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Erasmo de Roterdã e o bom governante (parte III)

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Para ler a segunda parte, clique aqui. 

Nos dois primeiros textos, fizemos uma pequena introdução a Erasmo de Roterdã e abordamos alguns bons conselhos dados por nosso personagem ao príncipe Carlos I que, obviamente, buscamos traçar como paralelos com nossos governantes. Agora, seguimos imersos no pensamento de Erasmo, que solta o verbo em determinado momento sobre a relação governante versus filhos versus estado. Fica fácil identificar a exortação e relacionar ao atual presidente Bolsonaro e problemas com os filhos. Segue: “O príncipe bom e sábio deve sempre ter em mente, ao cuidar da formação de seus filhos, que quem nasce para o estado deve ser formado para o estado, e não para agradar a seus próprios sentimentos; o que existe para o benefício do público sempre tem precedência sobre os sentimentos privados de um pai”.

O filósofo de Roterdã é claro: o homem público deve sempre colocar os interesses do país sobre os de seus próprios filhos. Aqui entra o velho patrimonialismo brasileiro, chaga que nos assola o país. Misturar ou se apropriar da máquina pública para defender seus interesses não leva nota zero no conceito de Erasmo de Roterdã. Evidentemente, os conselhos destinam-se a monarquias. Por isso, Erasmo atenta para a importância da escolha do príncipe pelo povo, que devem ser semelhantes: o príncipe em sua administração deve pensar no bem-estar do povo. Ou seja, entende-se que o estado serve ao indivíduo, não o contrário.

Eis um ponto crucial no pensamento de Erasmo: ele afirma que, quanto mais difícil for uma eventual mudança do escolhido ao governo, maior deverá ser o cuidado na escolha “para que a precipitação de um momento não venha a causar infortúnios duradouros”. Aqui retomo a questão do sistema parlamentarista de governo e seu dinamismo tanto para a reposição de um chefe de governo como para a dissolução de um parlamento. Claro que, como já abordado anteriormente, refiro-me ao parlamentarismo-mãe inglês, o mais evoluído no mundo. O liberal Joaquim Nabuco, a quem já citei mais de uma vez em meus textos, ao visitar a Inglaterra, deparou-se com o que entendeu ser um sistema ideal de governo em que os poderes independentes, porém harmônicos, trabalham como uma máquina justa e eficaz, tanto judiciária como legislativa.

É importante ressaltar, no entanto, que Erasmo trabalha dois modelos de chegada ao poder: o de escolha, por eleição, e o por direito de nascimento, que, para Erasmo, tem como única medida para tornar um governante justo a boa e adequada educação. No caso do sistema presidencialista brasileiro, torto e manco, operando numa Constituição moldada ao sistema parlamentarista, a dificuldade para o impeachment de um mau governante é absurda. Nem me refiro apenas ao Executivo, mas até a parlamentares que, mesmo “pegos com dinheiro nas cuecas”, não perdem seus mandatos.

Findo com um conselho de Erasmo destinado à formação de um jovem príncipe, mas que é atual: “Ensina ao jovem príncipe que a nobreza, as estátuas, as máscaras de cera, as árvores genealógicas, e toda a pompa heráldica que leva as pessoas comuns a se incharem de orgulho pueril, são apenas gestos vazios, exceto na medida em que tenham sido consequência de atos honoráveis”.

Ao redigir a última frase, veio-me à lembrança o gigante inglês Winston Churchill, que salvou sua ilha do maior tirano da história, caminhando contra todas as perspectivas. Churchill tanto em vida como em seu funeral recebeu honrarias que, confesso, não vi em outro país ocidental democrático. Aliás, já que o tema abordado foi a criação e educação de um governante, sugiro a leitura da biografia daquele que considero como pai dos ingleses, escrita – e muito bem escrita – por Martin Gilbert. No livro primeiro, fica evidente que a formação de Winston refletiu-se em suas tomadas de decisões frente ao nazismo.

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Ianker Zimmer

Ianker Zimmer

Ianker Zimmer é jornalista formado pela Universidade Feevale (RS) e pós-graduado em Ciências Humanas: Sociologia, História e Filosofia pela PUCRS. É autor de três livros, o último deles "A mente revolucionária: provocações a reacionários e revolucionários" (Almedina, 2023).

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