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A Copa do Mundo e o eterno torpor brasileiro

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Não tenho acompanhado a Copa do Mundo com o faz a maioria dos brasileiros apaixonados por futebol. Apesar disto, reconheço perfeitamente que Neymar é um jogador cujo respeito pelos adversários e pelas regras do jogo só não é mais desprezível do que o respeito que têm nossos políticos pelas contas públicas e pela meritocracia.

A comparação é provocativa, confesso. Ela o é, na mesma medida, proposital. Ainda durante o último jogo da seleção (que me recusei a assistir), numa conversa informal com alguns amigos, um deles, num tom jocoso, disse que existe certo radicalismo no meu comportamento e que não convém misturar as coisas. Afinal, o futebol arte de Neymar não possui qualquer relação com as agruras políticas e econômicas que o país vive atualmente. É justamente este o tipo de argumento que tem sido repetido à exaustão por todos os brasileiros que insistem em deixar de lado as atividades produtivas em dias de jogos da seleção e relegar à categoria de assuntos de importância secundária as pautas do STF, para se entregarem sem moderação à paixão futebolística.

Em minha defesa, entendo que o brasileiro necessita de seus momentos de fuga. Entendo também que a paixão pelo esporte está enraizada na cultura tupiniquim. Em especial, a paixão pelo futebol, algo em que somos realmente muito bons. O que me preocupa, no entanto, é que os números que ostentamos no futebol, os quais enchem os brasileiros de orgulho, estão muito distantes de serem reproduzidos por outras áreas para as quais o brasileiro médio não dedica qualquer atenção. Alguns deles chegam a ser vexatórios.

Este é o caso, a título de exemplo, da nossa situação fiscal. Vejamos o que diz o economista Adolfo Sachsida, em artigo publicado também neste instituto, a respeito das contas públicas brasileiras. De acordo com o índice de saúde fiscal da Heritage Foundation, em 2018, o Brasil tirou nota 7,7 (em 100 pontos possíveis). Sim, você leu certo, o Brasil não conseguiu chegar a míseros 10 pontos em 100 possíveis nesse quesito. Rio de Janeiro é o carro chefe da situação fiscal brasileira, já atrasa salários e só não está insolvente por causa de recursos do Tesouro Nacional. Minas Gerais, Rio Grande do Sul, e Rio Grande do Norte caminham para a mesma situação. Diversos outros estados e municípios adotam manobras fiscais duvidosas para continuarem honrando seus compromissos. Na União a situação não é muito diferente, pesados déficits vem pressionando cada vez mais a dívida pública. A conta vai chegar em 2019.

Ajustar as contas públicas é uma necessidade. Deixemos claro um ponto: qualquer um que argumente pela não necessidade do ajuste fiscal está mentindo. Você pode discordar de como realizar o ajuste fiscal, mas de maneira honesta é impossível argumentar que as contas públicas estejam em ordem.

Além da situação escabrosa das contas públicas, vale ressaltar as decisões que os homens da corte máxima do nosso país têm promovido nos últimos dias. Duas delas você pode ver aqui e aqui. Há não muito tempo li o livro “Brasileiro é Otário?” do economista Rodrigo Constantino. Uma das passagens mais marcantes do livro, segundo minha modesta opinião, trata-se da leitura que o autor faz do comportamento do brasileiro em busca de uma eterna fuga. Basicamente, o autor sugere que encher as ruas em festas como o carnaval não é o problema, mas viver num eterno carnaval é não só um problema, mas um indício de que algo de muito errado ocorreu com o país. Noutra passagem, o autor sugere também que muitas pessoas atribuem seu sobrepeso ao excesso de ingestão de alimentos tão comum entre o natal e o ano novo. Mais uma vez, ressalta o autor, esta é uma avaliação incorreta dos fatos já que o problema está entre o período que compreende o ano novo e o natal. Comparativamente, poderíamos dizer que o problema não está no mês deste grande evento esportivo. Mas em todo o período de 4 anos que separa este evento do próximo que virá.

A grande questão, no entanto, é que oportunistas como são e sabedores do torpor a que é lançada a nação diante de eventos desta magnitude, os homens de toga estão mostrando que não estão brincando em serviço enquanto as pessoas se divertem. Ademais, vale ressaltar, já expus em outros momentos a correlação que há entre o vale-tudo do futebol e a situação caótica predominante nos cenários político e econômico do país. Aplaudir as posturas desrespeitosas de alguém como Neymar e incentivar a ruptura de regras e valores em campo, mostra como grande parte dos brasileiros está disposta a quebrar as regras e fazer uso do “jeitinho” apenas para alcançar seus objetivos pessoais. Ou será que estamos todos certos e as imprensas britânica e norte-americana (para ficar apenas nestes exemplos) é que são truculentas e não aceitam o sucesso do garoto Neymar?

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Juliano Oliveira

Juliano Oliveira

É administrador de empresas, professor e palestrante. Especialista e mestre em engenharia de produção, é estudioso das teorias sobre liberalismo econômico.

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