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A visão de Hayek sobre o progressismo

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Não é incomum ouvirmos o termo “polarização política” no cenário brasileiro. A expressão, que, no passado, fora utilizada em nosso país para expressar o embate político entre o estatismo (representado pelo Partido dos Trabalhadores) e a social-democracia (PSDB), nos últimos anos, tem ganhado as manchetes no confronto entre visões mais ligadas ao esquerdismo e ao conservadorismo.

Muitas visões de progressismo têm sido divulgadas, e o assunto avançou de forma rápida nas pautas de jornais e da televisão. Dessa forma, passaram a se tornar frequentes termos como “progressista liberal” e “conservador progressista”, muitas vezes utilizados como expressões vazias e sem sentido.

Com o objetivo de elucidar o arcabouço da visão liberal sobre o movimento progressista, o presente artigo traz o ponto de vista de um dos maiores expoentes da Escola Austríaca, Friedrich Hayek, apresentado no livro Os Erros Fatais do Socialismo.

1. A Origem do Pensamento – No movimento progressista, a evolução humana está associada ao progresso técnico e científico, e não a uma seleção natural de costumes e boas práticas. Filósofos, como Marx e Augusto Comte, argumentaram que nossas pesquisas podem levar a leis evolutivas que nos permitam prever desenvolvimentos futuros inevitáveis. Estavam enganados.

2. O Descarte às Tradições – Essa forma de racionalismo, que teve grande influência de René Descartes, não apenas descarta a tradição, mas afirma que a razão pura serve aos nossos desejos diretamente, sem nenhum tipo de intermediário, e pode construir um novo mundo, moralidade, direito e uma língua purificada. Apesar de falsa, essa teoria ainda domina o pensamento da maioria dos cientistas, assim como dos literatos, dos artistas e dos intelectuais.

3. Ressignificação da liberdade – Jean Jacques Rousseau provocou uma embriagante fermentação de ideias, que veio a dominar o “progressismo” e fez com que as pessoas se esquecessem de que a liberdade como instituição política não se originara nos seres humanos “lutando pela liberdade” no sentido de isenção de restrições, mas de pessoas lutando pela defesa de uma esfera individual confiável reconhecida. Como afirmou Confúcio: “Quando as palavras perdem o significado, as pessoas perdem a liberdade”.

4. Cunho do Termo “Sociedade” – É importante lembrar que devemos, em especial, a Marx o emprego de “sociedade” ao invés de Estado ou organização coercitiva, que é o que na realidade está se falando. Para a mente ingênua que só consegue conceber a ordem como produto de um arranjo deliberado, pode parecer absurdo que, em condições complexas, ela, e a adaptação ao desconhecido, possa ser alcançada com mais eficácia pela descentralização das decisões e que a divisão de autoridade de fato amplie a economia de mercado. Contudo, essa descentralização de fato faz com que mais informações sejam consideradas. Essa é a principal razão para rejeitar os requisitos do racionalismo construtivista.

5. Razão Humana Infalível – Os progressistas foram atraídos pela insinuação cartesiana de que poderíamos usar a razão para obter e justificar a gratificação direta de nossos instintos naturais. Depois que Rousseau deu licença intelectual para que se abandonassem as restrições culturais e se conferisse legitimidade às tentativas de conquistar a ausência de restrições, a propriedade tornou-se cada vez mais suspeita e deixou de ser reconhecida de maneira tão geral como o fator-chave que gerara a prosperidade humana.

Passou-se cada vez mais a supor que as regras reguladoras da delimitação e da transferência da propriedade privada poderiam ser substituídas pela decisão centralizada a respeito de seu uso. Auguste Comte supunha que somos capazes de remodelar todo o nosso sistema moral e de substituí-lo por um corpo de regras totalmente explicado e justificado.

Não há motivo para supor que a seleção evolutiva de práticas habituais como aquelas que têm permitido à humanidade alimentar uma enorme população possam ser explicadas, justificadas, ou demonstradas conforme o cientificismo proposto pelo movimento construtivista. A moralidade encontra-se entre o instinto e a razão, e é produto da evolução que criou e sustenta a humanidade em seu nível de qualidade de vida atual.

6. A Presunção Fatal – O darwinismo social está errado em muitos aspectos, mas sua presunção fatal, segundo Hayek, é que o homem pode moldar o mundo à sua volta de acordo com seus desejos. De acordo com o movimento construtivista, aquilo que não seja provado pelos processos científicos, ou não seja entendido na íntegra, ou careça de um propósito especificado em sua totalidade, ou tenha alguns efeitos desconhecidos, é irracional. Por outro lado, como o autor destacara em capítulos anteriores, a maioria dos princípios, das instituições e práticas morais que sustentam a humanidade em seu nível de prosperidade atual não satisfazem os critérios do movimento construtivista. Tal cientificismo leva o progressismo a acreditar em uma necessidade urgente de construir uma nova moralidade, justificada e revisada “racionalmente”. A justificação e revisão da moral tradicional é o que Hayek chama de “a presunção fatal”.

7. O Objetivo Final – No socialismo, a busca não é nada menos que reprojetar por completo nossa moral tradicional, nosso direito e nossa linguagem e, com base nisso, erradicar a velha ordem e as condições supostamente inexoráveis e injustificáveis que evitam a intuição da razão, da realização pessoal, da justiça e verdadeira liberdade.

O socialismo constitui uma ameaça para o bem-estar presente e futuro da raça humana no sentido de que nem o socialismo, nem nenhum outro substituto conhecido da ordem de mercado poderá sustentar a atual população mundial. Se parássemos de fazer tudo aquilo cuja razão desconhecemos, ou a favor do qual não podemos apresentar uma justificação no sentido exigido, provavelmente muito em breve estaríamos mortos.

Leonard Batista – Associado III do Instituto Líderes do Amanhã.

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