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Em defesa da civilização

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Pretende-se, nesse texto, tratar da mais nova forma de assenhoramento da psiquê e que tem dominado os ânimos das mais fracas criaturas dessa terra. Falamos do fanatismo islâmico, essa moderna e bem arranjada forma de perversidade que vem se alastrando com destemor contra toda a pretendida civilização (digo pretendida porque aquilo que chamamos de civilização refere-se claramente a um estágio de maturidade moral e intelectual que, obviamente, não se limita ao Ocidente).

Os fanáticos terroristas conseguiram disseminar o ódio no coração de gerações, sob a alegação de que toda a nobreza de suas tradições estava sendo desestabilizada e destruída pelos ocidentais e por suas ideias. Eles conseguiram perverter as mais tenras almas a partir de um discurso de ódio e de vingança contra uma suposta proposta ocidental de aculturação que, entretanto, nunca ocorreu.

Os chamados “povos do livro” podem ser considerados irmãos perante a tradição hebraica. Eles vêm de uma mesma tradição de resistência ao politeísmo e de crença na profecia de grandes oradores. Na verdade, a tradição hebraica encontra-se disseminada em quase todo o globo e, se verificarmos as origens remotas de cada tradição, muitas delas possuem em comum essa origem. Não é preciso se alongar em pormenores históricos que podem e devem ser consultados para que se constate a insanidade de um ódio entre esses irmãos, pois o que pretendemos é, primeiro, apontar a incoerência das divergências e, segundo, analisar algumas distorções.

Para alguns, o profeta Moisés havia sido apenas e tão somente o inspirador de uma geração; para outros ele havia sido o profeta de todas as gerações. Com o passar dos séculos, reuniram-se em algumas regiões aqueles que constantemente referiam a vinda de um novo profeta já que, diferentemente dos cristãos, não acreditavam no Cristo e, diferentemente dos hebreus, não admitiam o caráter absoluto da palavra do primeiro profeta.

Tomados de fervor religioso e de esperanças proféticas, o povo ismaelita encheu-se de desprezo por tudo aquilo que parecia favorecer o progresso. Parados no tempo, esperavam novas instruções, novas promessas e novas instituições que os agregariam como povo e como nação. Foi nesse contexto que pregou Maomé, o mercador. Maomé era capacitado para a liderança, com potencial para grandes realizações, mas perverteu-se na busca de prazeres mundanos e estabeleceu uma nova interpretação das leis antigas, baseando-se em princípios desvinculados da tradição judaica. A partir daí, passou a defender uma separação radical com o “povo do livro”, contemporizando apenas em parte com as suas raízes, imbuindo, porém, cada um de seus seguidores da crença suprema no Deus, tal qual concebera segundo suas próprias leituras.

O Deus de Israel é o Deus único, universal, imaterial, onipresente, justo e benéfico para o seu povo. O Deus cristão é o Pai, o amor, a concórdia, a fraternidade universal, a caridade absoluta e a suprema moralidade. Mas o Deus do exército de Israel não se compara em ardor guerreiro ao Deus cultuado por Maomé. Nele, a fúria divina contra a idolatria transforma-se em fervor devocional e mítico promovendo uma espécie de expurgo catártico da beligerância natural daquele povo.

Predecessores árabes nutriram uma ética humanitária, mas as tribos unificadas sob a espada de Maomé prometeram ao mundo algo distinto da continuação da história já tracejada pela civilização. Eles queriam postergar a própria história e seu desenvolvimento, seccionando o mundo deteriorado do mundo civilizado e incutindo a ideia malsã de que a postulação doutrinária do progresso não se sustentava em um universo regido pelos princípios imutáveis e intangíveis de Alá. Construiu-se, então, uma retórica mais absolutista que a postura etnocêntrica da civilização moderna e mais preocupada com a difusão de suas ideias que com a sua própria sobrevivência e desenvolvimento. Estancaram-se, assim, na mentalidade medieval, enquanto a Europa se transformava sob o comando férreo das potências governantes e, sobretudo, sob os auspícios de uma conjugação modular entre a civilização passada e a atual, devido à presença em locais estratégicos de representantes particulares de diversas culturas.

O mundo estabeleceu uma maior coesão e um maior adiantamento moral por meio do progresso individual e institucional, por meio da evolução secular das ideias e por meio de ideais nobres. No entanto, a destreza com que os árabes compilaram os estudos gregos permitiu algo ainda mais raro e interessante, a saber, a ousadia intelectual, o vigor feliz da mente aberta e desprovida de liames intelectuais. Houve a Era das luzes, houve a Renascença, houve o Humanismo e a bela consciência adormecida de uma humanidade potente e ágil ressurge com todo o dinamismo próprio de nossa conhecida história. O ocidente passa a ser mais uma vez o centro emanador da cultura e da civilização, da nobreza de espírito e da coerência das leis.

Seguindo o percurso próprio da historiografia clássica, prestaremos conta de catástrofes absurdas e insustentáveis. No entanto, cabe notar que, se ontem o homem europeu desviou-se de um ideal nobre de justiça e paz, hoje ele se refaz da letargia moral dos séculos passados e cria formas notáveis de aperfeiçoamento jurídico a fim de legitimar a humanidade perante si mesma, evitando a decaída na barbárie cruel do holocausto. Nem que mil anos nos separassem desse absurdo, nós poderíamos esquecê-lo, sob pena de ajuizarmos mal da nossa própria capacidade de rendição ao mal.

A despeito disso, promovem-se constantemente melhorias nas formas de relações sociais e nos aparelhos jurídicos e políticos dos poderes constituídos. Apesar dos erros e das oscilações, perseguimos firmemente um ideal de humanidade cuja dignidade está absolutamente assegurada no que diz respeito aos aspectos legais de nossas instituições. Temos ainda uma reserva moral sólida e bem fundamentada, sustentada não apenas no esplendor imbatível do próprio Cristo, mas também na racionalidade recuperada e reintegrada no caminho secular do progresso e das leis.

Não queremos e não podemos nos intitular como os únicos detentores de verdades ou como os verdadeiros e justos cidadãos; apenas constatamos que a justiça e a cidadania são exterminadas quando se cede um quilômetro de terra aos doentes extremistas que ora se denominam Estado Islâmico. O islamismo pode e deve fazer tudo para se desvincular da fúria desregrada do fundamentalismo. No entanto, há que se notar que a base moral em que se edificou a doutrina pouco ou nada pode fazer quando está subordinada ao teor beligerante que a deforma.

Cada vez mais nos acostumamos com o mal, como se a crueldade já não nos martirizasse e, surpreendentemente, já justificamos o terrorismo pela banalização crescente com que se dão seus atos. Mas o coração humano que ainda grita quando vê a loucura devastar o mundo haverá de sustentar uma batalha incansável contra a desumanidade desses animais. E, dito assim, não nos defendemos, pois a animalidade e a selvageria é a forma mais leve de definir esses artistas do demônio fantasiados de preto que ousam recrutar crianças para as suas incursões tenebrosas nos confins da capacidade humana de praticar o mal.

Como pode o amor resistir a tamanha anarquia moral? Como pode o poder sublime da fé ser reavivado quando em nome da fé são perpetrados males indizíveis? Comecemos pelo próprio  cristianismo, que tracejou uma história pouco condizente com as pregações do seu fundador. O cristianismo obteve seguidores à custa primeiramente do ardor do martírio, da esperança e do desejo sincero de aproximar-se se Deus. Posteriormente, essa mesma eloqüência passou a ser considerada uma estratégia política capaz de angariar votos em favor de um império. Notemos que entre um e outro estado de coisas dá-se a mesma aparência, enquanto o íntimo daquele que se converte com fé verdadeira é bastante distinto daquele cuja conversão foi promovida para fins seculares. Pode-se sustentar então que a matéria da religião encontra-se normalmente abaixo da possibilidade de averiguação, pois sua essência é intuitiva e interna, não passível de conjuração ou de outras formas de coação que não a própria concessão da mente aberta para um determinado princípio que a cativa.

Nem aqueles que se vangloriam de seus altos cargos religiosos, nem aqueles cujo fervor parece beirar a esquizofrenia podem testemunhar algo a não ser pela condução moral de suas próprias vidas. Assim, haveremos de ter na conduta do indivíduo a pedra de toque de sua religiosidade e o sentido profundo de sua conversão.

Ora, todo aquele cuja conduta contradiz a máxima da caridade para com o próximo encontra-se em contradição com a essência viva do espírito, com a força impessoal da moral e com a manutenção do poder de ação capaz de gerar ações nobres, pois as grandes obras resultam de um grau de abertura e consciência moral capaz de sustentar tais ações. Por onde o homem caminhar haverá sempre de presenciar as características próprias de um momento histórico determinado e, não obstante, sua posição diante deles testemunhará o possível aviltamento ou engrandecimento de seu próprio ser. Desse modo, pode-se constatar a existência de grandes exemplos de moralidade dentro de sistemas perversos e grandes exemplos de perversidade dentro de sistemas justos.

A questão, portanto, é resgatar em cada indivíduo a essência própria da moralidade, construída dentre outros fatores pela projeção de ideais e sua força de ação para implementá-los. Convém, porém, não esquecer que a possibilidade de transgredir é constante e que não há nenhum sistema político e jurídico capaz de conter o mal sem conter o indivíduo ou de executar a justiça sem ajustar as pessoas.

No momento atual, dá-se uma situação extrema, na qual a perversidade de uma colônia de desertores do bem busca a todo custo seqüestrar pessoas para a sua causa, julgada nobre por eles mesmos, mas desprovida de senso comum e de justiça. Como haveremos de frear o ímpeto de desestruturar e destruir e como convenceremos esses loucos de que a vida humana precisa ser respeitada em qualquer circunstância? Como haveremos de convocar à razão aqueles cujo fanatismo coibiu o poder reflexionante e cujo ódio obscureceu toda e qualquer ponte com o mundo dos que buscam o bem?

Talvez demonstrando sempre, a cada um, a legitimidade da sutil presença em si da consciência moral que o sustém. Encaminhando paulatinamente ao progresso aqueles cuja mente sonolenta espera o momento de se entregar. Convocando não as massas, mas um a um, a cada dia, a cada palavra, a cada acorde bem acertado, a cada palavra vibrante de amor e de verdade. Não creio que adiante tentar convencer multidões enfurecidas. Talvez adiante fazer vibrar uma corda emocional que, por sua vez, contagiará aquele que lhe está próximo com o mesmo entusiasmo, fazendo com que uma onda veloz de humanidade se espalhe nesse mundo obscurecido.

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Catarina Rochamonte

Catarina Rochamonte

Catarina Rochamonte é Doutora em Filosofia, vice-presidente do Instituto Liberal do Nordeste e autora do livro "Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais".

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