O ativismo nuclear de Michael Shellenberger

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Michael Shellenberger ficou nacionalmente conhecido em nosso país pela publicação dos Twitter Files Brasil; porém, o que vocês provavelmente não sabem é que Shellenberger é um grande ativista em favor das usinas nucleares. Assim, neste artigo, pretendo tratar da relação do polêmico jornalista americano com o tema.

Shellenberger nasceu em 1971 em uma família de hippies com raízes menonitas (cristãos pacifistas) e, entre as tradições familiares, estava a de acender velas no mês de agosto em memória aos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki. Ao entrar na vida adulta, ele se torna um ativista anti-nuclear (sim, virá um plot-twist em breve) e a favor de energias renováveis, iniciando um sindicato chamado “Apollo Alliance”, cujo objetivo era contribuir para a descarbonização da matriz energética americana.

Com a chegada de Barack Obama à Casa Branca, a Apollo consegue um aliado de peso. O ex-presidente americano gostou da ideia e investiu cerca de 150 bilhões de dólares em tal agenda. Porém, no processo, Shellenberger começou a notar alguns problemas com a política. As usinas solares e eólicas não produzem energia o tempo todo – sem sol e sem vento, elas não conseguem gerar e, para piorar, não possuímos baterias economicamente viáveis para que consigamos armazenar eletricidade nas “vacas magras”.

Em outras palavras, os modais solar e eólico são muito dependentes das condições climáticas. Em 2016, por exemplo, a Alemanha aumentou em 4% a quantidade de painéis solares instalados, mas produziu 3% menos energia vinda do sol. Motivo? Simplesmente, houve mais dias nublados em 16 no país de Merkel do que em 15. Talvez a energia eólica compensaria, certo? Errado. Naquele mesmo ano, os alemães aumentaram em 11% seus parques eólicos, mas a energia vinda de tal fonte reduziu-se em 2%.

Estariam então os países europeus fadados a poluírem bastante? Afinal de contas, nenhum deles tem um litoral (onde venta muito) do tamanho do brasileiro ou uma incidência solar como a nossa. Para Shellenberger, a resposta é “não”, e ele chegou a tal conclusão olhando a França. 93% da energia francesa vem de fontes limpas, frente a menos da metade das alemãs, e, para piorar, os franceses pagam quase a metade do preço do kw/h que seus pares do outro lado do Reno.

A explicação para tal fenômeno é simples: a França manteve seus reatores nucleares, enquanto a Alemanha desligou quase todos. Mas em relação à saúde e segurança das pessoas, vale a pena desligar as usinas nucleares? Para Shellenberger, a resposta é não – especialmente se levarmos em conta que a alternativa são os combustíveis fósseis. De acordo com a ONU, 7 milhões de pessoas morrem todos os anos devido à poluição atmosférica, e, para critério de comparação, o pior acidente nuclear já vivido pela humanidade – Chernobyl – vitimou menos de 200 pessoas.

Assim, em sua luta contra as mudanças climáticas, Shellenberger encontrou um aliado inusitado: a energia nuclear. Claro que as fontes renováveis são importantes e devem ser utilizadas, mas elas têm um problema que a atômica não tem: intermitência. Ao observar que o grande problema que as usinas nucleares possuem é o preconceito, o jornalista passou anos como um ativista em defesa do modal, utilizando-se de palestras, artigos e lobby na causa. Shellenberger também organizou protestos contra o fechamento de usinas nucleares nos EUA – merecendo destaque a de “Diablo Canyon Nuclear Plant” , que foi salva graças ao seu ativismo.

Se hoje a energia nuclear está voltando a ter protagonismo (isso será o assunto de um próximo artigo), isso se deve em grande parte ao seu trabalho. Termino o texto com um desejo: que Shellenberger tenha tanto sucesso em sua luta pela liberdade de expressão quanto está tendo no campo energético.

Fontes: 

https://www.euronews.com/next/2023/03/29/energy-crisis-in-europe-which-countries-have-the-cheapest-and-most-expensive-electricity-a 

https://twitter.com/shellenberger/status/1558271813972549632?s=20&t=tuQta65hmbVVnL2PPN80Hg 

https://www.politico.com/newsletters/the-long-game/2022/06/08/the-environmental-apostate-who-backed-nuclear-before-it-was-cool-00038048 

https://public.substack.com/p/how-we-saved-diablo-canyon-nuclear 

https://www.youtube.com/watch?v=ciStnd9Y2ak 

https://www.youtube.com/watch?v=N-yALPEpV4w 

*Conrado Abreu é formado pela UFMG e ex-aluno de mestrado da Fundação Dom Cabral. É um dos fundadores da MaxMilhas e atualmente trabalha no ramo de energia. Administra a página no X (ex-Twitter) @azpowerenergia onde publica notícias, informações e opiniões sobre o setor energético.

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