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O bizarro caso do Pussy Riot

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Pussy_Riot_by_Igor_MukhinPussy Riot, como quase todos sabem, é o nome de um conjunto russo de punk rock feminista composto por algumas gatinhas. Não é de estranhar que ele tenha um nome em inglês porque é a língua da globalização e do show business.

Mas o que quer dizer “Pussy Riot”? Literalmente: Baderna das Gatinhas. Mas se levarmos em consideração o baixo calão (lewd lingo) apalavra pussy é ambígua: ela pode querer dizer também algo que nossa pudicícia não nos permite mencionar.

As raparigas do Pussy invadiram a Catedral de Moscou (da Igreja Ortodoxa Russa), subiram ao altar e começaram a cantar uma musiquinha em que expressões de protesto se mesclavam com as de baixo calão.

Três delas foram imediatamente presas pela polícia e, posteriormente, conduzidas a um julgamento em que duas foram condenadas a 2 anos de prisão por perturbação da ordem pública e ofensa a valores religiosos.

Aqui entre nós e que ninguém nos ouça: uma coisa é uma manifestação de protesto pacífica, outra e bem distinta, deboche de valores religiosos e/ou destruição de patrimônio público e privado.

Mutatis mutandis, as Pussy Cats russas estão mais para os Black Blocs tupiniquins do que para a Marcha em Direção a Washington, do grande líder pacifista Martin Luther King.

Uma delas, porém, fez uma autocrítica fajuta em que disse que aquilo tinha sido um ato de protesto político e que em nenhum momento ela teve a intenção de ofender alguém.

Ao vê-la na TV, fazendo uma declaração deste naipe, eu não sabia se ria ou se chorava, se mudava de canal ou se tomava um Engov.

As raparigas invadem uma catedral – no caso: a Catedral de Moscou, sede do patriarcado da Igreja Ortodoxa Russa – sobem ao altar e cantam uma musiquinha chula e pornô. Que mais está faltando? Fazer um strip-tease ou dançar a dança da garrafa?

Lembrei-me imediatamente de um caso semelhante ocorrido em Terra Brasilis…

Há alguns anos, o correspondente do New York Times nesta terra, Larry Rohter, declarou que Lula era muito chegado a uma marafa (cachaça) e isto prejudicava sua governança.

Ameaçado por Lula de ser expulso do Brasil como persona non grata – manifestação autoritária de quem tem pavio curto –, Rohter fez uma pífia retratação. Declarou que, em nenhum momento, tivera a intenção de ofender o Presidente!

M’engana qu’eu gosto! Ambos, a moçoila russa e Larry, tiveram claras intenções de fazer ofensas e as materializaram nos seus respectivos atos.

Ele, se expressando na mídia e ela, estando para cantar, embora não tendo oportunidade para fazer tal coisa, mas sendo conivente com as que faziam.

O que estava em jogo não era o cidadão Luiz Inácio da Silva, um notório pinguço, mas sim a dignidade do cargo de Presidente do Brasil.

Que cinismo! Que desfaçatez! Primeiro você chama alguém de filho da p…, mas depois alega não ter tido a intenção de ofender ninguém! Por acaso se tratava de um “insulto carinhoso”?

Os dois casos são emblemáticos destes tempos bicudos em que as desculpas mais esfarrapadas para atos vergonhosos são apresentadas com a maior cara-de-pau. O cinismo campeia solto e fogoso por esses prados pós- modernos.

Lembram-se daquele Deputado Federal que, para justificar sua fortuna, alegou ter ganhado 30 vezes na loteria esportiva? Dizia ele ser um homem abençoado por Deus, mas um conhecido matemático afirmou que a probabilidade de tal façanha ocorrer era de uma em um bilhão. Pode?!

Mas voltando ao caso do Pussy Riot… As moçoilas ficaram algum tempo detidas até que seus advogados recorreram da sentença. Aí então uma delas – a guitarrista desculpante – foi absolvida, mas a sentença das outras duas não foi reformada.

A advogada da guitarrista alegou que fora feito um filme do bizarro “concerto” e este mostrava claramente que a guitarrista não cantou nada, nem sequer teve tempo para dedilhar sua guitarra.

É verdade, mas é verdade também que tanto é ladrão quem vai à horta como quem fica à porta!

Por incrível que pareça, a corte de apelação aceitou essa evidência filmada como prova da inocência da ré e o caso acabou ficando conhecido em todo o mundo globalizado.

O Czar de Todas as Rússias, Vladimir Putin, declarou ser inadmissível tamanha ofensa à Igreja Ortodoxa Russa, religião tradicional de milhões de russos. E esta foi a primeira vez, talvez a última, que eu me vi compelido a concordar com ele.

Tanto em Moscou como em Paris, Londres e Nova Iorque houve várias manifestações de apoio ao Pussy Riot, portando cartazes e emitindo palavras de ordem do tipo: FREE PUSSY RIOT!

Apesar da Rússia de Putin, ex-chefe da KGB, não ser nenhum modelo de democracia, penso que a decisão da Justiça russa estava correta, a não ser a aceitação do recurso fajuto da guitarrista.

E digo isto não por adotar esta ou aquela religião, mas sim por respeito às crenças religiosas dos outros.

É um claríssimo desrespeito às crenças religiosas de milhões de pessoas cantar músicas de protesto com termos de baixo calão no altar de um templo.

Se o Pussy Riot não fosse rigorosamente punido, estaria aberto um perigoso precedente, pois outros músicos seriam motivados a fazer coisas semelhantes no altar desta ou daquela religião.

Penso que isso vale também para os Black Blocs e suas futuras badernas possíveis, caso as já realizadas fiquem impunes.

Como jovens contestadoras do regime de Vladimir Putin – assim elas se autoproclamavam -, essas russas não podiam perder a oportunidade de comparecer à Olimpíada de Inverno de 2014 em Sochi (Rússia).

Assim como alguns manifestantes brasileiros, com muito mais razão, protestaram pacificamente contra os exorbitantes gastos com a Copa de 2014 num país carente de escolas e hospitais.

As meninas rebeldes estavam se preparando para mais um show de protesto, mas a polícia do Czar as prendeu e lascou uns bons cascudos nelas. Menos, polícia russa, menos!

Mas, desta vez, não houve nenhum protesto, apesar da ilegal e desumana forma de tratamento dada pela polícia do czar Putin, que mais se assemelha à extinta KGB da finada União Soviética, que já foi tarde.

O tempora, o mores!, já dizia o vetusto Cícero, na primeira sentença da sua primeira Catilinária, enojado pela decadência e depravação da República de Roma. Ah! Se ele estivesse vivo diante desse cenário de descalabros pós-modernos…

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Mario Guerreiro

Mario Guerreiro

Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor do Depto. de Filosofia da UFRJ. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade.

Um comentário em “O bizarro caso do Pussy Riot

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    09/08/2014 em 9:42 am
    Permalink

    Gostei do texto. Principalmente por sua integridade e ponderação quanto ao assunto.

Fechado para comentários.

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