Intervindo para a fechadura nacional
Será mesmo que estou velho e obsoleto? Lembro-me de jogar bola com meus vizinhos e amigos no playground do prédio em que vivi minha infância em Porto Alegre. Nos momentos “cabeça” do grupo, ficávamos imaginando – e reportando – o que seríamos e o que faríamos quando a velhice aportasse.
Velhice, de acordo com nosso seleto grupo, seria representada por um homem de aproximadamente 40 anos.
Com meus atuais 5.7, devo estar senil. E não é pela idade. Estou mais ativo, brincando com ferros, além de ter abandonado as gravatas, embora sempre haja uma reunião pomposa a participar e/ou uma festa grandiosa.
O nó górdio está nas coisas que leio e que escuto, de pá, por terras verde-amarelas.
Em nível político, evidente que são desejos, mentiras e burlas. No terreno esburacado da economia e dos negócios, são falácias e sofismas. Por vezes, tenho vontade de mandar para a caridade meus “amigos que não conversam”, mas eles são atemporais: meus livros. Ainda bem que recorro à razão.
Não tem sido raro ler e ouvir, especialmente em períodos de crise como este que vivemos, que o grande negócio é “comprar local”, numa visão virtuosa e bondosa, para ajudar os nossos irmãos locais. A salvação da economia, segundo os que o dizem – embora a imensa maioria nunca tenha ouvido falar -, vem do receituário de John Maynard Keynes.
Penso de forma muito distinta: eu acredito nas pessoas e nas empresas, eu desacredito no Estado. Por quê? Basta olhar ao seu redor, e me refiro a muitas colorações. Para mim o câncer mais maligno é, indubitavelmente, o intervencionismo estatal.
Uma nação só se desenvolve econômica e socialmente com as trocas internacionais. O intervencionismo, por meio do protecionismo econômico, bloqueia a concorrência, favorece os “empresários” do compadrio, impede a inovação e faz com que os consumidores tenham que pagar mais caro por produtos e serviços locais – se existirem -, na grande maioria das vezes, de pior qualidade.
Nesse nefasto contexto, ganham os compadres amigos do rei, e perdem todos aqueles que não possuem laços de ouro com burocratas estatais. Perdem mais os mais pobres, que necessitam gastar mais de sua renda com determinadas “quinquilharias”.
O protecionismo, a proteção, favorece a elite podre do estande nacional, às custas de empreendedores e de empresários e, fundamentalmente, aduba o terreno da pobreza nacional. A liberdade econômica beneficia a todos, em especial aos mais pobres!
Comprar localmente, pela intervenção do Estado, rouba o dinheiro da carteira dos descamisados e enriquece a trupe amiga do rei. A ilusão do governo interventor é sedutora, mas aquilo que o governo promete dar sempre é menor do que aquilo que efetivamente ele tira.
Falo aqui sobre o escamoteio das liberdades econômica e individual. O keynesianismo do “comprar local”, sempre dá um giro de 360 graus. O intervencionismo estatal é infesto, já que é sabido que a capacidade governamental de administrar a economia de maneira ajustada, de acordo com as expectativas do mercado, além de escassa, é populista e interesseira, a fim de satisfazer seus próprios objetivos.
Enfim, o aludido “comprar local”, de fato, protege os avessos à concorrência, e perpetua o banquete do povaréu com produtos de menor qualidade – sem falar na variedade – e com preços que sobem exatamente como pés de alface.
“Comprar local”, nobre e bondoso, mas ordinário. É isso.