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A dependência europeia do gás russo

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Como todos vocês estão sabendo (ou pelo menos deveriam), o mundo ocidental e democrático está isolando a Rússia de todas as maneiras possíveis. Algumas são mais bobas, como boicotes a restaurantes russos em Nova York. Outras são sérias, como a retirada da Rússia do sistema financeiro mundial. Porém, os russos seguem com um trunfo: a dependência europeia de sua energia e, com as atuais políticas energéticas do continente, tal trunfo irá continuar.

Como bem escreveu Daniel LaCalle, a Europa não depende do gás russo por coincidência, mas por uma série de políticas equivocadas. O problema não foi o investimento em energia renovável, mas não ter um backup confiável. Não é apropriado fechar plantas nucleares na Alemanha e patrocinar o fim da indústria de gás natural por toda a União Europeia, tendo como única opção viável em dias nublados, ou com pouco vento, o gás russo. Como tanto a energia solar quanto a eólica dependem do clima, uma opção seria baterias para armazená-las, mas ainda não temos essa tecnologia para que seja viável economicamente. De acordo com um artigo do MIT Technology Review, um sistema desses custaria à Europa 2,5 trilhões de dólares.

Mesmo antes de a invasão à Ucrânia estar no horizonte, a inflação já estava fora de controle na Europa, com o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) batendo 5,8% na zona do euro. Por mais que isso seja a resposta humanitária correta, pois cada dólar entregue aos russos é mais uma bomba em um hospital ou escola ucraniana, os europeus não vão fechar os gasodutos russos, pois a pressão inflacionária seria ainda maior. Além disso, atualmente, o gás russo é a opção mais barata para os europeus.

O que a Europa precisa fazer é mostrar à Rússia que eles têm fontes de abastecimento diversificadas e baratas. Se os russos veem que os governos europeus proíbem a energia nuclear, proíbem o desenvolvimento de reservas domésticas de gás, intervêm nas importações e adicionam impostos maciços como o custo do CO2, a conclusão lógica é que não há alternativa competitiva e que muito provavelmente a indústria e os consumidores europeus irão entrar em colapso devido ao aumento do custo da energia caso venham banir o produto da ditadura. É natural que Putin e seus asseclas pensem que estão livres para chantagear o continente.

Apesar de ser um entusiasta de energias renováveis, eu entendo que elas estão longe de ser a solução para o problema energético europeu ou global. Neste instante, todas as fontes de energia são necessárias (incluindo o carvão) por uma simples questão humanitária: não podemos seguir alimentando a máquina de guerra de Putin. No momento, não há solução boa, há apenas a “menos pior”, e nada é pior do que depender da Rússia em qualquer circunstância, especialmente em se tratando de um campo tão importante como o energético.

A demonização da energia nuclear – que ocorreu especialmente na Alemanha – deixou a Europa nas mãos de alternativas caras e voláteis. Sim, precisamos transicionar para fontes renováveis, mas temos que pensar também na importância da segurança do abastecimento e da competitividade. Precisamos de todas as tecnologias sem viés ideológico. Precisamos de energia solar, eólica, gás natural, hidrelétrica, petróleo e nuclear, ou a Finlândia ou a Moldávia serão os próximos alvos de Putin.

Mesmo após a invasão russa à Crimeia em 2014, a Europa no geral (e a Alemanha em particular) resolveu seguir com a mesma política energética. Será que eles vão cometer o mesmo erro de novo?

*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.

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