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O anti-maquiavelismo de Frederico da Prússia

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Frederico II, o Grande (1712 – 1786) foi sem dúvida alguma um dos mais notáveis governantes da História. Assumiu o reinado da Prússia em maio de 1740, após a morte de seu pai, Frederico Guilherme I. Também conhecido como Frederico da Prússia, ao longo de seu reinado de 46 anos, em que industrializou a Prússia, o comércio se expandiu e o povo cresceu. No mesmo ano da morte de Frederico Guilherme I, seu filho publica sua relevante obra O Anti-Maquiavel. Como fica evidente no nome do livro, tem como arcabouço críticas ao filósofo e cientista político florentino Nicolau Maquiavel. Sobre elas, vamos discorrer neste ensaio.

Já na introdução de sua obra anti-maquiavélica, o rei da Prússia aperta a pena no papel e solta o verbo: ” […] Maquiavel corrompeu a política e teve em mira destruir os preceitos da sã moral”. Frederico refere-se, é claro, ao livro O Príncipe de Maquiavel. Noutro trecho, dois parágrafos à frente, Frederico concede seu parecer à obra de Maquiavel: “Sempre considerei o príncipe de Maquiavel uma das obras mais perigosas entre as que se espalham pelo mundo”. Frederico demonstra preocupação com a utilização dos conceitos contidos no livro por príncipes ambiciosos, que não fazem distinção entre bem e mal. Nosso personagem alerta para a narrativa persuasiva de Maquiavel, que pode corrompê-los. “Pernicioso  e contrário ao bem dos homens”, afirma o jovem prussiano.

Ainda em sua introdução, Frederico propõe que os nomes dos maus príncipes não deveriam ser conservados na História. Segundo ele, a “honra de perdurar na memória seria a recompensa da virtude”, que seria para ele algo bom para a humanidade. Neste ponto, é preciso observar, não seria má ideia, considerando a época. No entanto, o que daria segurança de que tais príncipes maus estavam preocupados com a história e não apenas com meras futilidades? Por outro lado, é necessário que a humanidade aprenda também com os maus exemplos. Imagine-se, pois, apagar todos os registros das barbáries do nazismo? Tais fontes bibliográficas, cinematográficas e constituídas por pessoas ainda vivas que vivenciaram o nazismo são um alerta para que novos déspotas como Hitler não sejam alimentados.

Frederico da Prússia segue em seu texto chamando Maquiavel de “político abominável” e alertando para sua imprudência ao ensinar a prática de crimes “espantosos”. “Segundo sua maneira de pensar”, prossegue o prussiano, referindo-se, claro, ao filósofo florentino, as ações mais injustas e mais atrozes tornam-se legítimas com terem o interesse ou a ambição como finalidade”.

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Nicolló Maquiavel, conhecido no Brasil como “Nicolau Maquiavel”, nasceu em Florença, na Itália, em meados de 1469. Prestou serviços à Chancelaria da então República de Florença, berço do Renascimento italiano. Foi enviado a trabalhos especiais na França, Suíça e Alemanha. Maquiavel morreu em 1527, miserável e sem perspectivas na vida. Sua obra máxima foi O Príncipe, escrito em 1513, porém teve sua primeira edição publicada postumamente em 1532. Constitui-se, na essência, em conselhos sobre como conquistar e manter um principado, ou seja, perpetuar-se no poder. No entanto, o inimigo “póstumo” de Frederico da Prússia também redigiu outros escritos durante a Renascença.

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Embora Maquiavel não use a frase, no todo da obra, entende-se que para o pensador os “fins justificam os meios”; ou seja, que o governante pode usar todos os artifícios para sua permanência no poder. Essa definição do pensamento maquiaveliano influenciou gerações de governantes ao longo do séculos. Um exemplo clássico de influência no período moderno foi a revolução bolchevique e a leninismo, assim como subsequentemente o stalinismo.

Há diversas correntes de pensamento sobre Maquiavel.  Mesmo a considerar o teor pernicioso de seus conselhos, é necessário entender o contexto em que o florentino constrói sua obra, até para não cairmos em algum anacronismo. No século XVII, a Itália renascentista estava dividida em pequenos estados, entre repúblicas, reinos, ducados, isso sem mencionar os próprios Estados Papais. Eram frequentes, nesse sentido, concorrências pelo poder em territórios. Fazia-se uso, inclusive, da contratação de mercenários, com o intuito de obter conquistas territoriais. Maquiavel escreve O Príncipe, portanto, num cenário intenso de disputas na Itália. Ele encontrava-se no olho do tornado.

Maquiavel tem suma importância, é preciso reconhecer, na definição de Estado, o que por conseguinte culmina mais à frente na formação do Estado Moderno, que tem sua grande eclosão na Revolução Gloriosa de 1688, na Inglaterra. A partir dela, tem-se o fim do absolutismo monárquico, com uma primeira  divisão de poderes, agora com o rei e parlamento, o que resulta em maturidade política e desenvolvimento econômico.

Este pequeníssimo ensaio é proposto no ensejo de oferecer uma reflexão sobre Maquiavel e seus polêmicos conselhos. Para tanto, uso como base um crítico voraz do florentino, Frederico da Prússia, que não se furta em desclassificar sua obra. Se Maquiavel foi tão ruim como escreve Frederico ou teve sua importância nas concepções da ciência política e definição de Estado, é tema para um ótimo debate. O que não gera margem alguma para discussão, contudo, são as definições de que os fins justificam os meios para a perpetuação no poder e a própria perpetuação no poder em si.

Após discorrer em seus escritos sobre todos os pontos nos quais discorda de Maquiavel, Frederico da Prússia abre o último capítulo de sua obra O Anti-Maquiavel sendo enfático: “Vimos, nesta obra, todos os falsos raciocínios pelos quais Maquiavel pretendeu lograr-nos e fazer-nos tomar os celebrados por grandes homens”.

Espero que a perpetuação no poder aqui no Brasil jamais ocorra e que a democracia, mesmo com seus defeitos, como bem disse Churchill, prevaleça. Os fins não justificam os meios. Justificar atos errôneos e imorais sob ameaça de retomada do PT ao poder é um absurdo.

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Ianker Zimmer

Ianker Zimmer

Ianker Zimmer é jornalista formado pela Universidade Feevale (RS) e pós-graduado em Ciências Humanas: Sociologia, História e Filosofia pela PUCRS. É autor de três livros, o último deles "A mente revolucionária: provocações a reacionários e revolucionários" (Almedina, 2023).

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