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Chega de Conversa Mole

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Embora com algum atraso, recebi de um amigo esquerdista um artigo de Ricardo Semler, publicado na Folha de São Paulo do último dia 21.  Trata-se de um pungente libelo em defesa dos governos petistas de Lula e Dilma, diante da avassaladora torrente de fatos e denúncias de corrupção nas hostes desses dois governos.  O autor embasa seu libelo naquele mesmo velho conhecido tripé argumentativo, que já virou jargão para os esbirros do petismo.  O primeiro é que sempre houve corrupção e, portanto, o PT não a inventou.  Diz o valente a respeito:

“Até em Paris sabia-se dos “cochons des dix pour cent”, os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.”

“Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão – cem vezes mais do que o caso Petrobras – pelos empresários?”

De onde ele tirou esses números? Infelizmente, não diz.  Simplesmente, transforma teorias conspiratórias em fatos e segue em frente, sem medo de ser feliz.  Convenhamos, é muito fácil e assaz conveniente sair por aí chutando números e percentuais, sem qualquer compromisso com as respectivas comprovações.

Mas o fato é que, ao contrário da narrativa criada pelos marqueteiros petistas, nunca ouvi ninguém dizer que o PT inventou a corrupção ou que ela nunca existiu no país antes dele.  O que esse partido fez, como nenhum outro, foi torná-la uma política de Estado, uma instituição permanente, gerida de cima para baixo, com o intuito de operar um projeto de poder permanente – ou hegemônico, para usar uma expressão que lhes é tão cara.

O segundo argumento do senhor Semler é que as investigações que levaram ao desbaratamento dessa quadrilha gigante só foram possíveis porque a presidente Dilma “deixou” que acontecesse, algo que nunca nenhum outro presidente fez.  Diz ele:

“É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo.”

Ora, ingenuidade é acreditar que o trabalho da PF, do MP e da justiça, tanto no Mensalão como no Petrolão, foi realizado porque o PT deu a estas instituições autonomia suficiente.  Se dependesse dele, nada disso teria sido investigado, a exemplo do que ocorreu, no passado, com o caso Celso Daniel.  O partido, ao contrário do que diz o autor do artigo, não pôde fazer nada, pois foi atropelado por uma avalanche de fatos, denúncias e, principalmente, pela competência de um Juiz.  Felizmente, nossas instituições republicanas alcançaram um nível de estabilidade que permitiu tudo isso, apesar das ações do governo em contrário.

O terceiro argumento é o batido clichê segundo o qual não existe corrupção apenas no serviço público, mas também na iniciativa privada.  Diz ele:

“O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras.”

Não é fantástico?  O que exatamente se tenta provar com tal comparação,eu não sei.  O que sei é que, se há corrupção também na iniciativa privada – e tenho certeza que há -, isso não é problema meu, pelo menos enquanto não ocorre dentro da minha empresa.  Por outro lado, a corrupção com dinheiro público é um problema de todos nós, queiramos ou não.  Ainda que eu tente me manter longe da Petrobras, não consigo deixar de ser pagador de impostos e, por conseguinte, de ser seu acionista indireto.  Logo, comparar corrupção com dinheiro público e com dinheiro privado é como comparar abacaxis com laranjas.  Puro nonsense.

Como dito acima, é inegável que os processos em andamento são uma prova de que nossas instituições democráticas e republicanas estão ganhando vigor.  Porém, só isso não basta para debelar o câncer da corrupção.

É preciso mais, é preciso mudar o paradigma. Segundo Karl Popper, a questão relevante da teoria política é “como podemos organizar as nossas instituições políticas de forma que os maus governantes, os incompetentes, os corruptos – aqueles que nós tentamos sempre evitar, mas que acabamos sempre elegendo – não possam causar grandes danos?”  Popper acreditava que a resposta correta a essa questão está na base da construção de instituições políticas decentes e eficazes. É necessário que o próprio modelo seja um antídoto contra os desmandos, as falcatruas e o mau uso do dinheiro alheio.

Essa era também a preocupação de Hayek. Em sua obra “Individualism: True or False?”, ao comentar o pensamento de Adam Smith, ele comenta: “a principal preocupação de Smith não era tanto com o que o homem pudesse ocasionalmente realizar quando estivesse em seus momentos mais nobres (at his best), mas que ele tivesse a mínima chance possível de causar danos quando estivesse nos seus momentos mais viciosos (at his worst)”.

O que Popper, Smith e Hayek defendiam, portanto, é um sistema sob o qual os homens ruins pudessem causar menos danos aos demais. Um modelo de organização social e econômica que não dependesse, para o seu bom funcionamento, de que nós encontrássemos homens bons para dirigi-lo, ou de que todos os homens se tornassem melhores para que ele pudesse ser eficiente. Enfim, um sistema que funcionasse independentemente da variedade e complexidade dos homens: bons ou maus, egoístas ou altruístas, inteligentes ou estúpidos.

Esse modelo é o modelo liberal de Estado Mínimo. Enquanto nós continuarmos colocando quantidades crescentes de poder e dinheiro nas mãos dos governantes, além de autorizá-los a interferir cada vez mais na economia, casos como Mensalão e Petrolão continuarão a pipocar e a nos indignar com alguma frequência.  Evidentemente, essa transformação não se opera da noite para o dia.  Leva tempo.  Um bom começo, entretanto, seria a privatização da Petrobras e de outras estatais, que mais servem a interesses privados do que propriamente ao interesse geral da nação.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

3 comentários em “Chega de Conversa Mole

  • Avatar
    03/12/2014 em 12:17 pm
    Permalink

    É como Rodrigo Constantino diz, “O PT levou a corrupção ao estado da arte”. E acho que ao estado da graça também, nunca vi tantos simpatizantes de ladrões antes.

  • Avatar
    02/12/2014 em 11:18 pm
    Permalink

    O algoritmo é simples:

    1 – Nenhum cargo em qualquer esfera de governo seja vitalício.

    2 – Regras iguais para todos: funcionários, políticos e autoridades se aposentam EXATAMENTE como o restante da população pagadora de impostos.
    Assim, desembargadores, juizes e MP em geral seriam mais honestos quanto a justiça, pois que não estariam eternamente garantidos pelo Poder de cobrar impostos, expropriando pela ameaça de violência, em próprio beneficio. Seriam mais justos com rerlação aos investidores (SEGURANÇA JURIDICA E JUDICIAL), pois que teriam que POUPAR e INVESTIR na produção para garantirem renda na aposentadoria, como fazem os pagadores de impostos.

    3 – Cada indivíduo poderia se eleger UNICAMENTE UMA VEZ para cargo legislativo (vereador, dep estadual, dep fedemal e senador) desde que com intervalo de 8 anos.
    Assim, ao aprovarem leis saberiam que estariam sofrendo as consequencias das leis que aprovassem, tanto quanto ao negligenciarem a fiscalização sobre o executivo.

    4 – Os ocupamntes de cargos executivos seriam responsabilizados por seus erros civil e criminalmente. É absurdo que um médico ou engenheiro assim respondam, enquanto ministros, autoridades e politicos jamais sejam responsabilizados por seus erros, mesmo que destruindo e/ou prejudicando milhões de vidas inocentes. Contudo, poderiam reelegerem-se por serem competentes executivos pela possibilidade de aferiçao objetiva de sua qualidade profissional.

    5 – Todo candidato teria que apresentar uma apostila expondo suas idéias objetivamente e no caso de cargos executivos deveriam apresentar propostas fundamentadas que deveriam ser cumpridas segundo um cronograma (como fazem as empresas) e caso descumpridas responderiam civilmente por tal.

    6 – O uso do POLIGRAFO com possibilidade do reu ter o seu profissional para fiscalizar e/ou atuar em paralelo com o profissional estatal na aferição/uso do equipamento. Testemunhas e reus se submeteriam sob medições com o poligrafo a fim de não haver dúvida sobre a VERDADE.
    FIM das autorizações de juizes para investigação e quebra de sigilos. Assim, autoridades e politicos que PLANTAM militantes e amigos em cargos do Poder judiciario a fim de controlar um menor número de colaboradores que sempre poderão BLOQUEAR ou AVISA-LOS SOBRE INVESTIGAÇÕES.

    7 – Sindicatos não mais seriam monopólios de mafiosos, pois que estariam liberados para serem formados a fim de PRESTAREM SERVIÇOS A SEUS FILIADOS VOLUNTÁRIOS. Sendo que ainda se submeteriam a mesma legislação das empresas, inclusive prestando contas ao fisco e aos associados. Reduzindo as incontaveis viagens das cupulas pelo mundo para desfrute de turismo de luxo pago por trabalhadores forçados a sustenta-los.

    8 – Desobrigatoriedade das GUILDAS ou conselhos de profissões. É absurdo que o indivuo seja forçado a sustentar PARASITAS que tomam as profissões COMO SE FEUDOS, passando a cobrar elevadas contribuições financeiras dos profissionais que NADA LHES DEVEM POR EXERCEREM A PROFISSÃO PARA QUAL SE ESFORÇARAM INDIVIDUALMENTE PARA EXERCERE.
    Acabar com literal EXPLORAÇÃO DE TRABALHADORES por parte destes “GRILEIROS de PROFISSÕES” que se IMPÕEM como SENHORES FEUDAIS DONOS das profissões que alugam para os profissionais que pagram e se esforçaram para exercerem-nas:

    Profissões deixariam de serem tratadas como FEUDOS onde os profissionais ficam devendo impostos ou VASSALAGEM a PARASITAS que se encastelam nos “CONSELHOS PROFISSIONAIS” para VIVEREM da LITERAL EXPLORAÇÃO dos profissionais que estudaram, gastaram e se esforçam para prestar serviços à população.

    É absurdo que conselhos regionais PARASITEM PROFISSIONAIS, de forma que tais “Conselhos de Profissões” aquinhoados com o Poder de EXPLORAR profissões, passam a dever VASSALAGEM POLITICA e mesmo financeira a PARTIDOS e grupos politicos que lhes garantem o FEUDO, o Poder de cobrarem de profissionais como se FOSSEM SERVOS de GLEBAS PROFISSIONAIS

    Pronto!!!! …É certo que melhoraria em pelo menos uns 80% a vida dos cidadãos de bem.

Fechado para comentários.

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