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Restrições às exportações de chips: o governo americano não leu Bastiat

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Praticamente todos os aspectos da vida moderna dependem dos recursos de processamento e memória de chips de computador e semicondutores. Dispositivos eletrônicos, consoles de jogos, carros, televisões, eletrodomésticos, equipamentos militares e equipamentos médicos precisam dessas minúsculas pecinhas de silício para funcionar.

Sabendo disso, os EUA concentraram esforços nesse bem essencial como forma de pressionar a China economicamente à medida que as tensões de mercado entre ambas as superpotências aumentam. No entanto, as medidas americanas prejudicarão os consumidores e as próprias empresas do país. Os preços das ações das empresas americanas Intel, Micron, Nvidia, AMD, Applied Materials e LamResearch caíram entre 50% e 70% em relação às máximas de 2021. Esse cenário pode ainda ser pior com o surgimento de mais restrições comerciais conforme a guerra dos chips esquenta.

Em outubro de 2022, o Departamento de Comércio dos EUA ampliou os requisitos de licenciamento para exportações de semicondutores. A nova política abrange todas as remessas relacionadas à indústria de chips para a China. A intenção é a de dificultar o acesso do gigante asiático a importações estrangeiras como forma de atrasar a indústria chinesa.

Entretanto, como Frédéric Bastiat já nos ensinou, é preciso que olhemos para além dos efeitos imediatos de medidas econômicas. O famoso economista francês afirmou que um simples ato não gera somente um efeito, sendo o primeiro apenas o imediato, visível. Os demais aparecem depois, invisíveis num primeiro momento. Ocorre que, quase sempre, quando a consequência imediata é proveitosa, as posteriores são nocivas e vice-versa.

Assim, ao analisarmos mais criteriosamente as decisões tomadas pelos EUA, é possível notar que as novas regulamentações trarão desdobramentos ainda mais amargos para a indústria americana. Willy Shih, professor especializado em tecnologia da Harvard Business School, descreve esse tipo de controle de exportação como “um instrumento um tanto contundente”, observando que cortar da China a capacidade de fabricar chips de ponta pode empurrar empresas de lá a recorrer à produção de mais chips de baixo custo, o que, por sua vez, reduziria os preços para esse segmento do mercado e tornaria a competição mais difícil para as fábricas americanas. Vale dizer que esses chips menos avançados, apesar de comumente usados ​​em dispositivos mais simples, também integram automóveis e alguns equipamentos militares.

Em resposta às restrições do governo de Joe Biden contra o comércio e a cooperação com a China, a fabricante de chips chinesa YangtzeMemory Technologies Corp. demitiu funcionários americanos em cargos de tecnologia, em um esforço de “desamericanização” das equipes. As consequências, todavia, ultrapassam as tratativas dos países diretamente envolvidos, já que a nova política concede às empresas não americanas com unidades operacionais na China um período de carência de um ano para adaptação às regras, gerando uma enorme dúvida quanto às perspectivas de seus laços com o mercado chinês. A sul-coreana SK Hynix, por exemplo, avalia vender sua enorme unidade em Wuxi. Em outras palavras, as medidas dos EUA ainda colocam um grande fardo na economia de um país amigo, com o qual mantém, por enquanto, boas relações comerciais.

As novas determinações de mercado serão um tiro pela culatra, a medida em que criam escassez, não abundância. Consumidores verão menos opções entre produtos que usam chips de silício e as empresas sofrerão uma queda na produção de bens que elevaram tanto o padrão geral de vida das pessoas. Bastiat estava certo: é preciso enxergar para além das aparências que uma vantagem momentânea pode propiciar.

 

– Juliana Bravo é colaboradora no Instituto Líderes do Amanhã. 

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