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Catástrofes naturais são sempre nocivas. Ou: como o governo pode piorar o que já é ruim

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Ao contrário do que pregam alguns imbecis e outros tantos oportunistas, furacões estão muito longe de representarem bênçãos econômicas para a sociedade. Em termos religiosos, filosóficos, sociológicos ou psicológicos, pode até fazer algum sentido interpretar uma tragédia como algo positivo. Alguma coisa como Deus escrevendo certo por linhas tortas. Porém, em termos econômicos, isso é loucura, um completo nonsense.

As perdas causadas por furacões, terremotos, maremotos, incêndios, atentados terroristas e outras calamidades são desgraças penosas, que obviamente deixam a sociedade mais pobre. Vastas somas de recursos terão de ser gastas para reparar e reconstruir cidades inteiras, mas a sociedade sempre acabará mais pobre depois da destruição causada por um furacão ou qualquer outro desastre. Como ensinou Bastiat, cada dólar gasto em limpeza, recuperação do que foi danificado ou reconstrução do que foi perdido, é um dólar que poderia ter sido usado para ampliar o estoque de riqueza, seja de uma família, de uma cidade ou de uma nação inteira. Para não falar do imenso sofrimento humano causado por tais tragédias.

Se você tivesse a sua casa destruída durante um furacão, posso apostar que você jamais iria comemorar, ainda que o imóvel estivesse totalmente segurado. Claro, empresas de construção e seus empregados, bem como fabricantes e comerciantes de materiais de construção terão algum ganho imediato, mas este ganho não supera as perdas. Muito menos a economia como um todo ficará melhor, pois os recursos que serão necessários para refazer a sua casa são recursos que, não fosse a emergência causada pelo furacão, poderiam ter sido direcionados para ampliar o estoque de capital da sociedade. Em outras palavras, apesar de toda a movimentação econômica para a reconstrução, o estoque de ativos da sociedade, no limite ideal, permanecerá o mesmo de antes da passagem do furacão, mas os recursos disponíveis para novos investimentos terão sido todos consumidos.

Além de todos os sofrimentos, a reconstrução é algo sempre muito difícil, pois a economia dos locais atingidos sai completamente da sua rotina. Da noite para o dia, recursos e insumos em quantidades totalmente fora dos padrões habituais terão de ser desviados para aquela região, fazendo com que os preços subam na mesma proporção da urgência.

Para “complicar” a equação, a economia norte-americana encontra-se atualmente com uma taxa de desemprego bastante baixa (perto de 4%), um nível considerado próximo do pleno emprego. Ao mesmo tempo, os trabalhos de reconstrução demandarão quantidades enormes de mão de obra braçal ou pouco qualificada para os serviços de limpeza e construção civil, serviços estes que, tradicionalmente, não interessam à grande maioria dos americanos nativos.

Diz a boa teoria econômica que uma política eficiente, nesse caso, seria a abertura da fronteira com o México e países do Caribe, mesmo que temporariamente, a fim de aumentar a oferta de mão-de-obra pouco qualificada e evitar que os salários subam muito, não apenas nas zonas atingidas, como em todo território, já que o súbito aumento do preço desses serviços no Texas e na Flórida certamente refletir-se-ia em outros lugares.

Depois da passagem do Katrina pela Luisiana, em 2005, por exemplo, o afluxo de imigrantes mexicanos para ajudar na reconstrução foi importantíssimo, não apenas em termos de força de trabalho, mas também para manter os preços dos salários em níveis razoáveis. Será que Trump e sua turma agirão com bom senso, ou será que tornarão a vida das vítimas dos recentes furacões ainda piores, por causa de sua teimosia?

Outra boa política que poderia aliviar um pouco a demanda por recursos escassos e, consequentemente, a subida dos preços seria a revogação da sobretaxa de 20% nas importações de madeira para construção do Canadá, determinada por Trump em abril, depois de uma rusga pública com o presidente daquele país.

Por certo, o aumento abrupto da demanda por causa dos furacões traria para os EUA a madeira canadense e aumentaria os preços de qualquer maneira, já que a produção local dificilmente conseguiria satisfazer o consumo. Mas graças às tarifas, esse aumento de preços será feito a partir de uma base artificialmente inflada. É claro que, mais uma vez, os mais sacrificados serão os mais necessitados. O ideal, evidentemente, seria revogar aquela sobretaxa, mas, pergunto outra vez, será que Trump deixará sua teimosia de lado, em favor da lógica econômica e, principalmente, dos desalojados da Flórida e do Texas?

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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