URV, Real e a perda do poder aquisitivo
A única moeda que o governo brasileiro produziu que era imune à inflação foi a URV (Unidade Real de Valor). Era imune porque era uma moeda escritural, não existia fisicamente, portanto não podia ser reproduzida.
A moeda corrente, tangível, era o cruzeiro real que perdia valor diariamente. A URV existiu de março a julho de 1994.
Lembro que na época eu tinha uma loja de artigos esportivos e expunha tênis com etiquetas impressas por computador, coloridas, que mostravam os detalhes do produto e o preço: elas eram trocadas semanalmente. Às vezes o preço aumentava tanto que trocávamos as etiquetas quase todos os dias.
Quando chegou a URV, eu troquei todos os preços em cruzeiro real para URV. Fiz isso uma vez em março de 1994 e nunca mais.
Na prática funcionava assim: eu anunciava que trocava um tênis novo por 100 URVs, e o comprador me pagava 100 URVs. Assim, o que circulou nessa transação foram 100 URVs. Como as urvs eram intangíveis, e por isso não podiam ser multiplicadas, a troca se materializava com a entrega de papel ou crédito em qualquer outra moeda tangível conforme referência oficial ou de mercado. As 100 URVs circularam através dos seus correspondentes na realidade, de um lado o par de tênis e de outro a moeda a ela atrelada.
Somente no final de julho, a URV virou Real. Os preços ficaram estáveis por um tempo até o Real, moeda tangível, passível de ser multiplicada pelo governo, começar a ter sua oferta expandida tirando-lhe valor.
Na época em que a URV transformou-se magicamente em Real na paridade 1:1, o governo fez de tudo para manter o câmbio controlado. Juros de 40% ao ano, intervenção no mercado com venda de dólares e aumento de impostos, contiveram a desvalorização da moeda por um tempo.
Mas quem gasta mais do que arrecada acaba recorrendo a fraude monetária e é assim que o Real hoje vale 15% do que valia há 28 anos.