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Um século de matança e opressão e ainda tem quem queira salvar a utopia comunista

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Há um século os bolcheviques tomavam o poder na Rússia para implantar o comunismo. Milhões de mortes depois, fora a opressão e a fome, ainda tem gente que acha que “deturparam Marx” e que o problema foram os líderes bolcheviques, não a utopia em si.

Em artigo publicado hoje no GLOBO, Daniel Aarão Reis faz uma “análise” justamente nessa linha, tentando salvar o socialismo da desgraça russa (e chinesa, e no Camboja, e em Cuba, e no Vietnã etc). Após enaltecer o “ideal democrático igualitário” do começo da revolução, ele lamenta que os bolcheviques tenham levado a coisa rumo a uma ditadura:

Neste conjunto de guerras, como sempre acontece nos conflitos bélicos, anularam-se as aspirações às liberdades e à democracia, em proveito de estruturas centralizadas, hierarquizadas, autoritárias. Instaurou-se a ditadura revolucionária, fazendo surgir um socialismo autoritário, imprevisto nas lutas e propostas igualitárias e democráticas do século XIX.

À autonomia e às liberdades das gentes sucedeu-se um Estado todo-poderoso, regulador, minucioso e liberticida, parecendo dar razão à melancólica frase de Albert Camus: “Todas as revoluções modernas contribuíram para o fortalecimento do Estado”. Isto, pelo menos, foi o que ocorreu com as revoluções socialistas do século XX. Estariam os socialistas de hoje condenados a reiterar sempre este destino?

Como um professor de história pode afirmar que tal destino foi “imprevisto” nas lutas “igualitárias e democráticas”, se o próprio Karl Marx, inspirador dessa turma, pregava a ditadura do proletariado? É tomar todos os leitores por estúpidos, achar que são todos como alguns de seus jovens alunos que devem ficar encantados com tais baboseiras em sala de aula. A ditadura era exatamente o plano!

O autor termina com uma pergunta, cujo intuito claro é tentar blindar o socialismo da desgraça bolchevique. Por que ele não menciona a Venezuela, cujo “socialismo do século XXI” uma vez mais levou, pasmem!, ao mesmo destino? A resposta é evidente para quem pensa: sim, os socialistas de hoje, como os de ontem, estão condenados a reiterar sempre este destino terrível, pois o socialismo leva inexoravelmente a ele!

Quando Trump disse que o socialismo não foi desvirtuado, mas sim perfeitamente aplicado na Venezuela, ele estava certo. O historiador Richard Pipes, um historiador sério, diz exatamente isso em seu livro sobre o comunismo: não foi uma ideia boa que deu errado; mas sim uma ideia ruim desde o começo.

O cerne da teoria comunista, conforme resumida por Marx e Engels no Manifesto Comunista, é a abolição da propriedade privada. A tentativa de adotar essa ideia leva, inevitavelmente, ao terror, miséria e escravidão. O ideal de uma Idade de Ouro sem propriedades é um mito. Como explica Pipes, “todas as criaturas vivas, das mais primitivas às mais avançadas, para sobreviver, devem ter o acesso ao alimento garantido e, para assegurar esse acesso, reivindicam a posse do território”.

Para Richard Pipes, a ideia básica do marxismo, de que a propriedade privada é um fenômeno histórico transitório, é completamente falsa. A propriedade privada, na verdade, é “uma característica permanente da vida social e, como tal, indestrutível”. A noção marxista de que a natureza humana é infinitamente maleável é igualmente falha. Essa realidade faz com que o regime comunista tenha sempre que apelar para a violência como meio rotineiro de governar.

Os comunistas esquecem que a abstração chamada “Estado” é composta por indivíduos que também seguem seus interesses particulares. O comunismo sempre evolui, portanto, para a criação de uma nomenklatura poderosa, uma casta privilegiada que coloca fim ao ideal de igualdade presente no comunismo. Como Pipes explica, “a contradição entre fins e meios está inserida no comunismo e em todo país em que o Estado é o dono dos bens de produção”.

Infelizmente, muitos “formadores de opinião” ainda insistem nas ilusões “igualitárias” do comunismo. E não pensem ser exclusividade nossa. Se o Globo fez várias reportagens atenuando o terror soviético, o mesmo foi feito pelo NYT, como mostra Bruce Thornton no Frontpage Magazine. É um esforço para, de alguma forma, reabilitar o socialismo como ideologia, separando-o dos “equívocos” soviéticos. Ele conclui:

Hoje, esse carinho não parece ter a intensidade religiosa dos primeiros convertidos comunistas. Mas a persistência da apologética comunista transformou a admiração tão indecorosa pelo maior assassino da história em uma marca de status e moda para o comunista caviar, radical chique. Esses “idiotas úteis” 2.0 existem porque a admiração pelo comunismo se alastrou profundamente pela alta cultura, a cultura popular e as universidades. Portanto, não é nenhuma surpresa que um grande número de millennials prefiram o socialismo – a meio caminho do comunismo – ao capitalismo, e um terço pensa que George W. Bush matou mais pessoas do que Stalin. Obviamente, a emoção de ser “subversivo”, a ignorância histórica e a flacidez moral também explicam essa misteriosa atração por uma ideologia do assassínio e da tirania por parte daqueles que se consideram intelectuais sofisticados.

Cem anos depois que o comunismo surgiu no cenário mundial, ele sobreviveu ao colapso de seu patrocinador estatal mais letal, a União Soviética e, de forma modificada, vive em regimes totalitários como a China e nos partidos políticos em toda a Europa. A série no Times nos lembra que as teorias desacreditadas e o fascínio do maior inimigo da liberdade ainda devem ser atacados e ridiculizados.

Thornton está certo, claro. Quem tenta ridicularizar não o comunista, mas o anticomunista, como se fosse um paranoico preso nos tempos de Guerra Fria vendo fantasmas, pode nem saber, mas está agindo como um idiota útil dos comunistas. O comunismo não morreu, e basta uma rápida passada de olho na mídia mainstream para verificar isso.

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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Presidente do Conselho do Instituto Liberal e membro-fundador do Instituto Millenium (IMIL). Rodrigo Constantino atua no setor financeiro desde 1997. Formado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), com MBA de Finanças pelo IBMEC. Constantino foi colunista da Veja e é colunista de importantes meios de comunicação brasileiros como os jornais “Valor Econômico” e “O Globo”. Conquistou o Prêmio Libertas no XXII Fórum da Liberdade, realizado em 2009. Tem vários livros publicados, entre eles: "Privatize Já!" e "Esquerda Caviar".

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