O que você precisa saber sobre Eugênio Gudin
Como estadista, ocupou cargos de grande importância. Dou destaque ao de representante da equipe brasileira na convenção de Bretton Woods, que definiu os rumos da economia global após a Segunda Guerra Mundial, e ao cargo de ministro da fazenda do Brasil por um curto período no governo Café Filho. Em toda a sua carreira pública, atuou em dissonância às políticas de planejamento central de cunho intervencionista propostas pela CEPAL, um organismo regional de estudos econômicos criado pela ONU, onde surgiram as primeiras teses estruturalistas, que dominavam o debate econômico da América Latina na época, chegando até mesmo a declarar que: “Essas teses, da relação de trocas perversas, propostas pelo estruturalismo cepalista, já não merecem mais a atenção dos economistas”.
Como todo intelectual, Gudin também teve sua coletânea de polêmicas. Na principal delas, ele bateu de frente com o gigante da indústria paulista Roberto Simonsen, que levava consigo ideais semelhantes àqueles da CEPAL. Naquela ocasião, Gudin reforçou sua visão de que não bastava jorrar subsídios nas indústrias com nossa abissal produtividade e péssimos índices educacionais, o que gerou a discussão sobre a controvérsia do desenvolvimento e sobre o caminho que o Brasil deveria seguir para alcançá-lo. Apesar de vencer a batalha na academia, Gudin perdeu o front da opinião pública e acabou por ver suas ideias serem preteridas aos ideais cepalistas que dominaram as políticas públicas do país por décadas a fio. Outra grande polêmica em que se envolveu estava ligada à sua suposta descrença na democracia. É amplamente conhecida sua opinião de que: “Não teremos um país amplamente democrático e desenvolvido na América Latina enquanto não melhorarmos os índices educacionais do continente”. Tal opinião demonstra sua preocupação com a educação e seu impacto no desenvolvimento, posicionamento incomum em uma época onde a grande preocupação dos economistas era a formulação de políticas meramente industriais, sem considerar os impactos dos baixos índices educacionais. Esse pequeno detalhe, ignorado pela vasta maioria de nossos economistas, foi lembrado pelos sul-coreanos, que hoje já estão anos-luz à frente de nós em praticamente todos os indicadores.
Gudin faleceu em 24 de outubro de 1986, alguns meses após completar seu centésimo aniversário, o que lhe rendeu o apelido de “O Homem Centenário”. Ele faleceu sem ver se concretizarem seus principais objetivos: o de ver o Brasil vencer o subdesenvolvimento e a pobreza e de assistir à transição do país de volta ao regime democrático. O Brasil foi a amante que Gudin mais amou, aquela pela qual ele mais lutou e para qual ele dedicou grande parte de sua vida, mas também, para sua infelicidade, foi àquela que mais o traiu e mais o negligenciou. Hoje pagamos o preço desta negligência.
Apesar de não estar mais entre nós, os ideais que Gudin trouxe ao debate econômico sobreviveram e mostraram-se, em grande parte, corretos, evidenciando que, mesmo após tanto tempo, o futuro, de fato, lhe deu razão. Nós deixamos aqui nossa homenagem a essa grande figura do liberalismo nacional, que completaria 135 anos e que é pouco lembrada, apesar de sua grande importância.
*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.
Fontes:
A Lanterna na Popa – Roberto Campos
Reflexões e Comentários 1970 – 1978 – Eugênio Gudin
Eugenio Gudin Inventário de Flores e Espinhos – Marcio Scalercio e Rodrigo de Almeida
Ortodoxia e liberalismo no Brasil contemporâneo – Raphael Castro Martins e Ivan Colangelo Salomão