O dólar abriu o dia de ontem abaixo de R$4,90. É um bom dia, portanto, para rememorar algumas previsões recentes, que falavam num dólar de até R$6,00 no final do ano passado.
É um bom dia também para lembrarmos que isso que chamamos de “mercado” não é uma entidade, uma pessoa ou uma organização capaz de fazer previsões – estas normalmente são feitas por alguns de seus players bem conectados e escolhidos a dedo pela mídia oficial, os famigerados especialistas.
O mercado é um processo contínuo e multifacetado de interações cotidianas entre milhões (ou bilhões, se olharmos para um ambiente internacional) de agentes econômicos (todos nós). Este processo é bastante eficiente para alocar recursos escassos, de forma a gerar os melhores (ou menos piores) usos dos recursos para a sociedade; mas isso não implica que qualquer dos seus agentes, individualmente, adquira o poder de fazer previsões econômicas sempre acuradas.
Na verdade, o mercado (os agentes econômicos atuando de forma livre) é muito bom em ajustar-se com a agilidade necessária às circunstâncias econômicas de cada momento (sempre balizado pelos sistemas de preços e de lucros e perdas), mas seus agentes são tão (in)eficientes para fazer previsões sobre o futuro quanto qualquer burocrata estatal.
A diferença entre um e outro é que as consequências das decisões privadas, baseadas em previsões erradas, afetam apenas uns poucos players, durante algum tempo, enquanto as previsões dos burocratas públicos e respectivas decisões de seus chefes políticos afetam quase todos nós, por longos períodos, já que os governos dispõem de muito pouca agilidade para adaptar-se às circunstâncias, preferindo, não raro, dobrar a aposta em políticas públicas equivocadas.