Como lidar com os dogmas, utopias e falácias que afetam o funcionamento da razão?
Temos que reconhecer que o processo evolutivo nos conferiu uma máquina orgânica impressionante.
Fomos sendo dotados, ao longo de milhões de anos, de um hardware extraordinário constituído de gordura, fibras e outras substâncias eletroquímicas, cujo propósito é rodar uma espécie de software chamado razão que é capaz de resolver nossos problemas existenciais, sejam eles simples ou complexos, inclusive o de controlar nossas emoções.
É claro que o software ainda é precário, recém estamos entendendo como ele funciona. Não faz muito tempo que começamos a lidar com ele num exercício de autoconhecimento, parametrização e autodesenvolvimento.
Não sei ao certo se nos casos psicopatológicos, onde a razão simplesmente não funciona, se é um problema do sistema operacional, mau funcionamento do equipamento, ou ambos.
Mas quando me dou conta do tempo que levou para que esse aparato sensorial-cognitivo, que nos faz perceber o mundo em que vivemos, que escreve sua própria linguagem, forma conceitos e nos permite criar as mais imaginativas abstrações, não posso deixar de perguntar: não dava para incluir no pacote um botão “liga/desliga” que fizesse esse negócio funcionar sem esperar o acionamento voluntário e automático?
Tem momentos nos quais, por mais que a gente tente, a razão não “roda”. Em alguns casos, muitos por sinal, o “liga/desliga” deveria ser delegado a um tutor, uma espécie de suporte. Cada um de nós viria acompanhado de um controle remoto que acionasse a razão à distância. Claro, isso se mostra necessário em alguns casos porque há aqueles que nem se lembram que dentro dessa caixa redonda que se tem sobre o pescoço, que protege a unidade de processamento, há essa máquina que não custa nada para fazê-la funcionar e custa horrores quando não é usada.
É preciso entender, que o hardware pode ser hackeado e contaminado com dogmas, utopias, falácias e perversões, viroses que afetam o funcionamento normal do hardware e do software, impedindo o pleno uso da razão. Felizmente, o sistema está equipado para se defender sozinho, detectando esses problemas e promovendo a autocorreção.
Quanto mais se usa a razão, quanto mais se exercita o método científico e a lógica presentes no próprio sistema, ou disponíveis para download nas redes sociais, menos vulneráveis ficamos a esses malwares.