O impeachment de Trump, até o momento, é coxo de evidências e robusto de teorias

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impeachment de Donald Trump ganha ares de novela mexicana e creio que a melhor forma de lidar com o processo contra o presidente dos Estados Unidos é exatamente considerá-la mera dramaturgia democrata, não exatamente uma punição a um suposto crime do republicano. Não porque ele não possa de fato ter cometido tais erros, mas porque não provaram nada e já querem chutar o alaranjado. Vamos lá, deixe-me explicar.

​A acusação se dá no seguinte escopo: Trump teria ligado para Volodymyr Zelenski, presidente ucraniano, com o intuito de fazer uma proposta indecente ao líder: Zelenski investigaria Joe Biden, favorito dos democratas à corrida pela Casa Branca em 2020, e seu filho, Hunter Biden, suspeito de corrupção numa empresa ucraniana na qual trabalhou. Em troca dessas investigações, Trump ofereceria uma ajuda monetária — US$ 391 milhões — para fins militares. Ou seja, Trump teria chantageado o presidente ucraniano em troca de favores políticos. Atualmente a Ucrânia luta contra separatistas russos localizados no leste do país.

A principal prova da acusação? A divulgação da transcrição do áudio do telefonema entre os chefes de Estado. O que a transcrição deixa claro é que o assunto entre os presidentes era o filho de Joe Biden, mas não é absolutamente nada conclusivo quanto aos crimes de Trump que os democratas arrogaram e interpretaram a partir dessa transcrição. Para tentar dar força à teoria acusatória, os democratas afirmam que Trump teria bloqueado os US$ 391 milhões à Ucrânia, e liberado posteriormente, no dia 11 de setembro. Isto é: após o caso — a conspiração “Trump- Zelenski” — ter sido fechado. 

O que temos até então são duas frente de acusação: a primeira se trata de “obstrução do congresso”; supostamente Trump impediu que funcionários da Casa Branca depusessem na Câmara dos Deputados sobre o caso; e a segunda acusação — a principal — é a de “abuso de poder” no caso da proposta feita a Zelenski, onde Trump, munido da chantagem monetária, teria pressionado Zelenski para investigar seu opositor à Casa Branca em 2020. Não é preciso dizer que tanto Trump quanto Zelenski negaram tudo.

​Ambas as acusações encontram oposição unânime dos republicanos e até de alguns poucos democratas que julgam os dados acusatórios como superficiais e meramente ilustrativos, sombras de um suposto crime que carece de maiores provas empíricas.  Outros democratas, por sua via, julgam politicamente desgastante ao próprio partido levar tal processo adiante. Nancy Pelosi — chefe da casa legislativa — já parece tentar articular uma saída menos patética para o partido frente ao claro revés que virá do Senado. As acusações estão verdadeiramente fundamentadas em suposições, as “provas” acabam não provando nada daquilo que os democratas querem evidenciar. É assim que se desenha o processo hoje.

A suspeita é verdadeiramente fortíssima, não temos como negar, a ilação democrata realmente faz sentido no panorama que eles construíram sobre a temática, e por isso, apesar do acirramento polarizado entre os conservadores e progressistas, é bem possível que existam deputados democratas que, de fato, acreditam na culpa do Presidente — sem que para isso se apoiem no puro desejo ideológico de suplantar um republicano. No entanto, deve-se afirmar categoricamente que: mera suspeita não é crime— guardem isso.

Tais afirmações, de forma alguma, se tratam de torcida pró-Trump, mas de fatos. A prova que foi tida como cabal pelo congresso americano, a tal transcrição do telefonema, não mostra Trump conspirando contra Hunter Biden, mas que ambos os Chefes de Estado falavam sobre ele e que “o presidente americano se via responsável em pedir a investigação de corrupção em que um americano era o centro da trama e como tal deve encontrar os termos da justiça” — essa é a versão que os republicanos vendem e, até o momento, não há o que a desminta. 

Além disso, a transcrição também não mostra nenhuma chantagem do americano ao ucraniano. Dizem os democratas que tudo isso já estava implícito no próprio ato primevo de Trump ligar para Zelenski e falar sobre Biden, que a própria atitude desesperada do presidente alaranjado em vetar depoimentos de funcionários da Casa Branca demonstraria tal crime oculto. Todavia, novamente: suposições e ilações, conjecturas e interpretações, não denotam ou evidenciam crimes em si mesmos.

Tal pedido de impeachment pode ser encarado pela população de maneira negativa, já que os números do governo Trump são os melhores já vistos nas últimas décadas e a sua popularidade está em alta. Atacar Trump, num governo que criou o “pleno emprego”, deixou a inflação no subterrâneo e as indústrias nacionais pulsantes, não parece ser — aos olhos de muitos democratas mais estrategistas — muito inteligente.

A questão, nesse instante, nem é muito se Trump cometeu ou não abuso de poder. Querem saber o que eu penso? Acredito fortemente que ele de fato pode ter usado a quantia milionária para afrontar o presidente ucraniano com o intuito de tentar cutucar Joe Biden através de seu filho — alguém tem dúvidas de que Trump quer a reeleição? Alguém duvida que nas tramas políticas a chantagem não é mero arroz com feijão?

Mas tudo isso sem provas reais, sem algo mais consistente do que “achismos” e construções retóricas na base de peças ideológicas, ódios partidários e ânsias por poder, tudo isso é papel machê em tempestade. O meu achismo, o seu, o do partido republicano inteirinho, carentes de provas que dão forma às fantasmagóricas e intempestivas teorias progressistas, são tão somente irrelevantes. O impeachment de Trump, até o momento, é coxo de evidências e robusto de teorias, e como o caso não se dá na França, puras ideias e narrativas não moverão moinhos e nem impedirão presidentes.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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