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O financiamento do BNDES para a Riachuelo e o liberalismo de Flavio Rocha

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A discussão que envolve os aspectos morais relacionados com o mega-financiamento concedido pelo BNDES para a Riachuelo, não é a primeira, nem será a última. Sempre haverá esse debate controverso quando temos de um lado o governo que espolia e empresários que, se também são espoliados por um lado, são beneficiados de certa maneira por outro.

Fica ainda mais interessante e explosiva essa contenda quando o empresário em voga, veste-se de ativista político para lançar um movimento em defesa da livre iniciativa, da propriedade privada e do livre mercado, prescrevendo entre outras coisas mais, a diminuição do estado e a redução de sua interferência na economia. Sim, isso se mostra deveras controverso. Como dar crédito à convicção do empresário se e quando na prática, ele toma um empréstimo do governo na casa do 1,4 bilhão de reais, carregado de privilégios.

Muito já se falou que no debate ideológico qualquer um pode dizer o que pensa. Porém, quando confrontado por situações extremas demandadas pela realidade do mercado, cujo grau de intervenção governamental ameaça a existência de empresas a todo momento por menores que sejam seus erros, a postura passa a ser outra quando a convicção das idéias cede espaço à conveniência imediata. Uns defendem que a subsistência da empresa não pode estar submetida à questão ética, ainda mais onde a ética já pereceu por conta do intenso envolvendo do governo naquilo que caberia apenas à sociedade. Outros dizem que não se pode ter dois pesos e duas medidas: sendo que com um peso e uma medida se critica os outros e com outro peso e outra medida se pratica aquilo que se condena para os demais, principalmente se forem concorrentes.

Muito se pode discutir sobre isso, polarizando ou moderando entendimentos. Pois eu gostaria de abordar esse assunto sob outro enfoque, culminado ao final das minhas considerações com duas perguntas que entendo cabem ser feitas no presente caso.

No romance filosófico A Revolta de Atlas de Ayn Rand temos três personagens que personificam atitudes totalmente diferentes perante uma mesma circunstância. Dois deles são os irmãos Dagny e Jimmy Taggard, herdeiros de uma companhia ferroviária que lutam para mantê-la viva num mundo que se dirige ao iminente colapso, dado o elevado grau de intervencionismo estatal. O terceiro personagem é John Galt, que tempos antes, abdicou de tudo o que tinha e entrou em greve com outros empreendedores geniais como ele, com o objetivo de levar o sistema à destruição total.

Dagny tenta manter a empresa buscando melhorá-la de todas as formas através da sua competência e racionalidade, numa luta cujo sucesso se mostrava cada vez mais distante pela opressão exercida pelo governo que, a cada avanço da empresa, intensifica a regulação e a taxação sobre os agentes econômicos que ainda se arriscavam a operar no mercado. Nitidamente, Dagny trabalhava como uma escrava do governo, sacrificando seu talento, seu trabalho, sua vida para servir os parasitas que tomaram conta do estado.

Jimmy, seu irmão, por outro lado, se comporta como os políticos parasitas a quem adulava e corrompia enquanto orbitava a seu redor, tentava a todo custo obter privilégios para ver a sua empresa preservada, fazendo acordos espúrios com os governantes, à revelia do conhecimento ou da aprovação de sua irmã, que o condenava por ser incapaz de criar valor mesmo tendo herdado como ela a ferrovia.

Podemos dizer que ambos pensavam e agiam de formas diferentes para alcançarem o mesmo propósito, incorporando também de maneira diversa a mesma ética altruísta. Dagny se sacrificava porque era uma idealista, vivia uma ilusão, agia motivada pelo sentimento que nutria pela empresa, pelos compromissos que assumira com seus colaboradores e seus clientes, sem se importar que todo aquele esforço não atiraria da situação falimentar que não apenas se agravava, como servia apenas para atender as demandas do governo. Jimmy, por outro lado era um pragmático, no sentido filosófico do termo. Não tinha nenhum pudor de sacrificar qualquer um que pudesse alimentar seus privilégios, fosse diretamente ou através da intermediação coercitiva do governo. Vivia para agradar os políticos para ser econhecido como um homem poderoso, mesmo que isso prejudicasse o esforço que sua irmã fazia para manter o negócio de ambos.

Se juntarmos Dagny e Jimmy, poderemos ver a dupla personalidade de muitos empresários que, se de um lado tentam manter suas empresas ativas dedicando-se genuinamente para preservar sua capacidade competitiva de forma legítima, por outro lado acabam sucumbindo às pressões da realidade e recorrendo ao governo para verem sua situação de penúria aliviada.

Por fim, surge John Galt que para manter a ética de forma incorruptivel, possível apenas quando o discurso e a ação coincidem coerentemente, declara-se um egoísta racional, incapaz de se submeter ao sacrifício pelo capricho de manter o seu negócio que sustenta parasitas, e tampouco de sacrificar os outros, recusando-se a obter privilégios e ganhos imerecidos.

As perguntas que eu deixo para vocês são:

Vocès acham que Flavio Rocha, da Riachuelo, está mais para a admirável Dagny, heroína da trama, ou estaria ele mais para Jimmy Taggard, o corporativista de plantão?

Estaria Flávio Rocha consciente o suficiente para responder, quem é John Galt?

A palavra está com vocês.

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Roberto Rachewsky

Roberto Rachewsky

Empresário e articulista.

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