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A violência política é injustificável

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Neste domingo, o país assistiu horrorizado a um crime bárbaro, gratuito e com prováveis motivações políticas. O guarda municipal Marcelo Arruda, tesoureiro e militante do PT municipal, na cidade de Foz de Iguaçu, foi covardemente assassinado pelo agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho, que foi baleado de forma reativa por Marcelo e encontra-se internado em estado grave no momento em que escrevo este artigo. Como amplamente divulgado, Marcelo celebrava seu aniversário de 50 anos em uma festa que tinha o PT como temática. Também sabemos que, de acordo com o boletim de ocorrência, Rocha Guaranho teria proferido palavras de ordem pró-Bolsonaro. Destaca-se que os vídeos que já circulam pela imprensa e redes sociais, mostrando o momento exato da troca de tiros, não deixam margem para dúvidas de que foi Jorge quem iniciou o ataque, tendo Marcelo apenas se defendido.

Não há nada, absolutamente nada que justifique esse tipo de violência. Quem tenta apequenar de alguma forma a gravidade do que aconteceu não têm compromisso com a ordem democrática. É lícito fazer oposição a quem quer que seja e ao partido que seja. Sou tanto antibolsonarista quanto antipetista ferrenho; mas o terreno para o combate político, que deve ser sempre um combate de ideias, nunca físico, é o ambiente democrático, a livre discussão, a livre expressão e a busca pela representatividade eleitoral. Quem opta pelo uso da força renuncia a tudo isso, não importando contra quem esta força seja exercida. Marcelo Arruda não era um terrorista, não estava organizando uma guerrilha — diga-se que, mesmo na hipótese altamente improvável de uma atividade guerrilheira em 2022, caberia às forças de segurança legalmente constituídas lidar com isso, não a um militante bolsonarista. Marcelo estava exercendo seu livre direito de celebrar seu aniversário junto com sua família e amigos. Podemos detestar a temática escolhida, mas ele tinha o direito de escolhê-la.

Isso, é claro, é dizer o óbvio, mas escrevo esse texto pois o caso em tela permite explorar as profundezas mais obscuras do fanatismo político. Jorge, o assassino, esteve duas vezes no local, sendo a primeira acompanhado da esposa que segurava um bebê de colo, a qual tentou dissuadi-lo. Foi embora, mas retornou cerca de 20 minutos depois, dessa vez armado e sozinho, protagonizando a barbárie que vimos. Ou seja, ele teve tempo de ir para casa, pegar sua arma e retornar, com a clara intenção, ou pelo menos disposição, de matar. Certamente ele não esperava que a vítima fosse reagir, mas o que esperava então? Sair impune? Se tinha um pingo de realismo, ele sabia que no mínimo iria para a cadeia, já que não haveria dificuldade em elucidar a autoria do crime. Sendo assim, podemos concluir que o assassino assumiu o risco de ir para a cadeia para defender sua agenda política e, pelo que consta, seu político de estimação. Isso é simplesmente doentio. O nível a que o fanatismo político personalista é capaz de chegar é doentio.

É claro que seria desproporcional extrapolar a ação de um indivíduo inconsequente para os demais apoiadores de Bolsonaro — apesar de que não tenho dúvidas de que muitos o fariam se os papéis de vítima e assassino tivessem sido invertidos. Não tenho dúvidas de que há fanáticos que podem ver com bons olhos o que aconteceu, mas há fanáticos para tudo, porém sempre numa proporção menor do que nos fazem crer as bolhas da internet. Não tenho dúvidas de que a maioria esmagadora da população repudia o que aconteceu. O cidadão médio não quer saber de extremos e radicalismos. O cidadão médio quer tranquilidade, e um lunático invadindo uma festa de aniversário e matando um pai de família, pai de 4 filhos, diga-se, é a antítese disso.

Jorge Guaranho é a extremidade à qual o fanatismo político é capaz de chegar, sem que as outras gradações de extremismo, embora menos piores, se constituam em moderação. Temos um presidente que em campanha chegou a falar em “fuzilar a petralhada” durante um comício no Acre. Tratou-se de uma provocação “jocosa”, não algo literal, disseram seus apoiadores à época. Pois é, mas o problema de provocações de extremo mau-gosto como essa, que não seriam apropriadas na boca de um político sério, é que elas podem ressoar de forma diferente dependendo de quem escuta, e nem todos os ouvidos são de gente sã. Quando se alimenta uma espiral de radicalismo e retóricas de ódio, assume-se o risco de que alguém extrapole o âmbito das provocações verbais. Não, não estou dizendo que Bolsonaro é responsável pelo que aconteceu em Foz de Iguaçu, mas ele é diretamente responsável pela espiral de radicalismo que ajuda a alimentar fanáticos como Jorge.

Não torço para que Jorge Guaranho morra. Espero que sobreviva para que possa ser devidamente condenado e preso. Que viva para servir de exemplo para outros imbecis que estejam dispostos a arriscar a liberdade e até mesmo a própria vida para defender político. Não é somente fanatismo ideológico, é fanatismo personalista, devoção, culto. Quem faz isso coloca um político de ocasião acima da própria família, que terá que sofrer as consequências de seu fanatismo. Que defesa da família é essa? Que tipo de pessoa coloca uma personalidade pública que não o conhece e que não lhe dá, verdadeiramente, a mínima importância, acima da esposa e filho? Que defesa da vida é essa de gente que chega a se opor a um aborto até no caso de estupro de uma criança, por uma suposta defesa da vida, mas não se contém em tirar uma vida de forma gratuita?

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Gabriel Wilhelms

Gabriel Wilhelms

Graduado em Música e Economia, atua como articulista político nas horas vagas. Atuou como colunista do Jornal em Foco de 2017 a meados de 2019. Colunista do Instituto Liberal desde agosto de 2019.

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