fbpx

Vive la France! – GILBERTO RAMOS

Print Friendly, PDF & Email

Colaboradores

31.05.07

 

Vive la France!

 

GILBERTO RAMOS*

 

 

A recente eleição francesa nos oferece algumas lições sobre as quais devemos refletir. A secular república da França dos Bourbons é um prato fundo para os analistas políticos. O resultado entre Ségolène Royal, representante da vertente socialista da política francesa, e Nicolas Sarkozy, candidato defensor do conservadorismo e nacionalismo francês, era previsível. A boa diferença entre os dois não deixou dúvidas sobre a preferência do eleitorado. Os comentaristas políticos tentarão encontrar razões as mais variadas para justificar o resultado final e, não tenho dúvidas, será um desfile de “cientistas políticos” (aspas propositais), cada um querendo mostrar mais erudição do que o outro e encontrar as mais remotas justificativas.

O fato é que nem com a aproximação casuística de Ségolène com François Bayrou, o candidato de centro descartado no primeiro turno, as pesquisas pré-eleitorais se alteraram. O eleitorado socialista, inclusive, até rejeitou esta aproximação que estaria manchando o purismo da esquerda francesa. A incoerência de Ségolène saiu-lhe caro. Pelas reações posteriores ao resultado, com carros incendiados e lojas depredadas, logo se vê que o dito purismo era, isto sim, radicalismo misturado com inconformismo, tudo temperado com muita ambição.

A França é uma nação que, embora não queira admitir, tem uma formação típica e vocacionada para o capitalismo moderno. Vale recordar que a queda da monarquia francesa foi protagonizada por uma rebelião burguesa dos “sans-culotte“. O que eles queriam, de fato, era o acesso à propriedade, então inteiramente nas mãos da monarquia. Coloco esta preposição craseada, porque mais do que o simples direito de propriedade, com sua forma estática defendida pelos monarcas, ela foi a principal motivação da Queda da Bastilha, apoteose da Revolução Francesa.

Os vários manifestos comunistas que se seguiram pouco afetaram a democracia francesa. A esquerda gaulesa é simplesmente uma reunião de deslumbrados insatisfeitos diante das vitrines sofisticadas de Paris e das adegas da Provence. O bom gosto e a elegância das mulheres e homens franceses é um traço notável daquele povo que faz do consumo qualificado um ingrediente fundamental do capitalismo sadio, tudo isso sem negligenciar com um Estado bem organizado e eficiente no social. Porém, e não obstante todas estas virtudes, a França sempre foi um mau colonizador – vide o Haiti – e a pressão imigratória é um pesadelo do qual Sarkozy soube tirar proveito. Faço parágrafo para mudar de estrada.

Para os brasileiros esta eleição ofereceu uma rara oportunidade para repensarmos nosso calendário eleitoral. Dentro de poucos dias, já com o Presidente eleito, os eleitores franceses voltarão às urnas para a escolha do Parlamento. Que isto nos sirva de lição para invertermos – e corrigirmos – nosso pouco inteligente processo eleitoral que, com eleições em dois turnos, elege o Congresso antes do Presidente. Parece até que gostamos de apostar no impasse entre os Poderes, gerador dos abjetos mensalões. A vitória de Sarkozy foi, antes de tudo, sob a ótica sócio-econômica, a prevalência do bom senso sobre a boa intenção.

* Economista

Nota da Editoria: Os links foram incluídos pela editoria.

 

As opiniões emitidas por Colaboradores são de responsabilidade exclusiva dos signatários, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Instituto Liberal.

 

 

O conteúdo do artigo pode ser reproduzido uma vez citada a fonte.

 

Instituto Liberal

www.institutoliberal.org.br

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

Pular para o conteúdo