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A moral do mercado

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“Minha filosofia, em essência, é o conceito de homem como um ser heróico, com sua própria felicidade como o propósito moral de sua vida, com a realização produtiva como sua mais nobre atividade e a razão como seu único absoluto” – Ayn Rand

Outro dia, li em Zero Hora, um artigo onde o autor dizia que quanto mais o dinheiro pudesse comprar bens, pior seria para a sociedade. Condenava as pessoas que pagavam por diversos benefícios que desejavam obter. O autor parecia criticar a possibilidade de se precificar bens não-econômicos, seja lá o que isso significa. E pedia que se discutisse o papel do mercado através da política, que seria a forma de manter as coisas nos seus devidos lugares.

Muito me espanta que este pensamento tenha resistido a ocorrências como o Mensalão, onde o PT, partido no governo, comprava votos de deputados e senadores, para que seus projetos fossem aprovados no Congresso. Sem falar em outras maracutaias, principalmente nas campanhas eleitorais, envolvendo agências publicitárias.

Muito me espanta que ainda haja quem pensa assim, depois da crise financeira de 2008, quando uma recessão econômica de graves proporções foi causada pela forte intervenção estatal, promovida pelo governo americano, ao obrigar instituições financeiras a conceder créditos hipotecários para que pessoas sem condições, pudessem comprarem seus imóveis. Inflaram os meios de pagamento, estimulando a demanda, até o ponto em a população endividada, enfrentando a falta de liquidez para venderem seus estoques, produziu uma quebradeira generalizada.

Por si só, imaginar que o governo é uma instituição alheia ao mercado é um equívoco. O governo é parte integrante e, nas condições atuais, protagonista atuante do mercado. O que difere o governo dos demais participantes nesse universo, é que ele possui a prerrogativa de usar a coerção como forma de obter recursos e regular a ação dos indivíduos, de acordo com o seu interesse circunstancial.

O governo, diferentemente dos demais, é o único que não precisa persuadir ninguém, através do uso da razão, para obter o que deseja. O governo ameaça com o uso da força para amealhar aquilo que as pessoas jamais lhe entregariam voluntariamente.

Quando pedimos para o governo interferir mais no mercado, estamos na realidade, clamando para que haja mais coerção, maior uso da força, em detrimento da liberdade, dificultando as relações espontâneas e voluntárias entre os indivíduos.

Finalmente, o autor daquele artigo fala em moralizar o mercado e o uso do dinheiro.

Mas a qual moral ele se refere?

No meu modo de entender, a moral deve ser objetiva e o maior valor que podemos eleger é a vida, a nossa própria vida.

Nenhum meio é mais moral e respeita mais a vida do que o dinheiro fluindo em um mercado absolutamente livre. O dinheiro, legitimamente obtido, nada mais é do que a representação do esforço individual ou coletivo, feito pelas pessoas, para servir aos demais com o propósito de buscar a própria felicidade. O livre mercado, nada mais é do que o mercado livre da coerção, do uso da força.

Tomemos alguns dos exemplos que o autor elegeu para condenar o mercado como sendo imorais, a barriga-de-aluguel e garantir lugar numa fila pagando alguém para ali ficar.

Pessoas agindo voluntária e racionalmente, para satisfazer suas mútuas necessidades, casais que não podem se reproduzir conquistando a paternidade e mulheres pobres, conseguindo sustentar-se além de sentirem o prazer da realização de propósitos que vão além do seu. Barriga-de-aluguel é o típico exemplo de uma transação ganha-ganha. O casal ganha um filho, a mulher que cede seu útero ganha seu sustento e a criança em perspectiva, ganhará vida.

Um médico contrata um desocupado para guardar seu lugar numa fila, para poder atender seus pacientes e lucrar. O desocupado aumenta sua renda. É possível até que alguém que esteja na fila, tenha um parente atendido pelo médico, naquela exata hora, por mera coincidência. Que mal há quando o jovem ganha, o médico ganha, os pacientes do médico ganham, os parentes dos pacientes ganham e na fila, ninguém perde?

A soma resultante desta combinação de vontades será sempre positiva.

O que o autor quer? Que o governo proíba que as pessoas satisfaçam suas necessidades, mesmo que não tenham agido com violência?

Precisamos nos livrar da política como meio de produzir e distribuir riqueza e felicidade, pois a política não tem como fazê-lo. As trocas promovidas com a coerção são do tipo ganha-perde. O governo satisfaz alguns, sacrificando o interesse de outros. A soma desta combinação será sempre zero.

A política é a antessala daqueles que elegem a coerção como método e o uso da força nada mais cria do que escravidão e empobrecimento.

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Roberto Rachewsky

Roberto Rachewsky

Empresário e articulista.

2 comentários em “A moral do mercado

  • Roberto Rachewsky
    29/08/2014 em 6:51 pm
    Permalink

    José Fernando, o setor financeiro americano é uma das indústrias mais reguladas do planeta. Inúmeras agências governamentais, além do FED, legislam, fiscalizam e interveem fortemente.
    Eu não sei qual a tua familiaridade com o inglês, mas este artigo do Yaron Brook, presidente executivo do Ayn Rand Institute, economista e financista, explica como as coisas aconteceram.

    Várias foram as causas determinadas pela intervenção governamental no mercado financeiro, a imposição de políticas populistas foi apenas uma delas e talvez não tenha nem sido a mais determinante dentre elas. Copio aqui o link do artigo e logo abaixo, um trecho que fiz questão de traduzir para ti:
    http://www.forbes.com/2008/07/18/fannie-freddie-regulation-oped-cx_yb_0718brook.html

    “É comum considerar os baixos padrões de empréstimos como prova de que o livre mercado fracassou, que o sistema que deveria recompensar o comportamento produtivo e punir o comportamento improdutivo não conseguiu fazê-lo. No entanto, esta alegação ignora que há anos, os padrões de empréstimos irracionais foram impostos aos credores pela Lei Federal de Reinvestimento Comunitário (CRA) e recompensado (a expensas dos contribuintes) por vários órgãos do governo.
    A CRA forçou bancos a fazerem empréstimos em comunidades pobres, empréstimos que os bancos, de outra maneira, rejeitariam como financeiramente inconsistentes. Sob a CRA, os bancos deveriam convencer um conjunto de burocracias que não estavam envolvidos em discriminação, uma acusação que a lei incentiva qualquer grupo comunitário reconhecido pela CRA a apresentar. Caso contrário, qualquer fusão ou a tentativa de expansão dos bancos seria provavelmente negada. Mas no que consiste tal discriminação?
    De acordo com uma agência de aplicação da lei, “existe discriminação quando políticas de subscrição de um credor contem critérios arbitrários ou desatualizados que efetivamente desqualificam muitos candidatos de minorias de baixa renda urbana”. Note-se que estes “critérios arbitrários ou desatualizados” incluem a maioria dos fundamentos de crédito responsável: nível de renda, verificação de renda, histórico de crédito e histórico de poupança, importantes fatores que os credores foram criticados por ignorar.”

  • Avatar
    29/08/2014 em 1:55 pm
    Permalink

    Eu já vi várias reportagens que mostravam que a crise de 2008 acabou ocorrendo sim, por empréstimos dados à pessoas sem condições, mas não que os bancos estivessem obrigados a fazê-lo. O que eu entendi até agora é que eles relaxaram as normas anteriores que exigiam mais do futuro devedor, e que então mais gente podia se endividar. Se os bancos (ou qualquer um) não quer emprestar porque acha que o risco é alto, não creio que alguma norma forçaria o empréstimo. Esta liberalização dos créditos à quem não pode pagar, junto com o descaso dos dirigentes dos bancos com relação ao bem estar financeiro de longo prazo das instituições é o que gerou a crise, porque eles receberam poupudos valores por “lucros” que só foram se mostrar irrealizáveis anos depois. Se não for isso, por gentileza, explique.

    Aproveito para dizer que no geral sou liberal, mas acho que alguma regulamentação deve ter, e creio que o bom liberal é aquele que procura o limite da regulamentação mínima.

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