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Inflação, aumento de preços e a política econômica

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O aumento dos preços das commodities tem vários caminhos para chegar à inflação. Um deles, o mais óbvio, é que bens primários, especialmente alimentos e petróleo, ficam mais caros e jogam os preços para cima. Outro efeito é que, como o Brasil é exportador de commodities, entram mais dólares no país para a mesma quantidade exportada. Com mais dólares no país, o preço do dólar cai e isso joga a inflação para baixo.

Algumas questões quantitativas seguem da constatação qualitativa acima. Qual o efeito do aumento de preços dos alimentos (e outros diretamente ligados a commodities) na inflação como um todo? Qual o efeito da queda do valor do dólar, se ocorrer, na inflação? Qual o efeito do aumento da entrada de dólares no câmbio?

Perguntas como essas são respondidas pelos econometristas, mas têm algumas pegadinhas. Considere, por exemplo, a última das perguntas. A resposta dela depende muito da política econômica em vigor. Se a política econômica tem como foco o controle da inflação, o Banco Central não vai se incomodar com a valorização do real; pelo contrário, pode até gostar, na medida em que essa desvalorização ajuda o trabalho dele. Esse Banco Central pode até elevar juros para combater o efeito direto na inflação, o que chamei de mais óbvio, o que tende a reforçar a valorização do real. Foi mais ou menos assim que funcionou no governo Lula, quando o Banco Central comandado por Meirelles tinha foco no controle da inflação. Isso ajuda a explicar porque o boom das commodities daquela época não fez a inflação sair de controle.

Caso o Banco Central tenha outros objetivos que não o controle da inflação, talvez reduzir juros para ajudar um ajuste fiscal ou desvalorizar o real para ajudar a indústria local, é possível que ele perceba a entrada de dólares como oportunidade de reduzir juros com efeito amortecido no preço do dólar. É uma operação delicada: qualquer erro pode mandar o preço do dólar lá para cima. Fica pior: se nos governos anteriores a política era de foco no controle da inflação, não existem dados suficientes para estimar como será o comportamento do câmbio e da inflação com essa nova política. É uma manobra difícil feita sem instrumentos adequados.

Por essas e outras que qualquer avaliação do comportamento dos juros, câmbio e inflação tem que considerar mudanças na política econômica. Quem não fizer isso corre o risco de não ver chegar uma inflação de quase 10%. Também por isso insisto em dizer que a mudança de política econômica, o tal dos juros baixos e câmbio desvalorizado, capitaneada por Paulo Guedes com a cumplicidade do Banco Central é a grande responsável pelo tamanho da inflação.

Que a pandemia e a resposta à pandemia levariam a inflação mais alta era quase certo (espanta-me que alguém acreditasse que a inflação deste ano seria menor que a do ano passado), mas, sem a mudança na política econômica, duvido muito que a inflação teria chegado tão alto.

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Roberto Ellery

Roberto Ellery

Roberto Ellery, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), participa de debate sobre as formas de alterar o atual quadro de baixa taxa de investimento agregado no país e os efeitos em longo prazo das políticas de investimento.

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