O luxo de ser socialista (com o dinheiro dos outros)
Eles proclamam o socialismo e criticam ferozmente o capitalismo. Porém, não abrem mão das vantagens e privilégios que o mercado gera para poucos. Querem ser socialistas para os outros e capitalistas para si mesmos. Condenam os empresários, mas desejam usufruir das oportunidades e do conforto criados por eles. Repudiam a lógica do lucro, mas querem se beneficiar do sistema que o produz.
O problema não está na defesa de ideais generosos de justiça, igualdade, empatia. O problema está em quem os defende. Quando o ideal vira performance, quando a moral se transforma em estética de grupo, quando o compromisso vira apenas um post. A etiqueta vale mais que o conteúdo da garrafa. O que importa é parecer do bem, jamais sê-lo.
Essa esquerda do TikTok, das redações militantes e dos podcasts cheios de afetação se acostumou a viver de palavras e afetos calculados. Não quer mudar o mundo, mas quer o prestígio de parecer revolucionária. Sua militância cabe num feed. Sua consciência social se limita a vídeos com filtro e camisetas com frases prontas, como aos costumes.
Médicos, psicanalistas e especialistas que lidam diariamente com a degradação moral e humana alertam que, quanto mais o indivíduo se afasta da realidade, mais ele tende a odiar. O progressismo virou um refúgio contra o real. Um palco onde se pode acusar, gritar, lacrar, entretanto, jamais construir, entender, dialogar.
Criticam o mercado, mas não largam o iPhone. Denunciam o lucro, mas querem salários generosos. Odeiam o empreendedorismo, mas sonham em ser influencers ou abrir uma cafeteria hipster. Não querem risco elevado, querem reconhecimento. Só o aplauso fácil por parecerem engajados.
Nas cátedras digitais e nas redações catequizadoras, qualquer um que aponta essa contradição é logo tachado de extrema-direita, de conservador retrógrado, ou acusado de defender o “autoritarismo do lucro”. Enquanto isso, quase nunca se ouve o termo que nomeia a origem dessa verdadeira seita contemporânea, ou seja, a extrema esquerda. A devoção ao Estado-pai, o ódio à liberdade do indivíduo, o desprezo pela excelência como valor. Tudo isso raramente é chamado pelo nome. Porque essa esquerda pós-moderna se tornou uma religião. Uma religião sem Deus, mas com santos, tabus, pecados e, claro, hereges.
Como toda religião degenerada, ela persegue os infiéis, os inimigos da boca para fora. São os liberais, os que ousam empreender, os que não pedem desculpas por prosperar, os que não usam a culpa como norte existencial. Mas talvez o maior problema dessa nova fé seja o fato de que ela não pretende ajudar os pobres. Evidente que não. Querem apenas usá-los como cenário moral para justificar sua superioridade simbólica.
A verdade, que grita por trás dos discursos afetados e das análises sociológicas de bar de esquina, é que esse progressismo é a fantasia do ressentimento. Uma fantasia com estética de revolução e essência de privilégio. Seu maior sonho não é transformar a realidade, mas ser aplaudido por parecer do bem.
São contra o sistema, desde que possam gozar das benesses do sistema. Contra o lucro, desde que não lhes falte conforto. Contra a opressão, desde que nunca precisem renunciar ao palco. Querem que os outros façam sacrifícios em nome da justiça — eles, apenas likes.
Socialistas de boutique, revolucionários de tela retina. Pior, bem pior. Acima de tudo, inimigos da liberdade, da responsabilidade e da verdade.