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Errar é normal… Persistir no erro, esta semana, foi grego

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Créditos: Alkis Konstantinidis/Reuters
Créditos: Alkis Konstantinidis/Reuters

A Grécia é um dos berços da civilização ocidental, um emblema originário do pensamento clássico que moldou a nossa forma de interpretar o mundo e entender a realidade que nos cerca. Terra de gigantes, porém, que, se gestou a Filosofia, prefere, hoje, trilhar o caminho do explícito irracionalismo. Parece ser essa a indicação que os gregos fornecem ao mundo ao reconduzirem ao poder, neste domingo (20/09), o partido esquerdista Syriza, de Alexis Tsipras – sabidamente uma espécie de PSOL de lá.

Sigamos os passos, didaticamente sintetizados pela reportagem do G1 a respeito: colhendo os frutos da gastança governamental descontrolada (onde já vimos esse filme?), a Grécia mergulhou em profunda crise econômica, marcada pelo endividamento. Que escolha política fizeram os gregos? Como não poucas vezes ocorre, o cenário degradado se tornou propício ao triunfo de um discurso demagógico, prometendo irrealidades e malabarismos com um dinheiro que não existia. A plataforma socialista delirante do Syriza seduziu e seu candidato Tsipras foi nomeado Primeiro-Ministro, em janeiro.

Em junho, a aposta grega na “viagem na maionese” e na ignorância propositada das leis econômicas fez com que o país deixasse de pagar os credores internacionais e hesitasse diante das exigências da União Europeia e do FMI, que procuravam chamar o Syriza à razão, ao ajuste, aos imperativos cortes nos gastos, em troca da ajuda de que tão desesperadamente precisavam. Em julho, o apelo demagógico manifestou outra de suas costumeiras faces, também nossa velha conhecida: a do “democratismo”. Em referendo, 61 % dos gregos rejeitaram o acordo proposto pelos demais países europeus.

Que disse Tsipras? Como bem transcreveu um dos diretores do Instituto Liberal, João Luiz Mauad, em artigo de 6 de julho passado, ele preferiu saudar o resultado como demonstração de coragem do povo grego e “uma mostra de que a democracia não será chantageada”. Para o primeiro-ministro socialista, a Grécia demarcou sua escolha por uma Europa “de solidariedade”. Os gregos, que, repetimos, como baluartes da Filosofia ocidental, gestaram os conceitos que balizam as reflexões em séculos de pensamento, hoje se notabilizam pela distorção desses mesmos conceitos. Democracia e solidariedade se tornaram, para eles, carta branca para a irresponsabilidade. Infelizmente, para Tsipras, não era a democracia que estava sendo chantageada pelas exigências do “inimigo externo”; eram os socialistas do Syriza que queriam barganhar com os imperativos da realidade, e carregar todo o povo grego em sua viagem sonhadora rumo ao abismo. Essa mesma realidade, porém, não aceita barganhas e nem dá “jeitinhos”. Ela se impõe.

Tsipras acabou aceitando um acordo ainda mais duro de austeridade que o que havia sido votado no referendo, diante da ameaça de ver seu país desligado da zona do euro. O que ele poderia fazer? Não havia como levar adiante a mentira com que vendeu a candidatura de seu partido – assim como Dilma, no Brasil, não mais nos consegue iludir, guardadas as diferenças entre os contextos nos dois países. É um fenômeno típico das esquerdas, que trabalham com um mundo de sonhos construído pelos seus ideólogos e cujo nível máximo de concretização fica por conta das imagens ficcionais criadas pelos seus marqueteiros. Tsipras alegou que precisava contemporizar para “evitar um desastre”; como sempre, o mentiroso e infantil esquerdista é uma vítima das forças sinistras e opressoras do “sistema” capitalista internacional. Se suas medidas lunáticas se provam inviáveis, é porque os que detêm o poder no mundo não permitiram. O mal sufocou o bem, em outras palavras.

Claro que a “volta atrás” teve um custo político elevado para Tsipras, que dividiu seu próprio partido e perdeu apoio. Ele renunciou ao cargo em agosto, convocando novas eleições legislativas. O que fez o povo neste domingo? Sim. Depois de tudo isso, depois da criação de todo um cenário irreal desmontado pelos fatos mais dolorosos, depois de se contradizer um sem número de vezes e abandonar o cargo diante do fracasso, Tsipras mais uma vez contou com a ajuda do povo grego, derrotou os conservadores do partido Nova Democracia e foi reconduzido ao cargo. “Uma grande vitória, uma vitória do povo” que “pertence às classes trabalhadoras”, e atesta serem a Grécia e sua gente “sinônimos de orgulho e perseverança” e bla bla bla, celebrou o líder falsário.

Imediatamente, Tsipras, não sem receber críticas, renovou, para conseguir governar, a aliança com o Gregos Independentes, um partido de uma família ideológica costumeiramente chamada de “extrema direita”, que representa um problema importante na Europa atual. Ao mesmo tempo em que se apoiam em bandeiras que apelam a um tradicionalismo cultural e ao patriotismo – ou, em realidade, como diria o pensador católico brasileiro Gustavo Corção, não ao patriotismo, que é saudável, mas ao nacionalismo, que é doentio -, esses partidos defendem medidas fortemente protecionistas no plano econômico, e costumam dar voz a teorias xenófobas e hostis ao estrangeiro. Se é verdade que concordo com muitos críticos conservadores brasileiros quanto a distorções feitas por nossa imprensa acerca da realidade europeia, especialmente diante da atual crise migratória do Oriente Médio em virtude da guerra na Síria, por outro lado acho imprudente negar a existência de partidos como o Gregos Independentes, que provam sua periculosidade ao se articular com o que, supostamente, seria o “outro lado”, a “extrema esquerda”. No fundo, com diferenças superficiais, simbólicas e retóricas, são todos amantes do populismo e da gastança descompromissada e insana.

Grécia, pérola dos tempos clássicos, terra de Sócrates, Platão e Aristóteles, joia de onde vieram as lendas e símbolos que encantam gerações e inspiram reflexões, da poesia de Homero, dos jogos de Olímpia e de todas as riquezas que ainda hoje, mesmo de tão recuados tempos, nos falam tão de perto, herdeiros que somos: por que tamanha queda? É este o teu destino?

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

Um comentário em “Errar é normal… Persistir no erro, esta semana, foi grego

  • Avatar
    22/09/2015 em 11:24 am
    Permalink

    Só é preciso lembrar que a crise foi causada pelo governo anterior. Mas o atual governo esquerdista do Syriza se elegeu fazendo promessas de combater essa crise da pior maneira possível.

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