando o povo cai nesta ladainha e as pesquisas mostram a chance de Dilma ganhar já no primeiro turno, um indício claro que o povo cai.
Poucos perceberam, mas quando você apoia ou se omite permitindo que uma pessoa, que discorda de ti, seja calada, amanhã, os “caladores” poderão, também, discordar de você e não hesitarão em extirpar sua liberdade, pois você deixaria de ser um idiota útil, na verdade, deixando, apenas, de ser útil. E aí? Como ficamos? Com a mesma liberdade de imprensa de Cuba? da Argentina ou da Venezuela?
Olá Pedro,
Obrigado pela observação. Falha em querer puxar da memória, apenas, e por tratarem-se de partidos que pertencem à mesma corja no sentido prático, facilitou a confusão. rs
Abraços
Excelente texto!
Só uma correção: Jandira Feghali é PcdoB.
Abraço.