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Os problemas da busca pela igualdade (primeira parte)

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Frases como “sou a favor do livre comércio”, “sou a favor da livre iniciativa”, o que significam? Seriam apenas brados em prol daqueles que têm condições de possuírem essa liberdade e essa iniciativa? Livre mercado para quem?

No livre mercado, os donos do poder já teriam uma grande vantagem em mãos. Seriam ricos e ficariam ainda mais ricos, afogando a concorrência e criando monopólios e meios de controle da produção e, portanto, controlariam seus consumidores. Eis a visão escura do livre comércio. A liberdade econômica não seria nada além de já favorecer os favorecidos e aumentar o controle que esses têm na sociedade. O livre comércio e a livre iniciativa só trariam mais desigualdade social.

Essas indagações são comuns em meios universitários e na política geral. Para quê propor e defender um cenário onde o livre mercado reina se, enfim, este mesmo cenário trará mazelas? Tais questionamentos são sedutores. Apresentam um problema, apontam as causas, mostram os culpados, criam, desde já, um parecer moral e uma noção de justiça – e tudo isso apenas com perguntas preliminares, sem muitos desenvolvimentos sendo necessários.

O que devemos entender é exatamente essa tentação, essa sedução. Perguntas como essa atiçam aqueles que as escutam por conta de seu poder e da força de sua simplicidade. Antes de tudo, é preciso se centrar no núcleo problemático das questões, ou seja, é preciso mirar no seu alicerce principal, que é justamente o ponto da igualdade. Reclamar “para quem” essa liberdade econômica vai trazer vantagens é uma atitude motorizada por um viés igualitário. Esse questionamento, antes de tudo, pressupõe que a equidade é algo bom e que deve ser querido pela sociedade.

A igualdade não apenas seria uma meta, mas algo justo. O parâmetro para uma justiça social é a igualdade que uma sociedade terá, com relação aos seus membros e grupos. Sem esse valor, todos esses questionamentos perderiam seus lastros e flutuariam de modo incerto e perigoso.
As críticas necessárias para essas perguntas são:

I – É possível ter esse nível de igualdade?
II – Como a igualdade opera?
III – Se for uma busca pela igualdade, essa busca deve ser para quem?

I – A primeira crítica consiste em demonstrar ao nosso questionador a falta de contato que possui com a realidade simples. O que é a “igualdade”? É claro que estaríamos falando em igualdade de oportunidades e de uma igualdade social, não de uma luta total pela igualdade absoluta, porém, mesmo sem serem absolutistas na busca pela equidade social, essa batalha por um mundo mais justo demanda, como consequência, uma igualdade absoluta.

As desigualdades existentes em qualquer sociedade, por mais discrepantes que sejam, provém de uma disparidade natural. Todos os seres, incluindo os inanimados, são desiguais por natureza. Nenhum átomo é igual ao outro, apenas semelhante. Qualquer indivíduo só é um indivíduo porque é único, não igual – e essa regra vale para cada partícula do universo, ou seja, do Homem às estrelas, destas aos neutrinos, dos neutrinos aos peixes e as bactérias, e por aí vai… Nosso mundo é naturalmente composto pela desigualdade.

O desigual não “nos afeta”, mas faz parte de nossa existência. Nada mais natural do que a sociedade ser desigual, mas a humanidade não está sozinha nesse aspecto. Pensemos em matilhas, em grupos de outros primatas, em formigueiros, ou mesmo em florestas: vão existir indivíduos mais “ricos” do que outros. Existirá a matriarca, o macho alfa, a formiga operária, o pinheiro que é menos nutrido do que a árvore vizinha… nada fora do normal. Ao clamar por equidade na sociedade e denunciar, com questionamentos, “quem” irá ter essa liberdade, nosso questionador reclamão quer é mostrar que sua preciosa igualdade será rompida, contudo, ele não nota algo simples: a realidade é por si só desigual. Sempre haverá aqueles que irão ter vantagens sobre os outros. Sempre existirão os mais espertos, os mais fortes, os mais corajosos, os mais estúpidos e os mais cruéis.

O motivo pelo qual critica o livre mercado, enfim, não vale nada. Todo e qualquer regime ou sistema econômico estará à mercê dessa regra, pois todas as relações que o Homem pode ter serão relações entre desiguais.

II – Entretanto, como essa igualdade se opera na realidade? Se todos os seres são desiguais, como pode, então, a igualdade existir? Essa pergunta só pode ser respondida em termos metafísicos. Se apenas os indivíduos desiguais existirem, apenas as semelhanças sobrarão e, no fundo, não haverá uma base sólida (imutável) sequer para definir o que é o “humano”. As naturezas se esfacelariam e tudo seria caótico, mas sabemos que os fatos não são assim.

De qualquer modo, se a igualdade não pode existir nos indivíduos, ela existe na natureza destes. “Humanos”, por exemplo, são iguais por natureza – caso assim não fossem, seriam iguais às pedras, ou as plantas, do mesmo modo que são iguais entre si mesmos. Espécies e gêneros não teriam diferenças e tudo, enfim, seria inidentificável, pois não haveriam padrões fixos para nos escorar. A igualdade consiste na substância “Homem”, não nos indivíduos que compõem essa humanidade.

Assim, malgrado vivamos em uma desigualdade permanente entre os particulares que estão ao nosso redor, também vivemos em uma igualdade que nos define. Esta igualdade, no entanto, não pode ser o critério máximo do que é justo ou injusto em uma sociedade. Justiça é aquilo que precisa estar alinhado com a realidade. O mundo a nossa volta nos mostra que a desigualdade é necessária para nossa existência, então a igualdade em uma sociedade não pode ser buscada por uma luta pela equidade material ou de oportunidades, já que isso simplesmente não ocorrerá. Grupos e pessoas mais aptos para certas atividades sempre existirão, não importa o quanto se tente mudar isso. A igualdade que se deve buscar é a igualdade natural, ou seja, o fato de que, como Homens, devemos ser tratados como iguais em natureza, isto é, precisamos ter direitos naturais inalienáveis (como o direito a vida, por exemplo), mas nada além disso.

Em resumo: apesar de lutarem pela igualdade… seus paladinos críticos do livre mercado sequer sabem como ela se dá no mundo real.

III – Revertemos a pergunta: Igualdade para quem? Orwell já dizia que, dentro da fazenda da revolução dos bichos, certos animais eram mais iguais do que outros. É preciso se indagar se a luta pela igualdade não gerará, dentro de suas próprias entranhas e em suas consequências, desigualdades.

Se você leitor, for um daqueles que têm algo parecido com os questionamentos ao livre comércio que coloquei no começo do texto, me responda: você, como um lutador da igualdade, um sujeito que se importa e que age contra a desigualdade, é igual a alguém que não se importa nem um pouco com suas lutas e pautas?

O guerreiro da igualdade é igual a aqueles que se veem em cima do muro? É igual ao seu inimigo, ou seja, o inimigo da igualdade? Você quer ser tratado e se vê em pé de igualdade com quem defende a meritocracia, por exemplo? Dentro do seu ativismo, dos seus movimentos, aqueles que advogam contra seus ideais são tratados com igualdade e podem ir aos seus eventos expor suas ideias sem medo de represarias verbais ou físicas? Sabemos muito bem que não.

Essa impossibilidade existe por conta daquilo que foi demonstrado nas críticas I e II – a sociedade é naturalmente desigual. Grupos e movimentos sociais serão, apenas por existirem, desiguais. “Estar dentro e estar fora” de algum deles já é o suficiente para criar uma disparidade. Se o seu grupo conseguir alcançar sua meta pela igualdade e chegar ao poder, o próprio poder será uma desigualdade, dando mais direitos para aqueles que estão nele. Os que lutaram pela igualdade, mesmo os que não receberam poderes oficiais do Estado, não podem ser vistos como iguais para com aqueles que foram apáticos ou lutaram contra a igualdade. O prestígio que irão ter será o legado pelo histórico de vida daqueles que levantaram os punhos por uma causa que acreditam ser boa: por essa luta pelo “bem”, já não se verão e não serão vistos como iguais aos que não lutaram ou foram contrários a esse “bem”.

***

Como podemos ver, um pequeno aprofundamento é o suficiente para desmascarar essa crítica sedutora ao livre mercado. As paixões que esses críticos evocam nublam a mente, trazem a tona sentimentos de indignação e revolta e a vontade de mudar o mundo.

Mas o mundo não foi feito para ser mudado assim. Nós obedecemos a realidade, não o oposto. Querer estar acima do real, não atoa, causou as maiores ditaduras que o mundo já viu.

Uma vez que a revolução se enxerga e vê que, nunca, os problemas basilares que criticava vão deixar de existir, ela converte tudo em seu inimigo e, com mais intensidade, promove a desigualdade.

A segunda parte desse texto tratará das questões históricas desse problema.

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Hiago Rebello

Hiago Rebello

Graduado e Mestrando em História pela Universidade Federal Fluminense.

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