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O comércio internacional na contramão do visionário Adam Smith

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O maior pensador de todos os tempos, Adam Smith, nasceu em 16 de junho de 1723 (alguns apontam que foi em 5 de junho de 1723). Smith defendia as liberdades individuais e econômicas. Era um severo critico da intervenção estatal e dos monopólios, não só estatais com também os privados.

Foi um ferrenho defensor do livre mercado e argumentava sobre os benefícios do comércio internacional. Para ele, quanto mais os mercados fossem livres, mais a pessoas seriam motivadas a produzir em busca de uma maior lucratividade.

No mês de seu aniversário, de certa forma, Smith deve estar se revirando no túmulo. Seguramente, o paraíso da eficiência e, especialmente, dos custos mais baixos, vem sendo transformado nos cinco anos mais recentes. A veia mestra da globalização, as cadeias globais de suprimentos (CGS), passaram a ser remodeladas, em razão de questões geopolíticas, em especial, da guerra comercial entre EUA e China, e, mais atualmente, em função da pandemia da Covid-19 e da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Evidente que não haverá uma propalada desglobalização; porém, a busca pela resiliência nas cadeias globais de suprimentos e pela redução de riscos em nome da eficácia está fazendo com que a China tenha o seu protagonismo de “canteiro de obras mundial” esvaziado, enquanto outros países asiáticos passam a operar globalmente com mais vigor, como é o caso do Vietnã, de Filipinas, da Malásia, entre outros.

Da mesma forma, empresas americanas e europeias pisaram os pés no acelerador da integração vertical, produzindo internamente e/ou comprando de fornecedores dentro de suas fronteiras ou de países mais próximos geograficamente. Embora muitos “especialistas” reputem esse movimento como positivo para os países – eu diria nacionalistas (não patriotas) -, não vejo dessa forma.

Em nome da intervenção política de governos, as empresas estão buscando mais resiliência, aumento da segurança e redução de riscos, o que inevitavelmente irá acarretar em dois resultados muito prejudiciais para os cidadãos do mundo.

Em primeiro lugar, muito provavelmente, os preços dos produtos aumentarão, pela necessidade de investimentos nas respectivas especializações de produção, penalizando os consumidores ao redor do globo. Em segundo lugar, haverá um aumento do protecionismo, ou, se preferirem, do nacionalismo econômico, beneficiando grupos de interesse locais, inclusive com a possibilidade de inibição de concorrência, e até mesmo da restrição de exportação de produtos de alguns setores “estratégicos” para outras nações – foi o que se observou com a pandemia.

O grande Adam Smith não deve estar feliz. A maior eficiência com o comércio internacional será restringida.

Parece-me que, em nome da redução de riscos globais, os produtos e os serviços ficarão mais caros, custos que crescerão em função da necessidade de se operar com mais estoques de segurança e de se aumentar o número de fornecedores envolvidos nos processos de suprimentos.

E para o Brasil? Pior ainda. Primeiro, porque somos um país introvertido, uma genuína fechadura, ou seja, os “empresários” amigos do rei por aqui mandam no jogo competitivo. Segundo, porque, nesta região sul-americana de sapos enterrados, a integração econômica regional quase sempre não acontece por questões político-ideológicas, fundamentalmente, envolvendo os principais players Brasil e Argentina. Terceiro, porque o nível de automação no país, comparativamente a outras nações, é pífio, o que significa dizer que o Brasil depende consideravelmente da variável custos de mão de obra.

Tendo a pensar que, na questão econômica, como em muitas outras, neste século “contemporâneo”, infelizmente, está-se factualmente regredindo a uma era primitiva, mas, por mais incrível que isso possa parecer, festejada por muitos. Adam Smith foi um gigante, um visionário que antevia os estágios mais avançados da sociedade, sobretudo por meio da presença das liberdades individuais e econômicas – e elas estão rareando… Apesar do aniversário do mestre, não parece haver muito o que comemorar.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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