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O Brasil dos custos de oportunidade, dos subsídios e do protecionismo

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A descontinuação da produção de veículos da Ford no Brasil – que não é tão novidade assim, já que a montadora paralisou parte da produção em 2019 – suscita-me a necessidade de compreensão de três conceitos inter-relacionados. Embora negligenciados, eles impactam na vida dos indivíduos e das empresas, uma vez que empresas são constituídas e dirigidas por pessoas.

Alerto que não irei focar nas razões que motivaram a saída da montadora do Brasil, que incluem questões internas relacionadas às suas próprias escolhas estratégicas e à escassez de recursos e capacidades qualificadas, e externas, tais como o término de subsídios governamentais, o tenebroso Custo Brasil, a pandemia e o mercado brasileiro, entre outros motivos.

Os três conceitos-chave para que chamo a atenção são o de custo de oportunidade, os subsídios e o protecionismo.
Repito, esses conceitos influenciam tanto na nossa vida individual, econômica e social, como objetivamente no cotidiano das operações empresariais.

Bem, tudo na vida tem um custo e um benefício. O custo de oportunidade é um conceito bastante singelo. Assim, se você tomou uma decisão, esse é o custo que você aceitou em troca dos benefícios que poderia ter ao escolher outra alternativa. Nada nesta vida é isento de custos. Cada escolha que você faz significa na prática a renúncia de alguma outra coisa que você não escolheu. Não é possível alcançar todos os benefícios ao mesmo tempo, de forma que com uma escolha você tem que abrir mão dos benefícios da alternativa que você recusou.

E os subsídios? Esses são benefícios econômicos, auxílios financeiros diretos e/ou indiretos (créditos fiscais, juros baixos) concedidos por governos, por empresas e por pessoas, a empresas e para os indivíduos, a fim de que estes possam fortalecer sua posição competitiva e/ou realizar um determinado processo.

Já o protecionismo, que implica proteção, se materializa em um conjunto de medidas que visa a reduzir as compras internacionais por meio de barreiras tarifárias e não tarifárias, a fim de proteger e dificultar a concorrência externa no mercado doméstico. O protecionismo é o oposto do livre mercado.

Veja, da mesma forma que você poderia estar na praia neste momento, você optou por ficar na cidade e fazer uma grana extra dirigindo seu carro pelo aplicativo Uber. O tempo de lazer que teria foi trocado pelo dinheiro que você ganhará. No seu planejamento pessoal, pode estar projetada uma viagem para o exterior assim que as condições pessoais e as externas estiverem mais favoráveis.

Agora imaginem este conceito na esfera pública. Existem várias indústrias e setores que solicitam políticas públicas diferenciadas. Há uma série de alternativas. Quando o governo escolhe beneficiar a Ford, por exemplo, evidente que tal decisão tem custos e “supostos” benefícios, mas o importante é ter em mente que outros setores e empresas que poderiam eventualmente ser atendidos não o serão. Haverá um deslocamento da força de trabalho para a indústria beneficiada ao invés de fluir mão-de-obra para outros setores.

A alternativa da Ford possivelmente tenha sido realizada pela criação de empregos diretos e indiretos, pela geração de inovações que reverberariam para o país, pelo desenvolvimento de uma determinada região, pela capacidade e eficiência do seu lobby organizacional, enfim.

O fato é que a decisão pela montadora Ford eliminou os ganhos por parte da melhor alternativa que foi recusada.
Agora pense que você obteve um subsídio do governo para realizar um curso específico na sua área de atuação. Sua esposa possui a mesma formação que você, inclusive com um currículo superior. Infelizmente, ela não conseguiu obter o subsídio para cursar o curso referido. Resultado: você conseguiu um novo emprego, ela não. Sem entrar num maior detalhamento, estamos falando de uma “competição” justa?

Voltemos à Ford. Mesmo que fossem cabíveis num primeiro momento subsídios para a montadora, eles deveriam ser ad aeternum? O correto, acho eu, seriam subsídios pontuais em relação a uma circunstância favorável ao país, e por um período de tempo específico. A Ford é altamente lucrativa em alguns segmentos de veículos, e em vários países.

O que se esperaria é que a empresa realizasse as escolhas estratégicas ajustadas ao mercado brasileiro e buscasse ampliar a sua produtividade no Brasil, pela agregação de mais e novas inovações para sua própria operação e para o Brasil. Penso que talvez fosse interessante, por um período específico, um tipo de benefício para estimular a transformação tecnológica na indústria, via produção de veículos elétricos e inovadores no país. Com critérios claros, seria justificável.

Pense agora que você tem que dispor do seu suado dinheiro para comprar um automóvel no Brasil. Claro que sairá bem mais caro que no exterior, e um dos motivos é porque existe uma proteção à entrada de produtos estrangeiros no país. Sim, você paga um preço mais alto por um veículo de pior qualidade. O pior dos mundos.

Esse mesmo protecionismo é que impossibilita os consumidores brasileiros de ter acesso a produtos e serviços mais avançados e impede que o setor produtivo no Brasil, inclusive a Ford, possa adquirir máquinas, equipamentos e componentes para inovar sua oferta competitiva e, assim, participar das cadeias globais de valor, via exportações e importações. Sem abertura comercial, com protecionismo, o essencial aumento de produtividade é uma ficção.

Eventuais subsídios, se necessários, deveriam ser concedidos para os setores que de fato necessitam, por tempo limitado, e/ou para setores que comprovadamente trarão um mudança tecnológica transformacional para o país.

Tristemente, acho que poucos atentam para o imperioso custo de oportunidade na esfera estatal. Aparenta-me ainda que subsídios são concedidos para compensar os problemas estruturais brasileiros, o famoso Custo Brasil. Não se toca na ferida, se amenizam os sintomas.

É essencial destacar que o angariamento de subsídios e de proteção necessita ser buscado. Esses benefícios não caem do céu. São atividades que precisam ser buscadas e negociadas junto ao governo. Tais atividades são chamadas de “rent seeking”, e são geradoras de custos e de ineficiência. Pois é. Mais lamentável ainda é o fato de que a concessão de subsídios no país parece ser executada com base na “conta de padeiro” e esses grandes sujeitos são velhos amigos do bairro…

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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