População como manada!
A liberdade financeira é o objetivo de muitos, realidade de poucos e sequer cogitada pela maior parte da população. Mas por que isso acontece? Por que tantos nem sequer sabem o que é liberdade ou não a almejam? Qual é o papel do dinheiro nisso? O que o governo fez, faz e continuará a fazer para manter seu poder e autoridade sobre a sociedade?
O ser humano, por natureza, surgiu livre. Não havia um governo central que detinha o poder em suas mãos e, com ele, a capacidade de controle. Entretanto, na tentativa de se organizar e crescer, surgiram formas de governo que passaram a demandar trocas comerciais mais dinâmicas, levando à criação das moedas. Talvez um dos grandes erros da humanidade tenha sido permitir que o governo controlasse o dinheiro. Esse controle estatal da moeda é um dos pilares da dominação moderna. Isso não se restringe ao mundo contemporâneo – na Roma Antiga, por exemplo, a debilidade econômica causada pela manipulação monetária estatal teve papel relevante em seu declínio.
Rothbard nos alerta que a manipulação monetária pelo Estado tem consequências severas: gera ciclos econômicos, desvaloriza o dinheiro e amplia o poder do governo. Mas por que isso ocorre? Basicamente, embora não exclusivamente, porque o Estado detém o poder de imprimir moeda, aumentando a oferta de dinheiro no mercado, o que leva à inflação e à corrosão do poder de compra da população. Isso dá ao governo a capacidade de expandir seu poder sob a justificativa de políticas públicas e assistência. A proteção dos interesses dos “amigos do rei” e a busca por votos em ciclos eleitorais tornam-se prioridades, relegando a um segundo plano o verdadeiro bem-estar social – este, por sua vez, exige tempo, planejamento e compromisso com a responsabilidade fiscal. Essa dinâmica facilita a corrupção, o populismo e outras práticas nefastas. Rothbard sugere o retorno ao padrão-ouro. Isso é possível? Sim, mas as chances são escassas, diante da resistência dos que lucram com o sistema atual.
Para entender essa linha de raciocínio, é necessário compreender um ponto fundamental: a taxa de câmbio depende, em última instância, da confiança. Como assim? O emissor da moeda precisa conquistar e manter a confiança de quem a utiliza. Se essa confiança se rompe, as pessoas abandonam a moeda – ou passam a usá-la apenas quando necessário. Um bom exemplo são nossos vizinhos argentinos. Em 2023, o Banco Central argentino limitou a acumulação de dólares por parte dos bancos comerciais. Isso ocorreu porque a população já buscava espontaneamente armazenar valor em dólares – uma moeda mais confiável do que o peso argentino. A causa? Pura e simples: o povo perdeu a confiança no próprio dinheiro.
Se o dinheiro está diretamente ligado à confiança, então a adesão de uma minoria influente pode induzir a maioria a seguir o mesmo caminho. Mises explica isso com profundidade ao tratar da praxeologia em sua obra-prima Ação Humana. Um grupo de poder, ao reconhecer e controlar essa confiança coletiva, usará todos os meios disponíveis para direcioná-la conforme seus interesses. O padrão-ouro dificultava esse tipo de manipulação, pois restringia a capacidade de inflar artificialmente a base monetária. Por isso mesmo, não interessa à classe dominante que ele volte.
Abstraindo questões religiosas, a liberdade individual está intimamente ligada ao conhecimento e ao acúmulo de capital. Um indivíduo instruído e com patrimônio tem maior capacidade de escolha, visão crítica e poder de decisão. Logo, o grupo que limita esse acesso controla mais facilmente os que não conseguem romper essa barreira, e o dinheiro – ou, melhor, o monopólio estatal sobre ele – é uma das ferramentas mais eficazes de controle.
Todos os anos, o noticiário nos informa que a meta de inflação para o ano é de 3%, 4%, ou 2%. O que o governo está, de fato, dizendo? Que irá desvalorizar seu poder de compra nessa mesma proporção. Alguns se perguntam: “Qual o problema?”. O problema é profundo.
A moeda de maior sucesso no Brasil – o Real – teve uma inflação acumulada de 708% em três décadas, segundo o Banco Central. Isso significa que R$1 em 1994 equivale a aproximadamente R$8 hoje. Ou seja, o cidadão brasileiro foi expropriado de forma sistemática e silenciosa.
Ao longo do tempo, a sociedade brasileira tem sido conduzida como uma manada, gradualmente afastada da possibilidade de liberdade individual genuína. A solução? Retirar o Estado do controle do dinheiro. Que surjam alternativas privadas, descentralizadas e resistentes à captura política. Que o cidadão se informe, acumule capital e retome as rédeas da própria vida econômica
Que possamos, como indivíduos conscientes, romper com essa lógica de rebanho.
*Robert Borba Silva é engenheiro de Transporte e Logística e Sócio-Administrador da Farmácia Mercúrio.