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O que há de comum entre corrida aos bancos e corrida aos tampões?

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Famoso programa de TV alega que tampões de cabelo cherokee são os mais absorventes tampões que existem, e 100% naturais

A mídia tem noticiado com vigor nos últimos dias que a Argentina está sofrendo um processo de desabastecimento de tampões, que são os absorventes internos usados por mulheres que encontram-se menstruadas mas que, por qualquer motivo, não podem usar absorventes externos. Na atual época de verão portenha, o uso de tampões aumenta muito em virtude do uso de biquínis das moças para se refrescarem em piscinas e praias.

Em entrevista em rádio, o Secretário de Comércio da Argentina argumentou que não falta absolutamente nada na Argentina no momento, salvo tampões, e que a culpa da falta desse tipo de absorvente no país se deve à manipulação da mídia: “Foi uma espécie de corrida ao tampão, induzida por uma operação midiática”.

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Corrida ao Banco em 1893

A primeira coisa que deve ser dita a respeito desse tema é que isso não é novidade para ninguém e era óbvio para qualquer um que o excesso de intervenção estatal na economia argentina, especialmente o bloqueio de importações, além da reforma e aprofundamento da Lei de Abastecimento, que praticamente planificou a economia argentina, resultaria, mais cedo ou mais tarde, em gravíssimas crises de abastecimento, como as que se vê agora. Quem tiver interesse em se aprofundar no tema, recomendo artigo meu especial para o UOL de setembro do ano passado, onde detalho toda a problemática envolvendo a nova Lei de Abastecimento. Eu terminei o referido artigo sugerindo aos argentinos que poupassem papel higiênico, que foi o primeiro item a acabar quando ocorreu a mesma legislação na Venezuela. Não consegui prever que tampões acabariam primeiro. Todos os argumentos que explicam o fenômeno estão lá.

Em diálogo clássico do filme “V de Vingança”, dois repórteres divagam:
– “Nosso trabalho é reportar as notícias, não fabricá-las”.
– “Sim. Fabricá-las é trabalho do Governo”

Mas burocratas nunca se acusam, preferindo buscar bodes expiatórios para sua incompetência. Quando ocorre uma crise de desabastecimento, seja do que for, normalmente isso tem relação com a interferência estatal na relação entre oferta e demanda, mas é mais fácil acusar a imprensa de estimular o consumo e a corrida às lojas. Esse mecanismo é muito parecido com a famosa corrida aos bancos. Quando ocorrida uma crise de “desabastecimento” de depósitos bancários, em virtude de algum plano econômico maluco ou do sistema de reservas fracionárias chancelado pelo Estado, as pessoas corriam em direção ao Banco para tentar resgatar algum dinheiro de lá antes da ação governamental. Claro que essa corrida acaba gerando mais desabastecimento, fazendo desse ato uma profecia autorrealizável. Mas a origem do problema não está no portador da notícia, no caso a mídia, mas de quem a criou, no caso o Governo. Culpar o anunciante faz tanto sentido quanto a prática de matar o “arauto das más notícias”, servo que era obrigado a anunciar algum revés para um Rei, e que poderia acabar morto por “trazer azar”, quando normalmente o culpado por aquela má notícia era o próprio Rei. A culpa da corrida aos bancos historicamente foi dos governos. A culpa pelo desabastecimento na Argentina também é.

A meu ver, a melhor maneira de acabar com crises de desabastecimento ainda é fabricando tampões de ouvido para a população usar durante as campanhas eleitorais.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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