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França: o suicídio de uma grande nação

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Nos últimos dias, a França vem sendo acometida por uma onda de protestos violentos comandados pelos “Gilet Jaunes” (Coletes Amarelos), que barbarizaram a cidade de Paris, causando dezenas de feridos e centenas de prisões. A onda de protestos é o resultado da crise política que a França enfrenta, com uma rejeição alta do presidente Emmanuel Macron, rejeitado por 68% da população, e dos graves problemas que a cidade enfrenta há alguns anos, como falta de segurança, formação de “guetos” em várias áreas, depredação do patrimônio público, entre outros.

Esse tipo de rebelião não é uma novidade. A França é considerada um exemplo de como fazer revoltas violentas. Foi dela que surgiu a Revolução de 1789, que deu origem a um dos movimentos mais sanguinários da história humana, o período do “Terror Jacobino”, que, comandado pelo revolucionário Maximilien de Robespierre, causou a morte por guilhotina de milhares de opositores, incluindo pessoas que antes apoiaram os jacobinos, como Danton.

Infelizmente, uma época que deveria ser motivo de reflexão para que a humanidade nunca mais cometesse o mesmo erro acabou sendo “glamourizada” e o jacobinismo, em maior ou menor grau, ainda inspira mentes e corações de militantes. Uma mentalidade revolucionária, que busca a destruição de todo um sistema ou modelo político na esperança de um “mundo melhor”.

Foi através dessa mentalidade que surgiram as manifestações que ficaram conhecidas como as do “Maio de 1968”, uma onda de protestos que influenciou vários países do mundo e que deu o pontapé inicial para a “Nova Esquerda”. O Maio de 1968, inicialmente um protesto estudantil, acabou generalizando-se para uma onda de protestos que buscavam mudar a ordem social na França, uma reestruturação cultural que alterasse valores que fizeram a França se tornar uma grande nação.

Os movimentos de 1968 aconteceram há 50 anos, mas o impacto desastroso na cultura francesa encontra um forte eco nos dias atuais. A França atualmente enfrenta uma crise que assemelha-se a um câncer em metástase: descrédito na política, uma profunda crise moral, desinteresse pela história e cultura… Grande parte dos valores que identificavam a França são fortemente solapados em plena luz do dia, com a conivência e até mesmo apoio da própria população.

Não sou contrário ao multiculturalismo. Acredito que ele pode tornar-se muito benéfico a um país se bem integrado. Um dos melhores exemplos é o Brasil, que é uma nação multicultural: possuímos uma cultura riquíssima e bastante variada, desde a cultura indígena, que proporciona eventos culturais magníficos como o Quarup e o Festival de Parintins; a cultura nordestina, que nos brindou com a sua culinária, a sua história de lutas e o xote e baião; a cultura afro-brasileira, que nos proporcionou o samba, o jongo, as religiões como o candomblé e a umbanda; as culturas ítalo-alemãs; entre várias outras que fizeram com que o Brasil fosse uma nação com uma produção cultural riquíssima e altamente diversificada. O multiculturalismo é algo sadio e benéfico.

O problema começa no fato de que, para abraçar uma nova cultura, você tenha que renunciar aos valores e à história que fizeram uma nação se constituir. Suas glórias, seus feitos, valores que levaram séculos para ser consolidados, mas que correm o risco de desaparecerem em um curto período de tempo. Quando isso acontece, é algo que pode ser irreversível. Uma crise econômica pode ser resolvida em dois ou três anos. Mas uma crise cultural, em grandes proporções, leva muito mais tempo para ser consertada.

O historiador inglês Arnold J. Toynbee disse, em sua grande obra Um Estudo da História, que as nações não são assassinadas: são suicidadas. Essa frase cabe muito bem ao estado atual da França: um país com um passado glorioso, mas que sucumbe pela destruição da sua própria população, que defenestra aqueles que poderiam salvar a França em questões econômicas e culturais e aplaude aqueles que querem ver tudo queimar em chamas. Deixo aqui um poema em forma de canção: “Sous le ciel de Paris”, da grande cantora Edith Piaf, em versão no português brasileiro. Que a França consiga se recuperar dessa escuridão que renega o passado, destrói o presente e ameaça o futuro.

Sob o Céu de Paris

Sob o céu de Paris

Voa uma canção

Ela hoje nasceu

No coração de um rapaz

Sob o céu de Paris

Caminham os apaixonados

A felicidade se constrói

Sob um céu feito para eles

Sob a ponte de Bercy

Um filósofo sentado

Dois músicos, alguns curiosos

e também milhares de pessoas

 

Sob o céu de Paris

Vão cantar até de noite

O hino de um povo apaixonado

Por sua velha cidade

Perto da Notre Dame

Por vezes se trama um drama

Sim, mas, em Paname

Tudo se arranja

Alguns raios do sol de verão

O acordéon de um marinheiro

A esperança floresce

No céu de Paris

 

Sob o céu de Paris

Corre um alegre rio

Ele adormece à noite

os mendigos e os esfarrapados

Sob o céu de Paris

Os pássaros do Bom Deus

Vêm do mundo inteiro

Para conversar entre eles

E o céu de Paris

Tem seu próprio segredo

Há vinte séculos ele está apaixonado

Por nossa Ilha Saint Louis

 

E quando ela lhe sorri

Ele veste sua roupa azul

Quando chove em Paris

É porque ele fica infeliz

Quando fica ciumento demais

Dos milhões de amantes dela

Ele faz sobre nós ribombar

Seu trovão retumbante

Mas, o céu de Paris não fica por muito tempo cruel

Para se fazer perdoar, ele oferece um arco-íris

 

Link para ouvir a música: https://www.youtube.com/watch?v=kouTi-0csLg

Sobre o autor: Erick Silva é graduando em Administração pela UFRRJ.

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Erick Silva

Erick Silva

É graduando em Administração pela UFRRJ e ex-coordenador local do SFL Brasil.

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