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Nem nudes e nem conspiração: o que sabemos até agora sobre o “zap zap” de Moro e Dallagnol

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Guardei certa prudência quanto ao assunto das mensagens reveladas pelo site de extrema-esquerda: The Intercept, mas não pude deixar de notar, desde quando li a matéria pela primeira vez (segunda-feira pela manhã), o alto grau de parcialidade com que foi escrita e conduzida. Muito longe de um trato jornalístico sincero, imparcial e factual, os redatores da matéria ― tendo como cabeça o americano militante: Glenn Greenwald ―, montaram os contextos das supostas mensagens que revelariam um “grande conluio” entre Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e demais promotores da Lava-Jato contra o pai-de-todos-nós: Lula.

E veja, não estou brincando, isso já é perceptível desde o início da matéria:

“Sergio Moro e Deltan Dallagnol trocaram mensagens de texto que revelam que o então juiz federal foi muito além do papel que lhe cabia quando julgou casos da Lava Jato”.

Ontem (12) o referido site soltou outras supostas conversas entre Dallagnol, Moro e demais procuradores da força-tarefa. Mais um amontoado de coisa alguma, a não ser conversas sobre os processos. Diálogos curtos que não trazem o contexto geral no qual estão inseridos, muito menos pode-se afirmar que são verdadeiramente os diálogos entre ambos. Afinal, as mensagens foram adquiridas de forma ilícita e, no mundo dos ilícitos, criar diálogos para corroborar estórias não é nada incomum, passaria longe de ser a primeira vez.

Ou seja, para bem analisarmos o que realmente temos até o momento ― já que Glenn afirmou que há ainda muito mais a ser revelado ―, devemos considerar que o que foi mostrado é pouquíssimo e completamente cercado por uma reinterpretação ideológica dos escritores. Creio que isso seja até mesmo ponto pacífico entre os analistas mais sensatos; os tais “jornalistas” do The Intercept nem se esforçaram para negar as suas militâncias.

Pois bem, para bem analisarmos as questões suscitadas pela matéria, devemos considerar os seguintes fatos:

  1. Os diálogos são espaçados e enxertados em contextos pré-construídos, através de narrativas jornalísticas abertamente ideologizadas e parciais. Dois dos principais pilares do jornalismo: imparcialidade e verificação das fontes, foram simplesmente jogados no lixo pelo mainstream brasileiro. Ansiosos por encontrar o fio solto na “grande conspiração conservadora”, esqueceram de tudo que aprenderam sobre a razoabilidade das fontes e a neutralidade jornalística.  Tais mensagens não são denúncias e nem muito menos provas; são apenas pedaços de supostas realidades coladas com fita crepe a um aglomerado de narrativas partidárias.
  2. “Dizer que disseram”, sem apresentar prints e demais comprovações de conteúdo ― apesar de não existir também nenhuma negação da parte de Moro e Dallagnol, deixando a entender que os diálogos de fato ocorreram ―, é como ler a conversa do smartphone de alguém sentado ao lado no ônibus e depois tentar convencer a terceiros que o que você leu é real, ainda que não tenha prova alguma para isso.

A matéria, desta forma, não tem moral para apontar e imputar crimes, já que não possui provas reais ― ou pelo menos não mostraram até o momento ―, e ainda que as tivessem, tais provas teriam sido obtidas por meio ilícito (roubo cibernético), o que desqualifica, per se, sua utilização em tribunais.

O próprio Greenwald procurou a Rede Globo para divulgar a matéria de forma conjunta, todavia, recebeu uma negativa da emissora dado que não apresentou informações básicas da tal “matéria bombástica” que pretendia publicar. Intuímos, com isso, que as  tais informações requeridas pela Rede Globo sejam: credibilidade das fontes utilizadas e a legalidade das informações vinculadas.

O grupo Globo, por fim, negou a matéria de Greenwald pois o jornalista se negou a mostrar a origem da denúncia a Globo. Dado o alto grau de suspeição que havia sobre o conteúdo da “matéria bombástica” do americano, assim como sobre a sua prática jornalística, a Rede Globo simplesmente pegou seu jumentinho e seguiu a estrada.

  1. Diálogos entre promotores e juízes são extremamente normais, alguns são verdadeiramente amigos para além de seus trabalhos; e ainda que o trato profissional entre ambos possa ter ultrapassado os limites éticos e jurídicos ― o que ainda não pode ser dito através do que por hora fora revelado ―, mais grave ainda é o fato de privacidades terem sido agredidas e expostas. Se não é legal juízes e promotores conversarem sobre os meandros e caminhos de um processo; mais absurdo ainda é a invasão da intimidade de qualquer indivíduo ― inclusive a de Glenn Greenwald, por exemplo.

A maior agressão que pode ser feita contra um indivíduo numa sociedade pretensamente livre, trata-se do ato de roubar-lhe o espaço de intimidade. Dignidade e privacidade andam juntas, quem não tem privacidade, logo também não terá a sua dignidade. Ora, uma sociedade sem privacidade sequer pode ser denominada de “sociedade”; tal coisa passa a ser tão somente um amontoado desconexo de indivíduos, uma pilha sem textura moral e nem laços de direitos e deveres.

Se o fato de conversas privadas estarem tão desprotegidas e viáveis a criminosos não lhe assusta, com certeza deveria. Se o vazamento de mensagens de Moro e Dallagnol lhe soa um tanto quanto engraçado, é porque hoje as vítimas são eles. O incêndio no vizinho pode ser engraçado visto da sua casa, mas o incêndio na sua casa também costuma ser cômico visto lá da casa do vizinho. Tetos de vidro… Muitos tetos de vidros…

No entanto, não sejamos mesquinhos, eu não coloco a mão no fogo nem por mim mesmo, quanto menos acreditarei, por prazos, em outros homens, sejam eles quais forem. “Maldito o homem que confia noutro homem” (em algum lugar da Bíblia). Caso haja mais coisas a serem reveladas por essa trama, rogo que coloquem logo tudo no ar. “Não há nada escondido que não virá à luz” (de outro canto da Bíblia). Temos que ter o máximo cuidado para não taparmos os olhos para as realidades que não nos agradam, a corrupção é inerente à humanidade, e devemos estar preparados para os desvios de conduta de todos os homens ― inclusive o de Moro. Mas também não podemos endossar conspirações baseadas em supostas conversas conseguidas de maneira criminosa; conversas que, por hora, nada revelam de criminoso. Histeria não é evidência!

No entanto, se hoje fosse pedido a minha análise e vislumbre sobre o caso, diria que Moro e Dallagnol enfrentam um ataque orquestrado. O governo Bolsonaro está vingando galera, e, se você se informa para além de Jornal Nacional e Folha de São Paulo, pode perceber avanços reais desse governo. Não se trata de Bolsonarismo, mas de capacidade de enxergar e concatenar fatores e resultados parciais desses primeiros meses; principalmente se compararmos aos governos anteriores. Muitos tropeços e erros caem justamente na conta governamental, com certeza, mas acertos também ― não sejamos mesquinhos.

Se a Reforma da Previdência e o Pacote Anticrime passarem, Bolsonaro angariará grandes chances de reeleição, as mudanças sociais e econômicas tendem a guinar o país numa crescente não vista no Brasil há muito tempo. Sem falar que, se o Pacote Anticrime passar, muitos criminosos de colarinhos brancos tendem a cair de suas torres. Anotem isso!

Parar tudo isso é uma questão de sobrevivência para a oposição e para aqueles que financiam a oposição. Não estou afirmando, todavia, que a oposição hackeou ou mandou hackear Moro e os promotores, mas estou afirmando sim que eles teriam plenas motivações, verdadeiramente amariam que acontecesse algo que desestabilizasse o governo. As mídias jornalísticas logo compraram religiosamente as revelações do site de extrema-esquerda como se fossem a mais pura verdade do milho verde. Muitos analistas afoitos elevaram à sacralidade as afirmações de Greenwald, juízes de confessas tendências à esquerda já queriam tirar Moro “pra ontem” do Ministério da Justiça, Gilmar Mendes já queria levar Moro à sua guilhotina de moral seletiva.

Por fim, nada há nas mensagens a não ser um roteiro escrito a partir de pressupostos ideológicos de uma conspiração sonhada há muito tempo pela esquerda: Moro malvadão, Lula o sancto injustiçado. Não podemos dizer, com certeza, que não há nada de ilícito nas mensagens, pois as mensagens reveladas foram postas sob uma narrativa parcial, e não em seu contexto real. Todavia, também não podemos afirmar o contrário de maneira alguma sem cairmos na pura canalhice. Muitos até já questionam se realmente há mais coisas a serem expostas; e se houver, se elas realmente mostrarão mais do que a costumeira parcialidade jornalística, histeria militante e amizade entre juízes e promotores.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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