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Quando “defensores da liberdade” prestam desserviço à defesa da liberdade

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5.0.2

Quando alguém se julgar mais puro que os demais, ou daqueles que simplesmente não concordam com 100% de tudo o que ele pensa, fala, escreve, etc, então, desconfie desse indivíduo. O que me leva a escrever isso? Uma mistura entre preocupação e decepção. Explico!

Não me é novidade que a esquerda aja de acordo com determinada metodologia, tanto que escrevo uma série intitulada “Metodologia do Idiota Útil” e que já está em seu sétimo “capítulo”, mas voltando, também não me surpreende os posicionamentos de diversos conservadores (principalmente quanto aos direitos individuais) que acabam combatendo a própria liberdade que dizem defender; principalmente a que considero mais “sagrada”: a propriedade sobre si mesmo.

Bem, estou surpreso (e não é de hoje) com as atitudes de alguns libertários que chegam a ser muito parecidas com as de esquerdistas caricatos.

Por exemplo, os esquerdistas estão acostumados a idolatrar determinados indivíduos, independente dos fatos, das consequências de seus atos e de suas personalidades assassinas, racistas e autoritárias. Também lhes é comum o ad hominem, ou seja, atacar o debatedor ao invés de tentar refutar os argumentos, e principalmente o fanatismo, que os leva a se colocarem como monopolizadores de todas as virtudes. Isso significa que se posicionam como se fossem os únicos a defender diversos pontos e qualquer opinião contrária automaticamente coloca o questionador como um inimigo “da causa” e das pessoas.

Ao inflar o próprio ego até que toque a lua, os esquerdistas cometem diversos erros que lhes custam caro, como achar que não precisa estudar para dominar um assunto, basta repetir o que seus “ídolos” disseram ou um discurso pronto e batido. E começo a ver essas características em diversos libertários, algo que me decepciona e preocupa.

Eu gosto demais de Rothbard e de Mises, contudo, não deixo de analisar o que escreveram, disseram e fizeram, como se só o fato de ter sido escrito, falado e feito por eles seja o suficiente para validar tudo. Agora, ouso discordar de uma posição de Rothbard e o que recebo em troca? Ad hominem fanático. Nem de longe querendo comparar Rothbard e genocidas como Che Guevara, Mao, Hitler e Stalin, o que quero deixar claro é que a atitude de quem não aceita críticas ao primeiro muito se parece com a de quem defende compulsivamente os outros. Isso é fanatismo.

Vejo esses mesmos libertários citando Rothbard, Friedman e outros como se apenas porque foram eles que falaram determinadas frases já é o suficiente para refutar qualquer argumento contrário, ou questionador. Isso é idolatrização. Ora, só por que foi Rothbard que disse, então tenho que concordar e ponto?

– “Acho x” / – Mas Rothbard disse “Y” / – Discordo de Rothbard nesse ponto. / – Seu comunista, esquerdista, socialista, etc.

Esse é o diálogo padrão ao debater com esses indivíduos. Parece que têm um surto psicótico quando um de seus ídolos recebe uma crítica, ou é questionado, mesmo que por alguém que concorda com 90% do que ele disse. “Como você pode questionar Rothbard? Você é imbecil? Virou comunista?” Essa atitude se assemelha demais a de esquerdistas fanáticos (quase pleonasmo) e presta um desserviço à defesa da liberdade por gerar a impossibilidade de debaterem-se as ideias, pontos de vista, argumentos, etc.

Não longe, indivíduos nesse perfil se colocam como os mais puros ideologicamente e únicos defensores verdadeiros da liberdade, assim como a esquerda se coloca como monopolizadora das virtudes. O fanatismo é/será a ruína deles.

Chegam a preferir perseguir conservadores e liberais a debater e desmascarar esquerdistas. Óbvio que o debate é importante entre todos os grupos, porém, quando ele passa de debate a ataques pessoais, inicia-se a prestação do desserviço a defesa da liberdade. Se um liberal ou conservador publica um texto que fere a liberdade, então, debater com ele é necessário, da mesma forma que o seria se fosse um libertário ou um esquerdista a fazê-lo, contudo, passar meses e até anos depois ainda falando do tal texto e atacando o articulista sempre que pode apenas por picuinha, não ajuda a defesa da liberdade, pelo contrário.

Pior ainda é abrir mão de algo que ajudará no combate ao autoritarismo e a esquerda apenas por ter envolvimento de determinado indivíduo. Por exemplo, o poadcast do Instituto Mises Brasil onde Bruno Garschagen entrevista Rodrigo Constantino sobre o livro Privatize Já. Abre-se mão de uma entrevista que esclareceria diversos pontos sobre a privatização e levaria informações preciosas a diversas pessoas, por posicionamentos pessoais contra o entrevistado. Censura-se a entrevista, por picuinha. Ora, isso não é notório à esquerda? Novamente, prejudicou a defesa da liberdade por um posicionamento de “purismo ideológico” e monopolização das virtudes (igual faz a esquerda?).

É necessário concordar ou discordar de 100% do que alguém diz? Não podemos aproveitar o que houver de bom e jogar fora (e até combater) o que houver de ruim? Censurar em nome da liberdade? Chamar a Rachel Sheherazade de “quadrúpede intelectual” e só criticá-la ignorando sempre que ela acertar em algo? No que isso ajuda a defesa da liberdade? Apresentar argumentos embasados em fatos, história, lógica, dados e razão em defesa da liberdade é mais inteligente e funcional. Ou vamos defender a liberdade de expressão apenas quando o que for falado estiver de acordo com nossas opiniões individuais?

Se algo está errado, devemos expor os motivos de estar errado para corrigir o erro. Partir para a agressão serve apenas para pintar o agressor de intolerante. Desperdiça-se uma excelente oportunidade de defender a liberdade e apresentar informações ao outro que possam ajudá-lo a analisar melhor determinadas questões e obter outras que ajudem a compreender o posicionamento alheio, pois mesmo que continuemos a discordar, compreender o debatedor nos ajuda a trabalhar melhor nossos próprios argumentos e enriquecê-los para debates futuros.

Impedir que milhares de pessoas tivessem acesso a determinado conteúdo que lhes seria de grande valia e ajudaria na compreensão e divulgação do liberalismo, da defesa da liberdade e dos conceitos libertários, tudo por causa de picuinha; de motivos pessoais inferiores baseados em fanatismo ideológico, presta um desserviço gritante à defesa da liberdade, ao liberalismo e aos próprios libertários.

Adotar um modus operandi semelhante ao dos esquerdistas não faz/fará de ninguém um conservador, liberal ou libertário melhor, pelo contrário, prejudica ao conservadores, liberais, libertários e, principalmente, à defesa da liberdade , enquanto fortalece a esquerda e seu autoritarismo.

O debate precisa existir, mas a defesa da liberdade necessita estar acima de sentimentos mesquinhos como superioridade moral, purismo ideológico, inveja, raiva e vingança. Do contrário, não passaremos de um monte de adultos agindo como adolescentes e comparando quem tem o melhor “xaveco”.

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Roberto Barricelli

Roberto Barricelli

Assessor de Imprensa do Instituto Liberal e Diretor de Comunicação do Instituto Pela Justiça. Roberto Lacerda Barricelli é autor de blogs, jornalista, poeta e escritor. Paulistano, assumidamente Liberal, é voluntário na resistência às doutrinas coletivistas e autoritárias.

2 comentários em “Quando “defensores da liberdade” prestam desserviço à defesa da liberdade

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    19/02/2014 em 9:52 am
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    Oi Roberto

    Escuto sempre os podcasts do instituto mises e não encontrei esse que vc cita. Onde posso escutar?

    Concordo contigo que ficar se batendo ao invés de lutar contra o grande adversário que é o socialismo é uma bobagem. No entanto entendo como isso funciona, é da natureza humana. Nesse sentido me surpreendeu por exemplo que o Lobão conseguisse juntar o Olavo de Carvalho e o Constantino num hangout. Os dois já se estranharam muito e agora tentam caminhar juntos, não de mãos dadas, mas sem se atacarem mutuamente.

    Esse tipo de trabalho tem que começar a existir também, de aparar as arestas entre os brigões, especialmente quando ambos estào fazendo bons trabalhos, caso do Garschagen e do Constantino, em minha opinião.

    É da natureza humana esse tipo de desentendimento. E com as idéias liberais ganhando espaço, isso vai crescer também, afinal aqueles que passaram muito tempo pregando no deserto vão querer estar no começo da fila pra beber água.

    Eu gosto das idéias e estudo bastante, mas não estou integrado nesse meio. Acho que aqueles que estão mais organizados podem tentar ajudar em casos assim, pois às vezes não basta ter os melhores argumentos, é preciso sensibilizar e cativar aliados. Abraços

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    17/02/2014 em 8:17 pm
    Permalink

    Se você der uma lida rápida nos comentários de qualquer artigo publicado no Instituto Mises Brasil, verá exemplos vivos deste fanatismo que descreveu. Esses libertários, se um dia conseguirem se tornar um partido político (tá difícil, 6 mil assinaturas em 8 anos…), serão algo muito semelhante ao PCO ou PSTU.

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