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A NFL é social-liberal, e não socialista

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kc helmetOntem recebi uma reportagem da ESPN Brasil, uma emissora que em várias oportunidades demonstrou seu caráter esquerdista, sobre como funciona a NFL, Liga Nacional de Futebol Americano dos EUA, onde, a partir de uma piada do comediante Bill Maher, buscou comprovar que o sucesso da NFL está no fato dela ser supostamente socialista.

A NFL não tem absolutamente nada de socialista, pelo simples fato de ser uma associação baseada em direitos de propriedade privada dos meios de produção, troca voluntárias entre empregados e detentores de meios de produção (jogadores e donos) e lucro. Só essas características já jogariam por terra qualquer argumento nesse sentido.

Mas uma das características apontadas na reportagem, a de que a liga busca compensar financeiramente franquias menores, o que pressupõe um elemento de igualdade, é verdade. Mas isso não faz da NFL uma liga socialista, faz dela uma liga social-liberal aos moldes do pensador americano John Rawls.

John Rawls foi um filósofo americano e professor de Harvard que tentou, na medida do possível, conciliar as ideias de liberdade e igualdade, com ênfase na liberdade, de forma que os membros menos capazes de uma sociedade não ficassem para trás.

Em “Uma Teoria de Justiça”, Rawls traz os dois princípios que considera justos para regular uma sociedade:

Princípio da Liberdade: as pessoas devem estar em um sistema que lhes garanta o máximo de liberdade, sem que isso comprometa um mínimo de liberdade para os outros.

Princípio da Igualdade: as desigualdades sócio-econômicas são justas, desde que essa desigualdade gere proveito para os menos capazes e que os menos capazes possam ter a oportunidade de competir no mercado.

Vejam que a NFL traz exatamente essa ideia. As maiores franquias lucram mais, por terem mais fãs e serem mais competentes em regra, mas o mínimo necessário para que as outras franquias possam competir no mercado são garantidas, através de medidas como limite de gastos (que, diga-se, é uma garantia de lucro para as maiores franquias, já que praticamente obriga seus donos a lucrar, ao invés de destinar esse lucro para jogadores e empregados), escolhas de novos jogadores a partir do critério “o pior time escolhe primeiro os novos jogadores”, distribuição equitativa das verbas de TV, e por aí vai.

Mas sempre sem retirar das franquias o direito de explorar comercialmente os estádios, os produtos, o catering, a marca, os jogadores e por aí vai.

Eu, particularmente, não sou um grande fã do social-liberalismo de Rawls, mas concedo o fato de que ele é sim um pensador liberal, embora com boa tinta intervencionista. E seu modelo foi muito bem implantado pela NFL.

Mas devemos deixar claro que não é o lado social que fez da NFL um sucesso, mas sim seu lado liberal. Outras ligas esportivas dos EUA com características menos intervencionistas, como a NBA (basquete) e principalmente a MLB (beisebol) são ligas tão bem sucedidas quanto a NFL.

Com isso, podemos chegar à conclusão que ou os jornalistas da ESPN são muito apegados a uma ideologia que não vivem na prática (esquerda caviar?) ou simplesmente não entendem muito de política. É uma matéria realmente dispensável. 

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

13 comentários em “A NFL é social-liberal, e não socialista

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    19/02/2014 em 11:39 am
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    Olá Bernardo

    Achei a matéria interessante e adequada ao canal. O viés esquerdista é claro, e ao contrário do comentado acima, eles tentam sim provar que a busca da igualdade é um dos motivos ( se não o principal) do sucesso da NFL.

    Sua comparação com a social democracia me parece bem feita, e eu não tenho conhecimentos teóricos suficientes de qualquer forma para comentar esse aspecto. Os comentários já abordaram vários aspectos interessantes, eu tentei olhar por outro lado.

    Ao ir na linha do Bill Maher a ESPN força uma comparação entre a NFL e um país. Grosseiramente falando, o faturamento da NFL seria como o PIB, as franquias seriam as pessoas ( ou empresas), e os dirigentes da NFL seriam os governantes buscando a igualdade entre seus súditos em prol de um bem maior.

    A malandragem do Bill Maher foi pegar um único aspecto razoavelmente igualitário, de um empreendimento totalmente capitalista, para defender o….socialismo !!!! Ele quer dizer algo do tipo: “Olhe, o socialismo não é tão ruim assim, veja como pode dar certo…” Algo parecido com o que fazem com os países nórdicos que são ricos APESAR do Estado de Bem Estar Social, e não POR CAUSA dele.

    A receita da NFL vem de três fontes básicas:

    1 – Ingressos e venda de comida e bebida nas arenas
    2 – Direitos de imagem, principalmente TV
    3 – Venda de camisetas, bolas e qualquer outro artigo licenciado.

    O faturamento da NFL vem exclusivamente de fora da liga, dos fãs de futebol americano, enquanto que o PIB é gerado basicamente dentro do país ( pior ainda se socialista) . A comparação portanto não se sustenta.

    Outro ponto em que a comparação é forçada é como a NFL tenta igualar as chances de todas as franquias. Isso é feito no draft e na receita dos direitos de TV somente. Estimaria que os direitos de TV representam apenas 1/3 do faturamento da liga ( é isso no futebol europeu ), ou seja, um time com mais fãs pode buscar aumentar sua receita por conta dos outros 2/3 – ingressos + acessórios. Vale lembrar também que dos 3 itens que compõem o faturamento, a NFL divide apenas naquele que é obrigatoriamente negociado em conjunto, afinal um time não tem como vender isoladamente seus direitos de imagem para a temporada. A venda de acessórios, ingressos e comida nas arenas depende muito mais de esforço de cada time e funciona melhor sem uma regulação central. Já pensou a NFL definindo que tipo de comida e a que preço seria vendido em cada estádio? Isso sim seria socialismo…

    Daria pra falar mais do tema, que é bem interessante, mas fecho lembrando que a NFL depende de uma massa crítica de times para ter uma temporada. Se os times começassem a ir mal das pernas e fechassem, chegaria um ponto em que não haveria mais temporada e com isso o faturamento da NFL iria a ZERO. Novamente não se sustenta a comparação com um país onde não há um número mínimo de empresas ou pessoas bem sucedidas para manter um regime, haja visto Cuba e Coréia do Norte.

    Abraços
    Rodrigo Scalon

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    06/02/2014 em 8:27 am
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    O sucesso da NFL está nos grandes investimentos dos donos e sócios das franquias, direitos de transmissões, etc. Se eles dizem que o “socialismo” no futebol é que traz sucesso, esse sucesso é provido através do dinheiro dos outros. Socialismo só é possível com o dinheiro dos outros, dura até o dinheiro dos outros acabar. Tire o dinheiro da NFL, os grandes investimentos pra ver o que acontece…

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    25/01/2014 em 5:22 pm
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    Deve ser alguns jornalistas. A Espn BR fez uma excelente matéria sobre a modernização do futebol inglês. Citando a privatização para o banco Barclays, o fim da meia entrada e fim ao financiamento público a clubes de futebol. Hoje é o melhor campeonato nacional de clubes do mundo.

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    24/01/2014 em 8:16 pm
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    A NFL é do jeito que é para maximizar seu faturamento, na verdade. Desde de cedo a direção da NFL e os times que a compõem identificaram seu produto que são os bons jogos e as franquias. Ao permitir que mesmo as franquias mais fracas se recuperem, garante um equilíbrio entre todas as equipes, embora ainda permitindo que haja um ou outro time que se destaque. Assim, aliado a uma administração das áreas de influência de cada franquia, sempre há público para seus jogos e quase todos são bons. No futebol, ao contrário, há uma tendencia de polarização, sempre que o poder econômico começa a permitir a algumas equipes se destacarem e manterem a liderança. No Brasil, isso demorou mais por causa do tamanho do nosso país, mais regionalmente pode se observar exatamente esse fenômeno. Isso, em minha opinião, é ruim para o esporte e para a qualidade dos jogos.

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    24/01/2014 em 5:56 pm
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    Nao sei se eu concordo plenamente com a forma que voce colocou o segundo principio de Rawls, pois em ingles ele me parece um pouco mais protetor dos grupos menos afortunados, e muito aberto a interpretacao do quanto se deve auxilia-los.
    De qualquer forma, muito apropriado dizer que Rawls eh uma boa explicacao de como a NFL funciona.

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    24/01/2014 em 5:27 pm
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    A NFL também impede a liberdade dos donos de cada franquia ao impedir que cada um gaste o que quiser e como isso afastar os mecenas bilionários que queiram financiar os teams que apoiam, como acontece no futebol europeu. Por exemplo na Europa, é comum um clube ter prejuízo vários anos seguidos e mesmo assim continuar competitivo porque o clube tem um dono que investe muito, mas não com o desejo de lucro e sim apenas com o desejo de ajudar o clube. Existem vários exemplos desse tipo; Chelsea FC, Monaco, AC Milan, Shaktar Donetsk, etc…. O “sistema europeu” dá muito mais liberdade do que a NFL, mas com isso acaba estragando a competição. Enquanto na NFL os teams mais pequenos teem sempre uma pequena hipótese de ganhar a competição, no futebol europeu só 3 ou 4 clubes teem chances de ganhar a competição. Na Europa existem casos extremos de tédio como por exemplo a Grécia, onde um só clube tem tantos campeonatos ganhos com os outros todos juntos, e isso é claro que acaba tirando o interesse do público em ver o futebol grego. Apesar de eu ser europeu e fã de futebol (torcedor do Sporting CP), gosto mais do sistema da NFL.

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    24/01/2014 em 5:27 pm
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    Caro Bernardo,

    Você usa exatamente os mesmo argumentos da matéria para justificar que a NFL é uma Liga social-liberal. A matéria em nenhum momento afirma que a NFL é socialista, o Bill Maher o faz. Logo em seguida entra um outro entrevistado, Thiago Perdigão, dizendo que a gente não pode dizer que ela é socialista porque ela visa o lucro e que cada time tem liberdade para buscar suas próprias receitas.

    As pessoas tem mania de negar uma tese pela simples necessidade de afirmar a sua própria. Você repetiu o que a matéria diz, mas a negou.

    Talvez você não tenha assistido até o final. Eu li seu texto até a última palavra. E se a matéria fosse realmente dispensável, será que esse texto existiria?

    Um forte abraço!
    Rafael Reis

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    24/01/2014 em 5:25 pm
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    E, Bernardo, já vi nessa mesma ESPN jornalista fazendo o diagnóstico correto do problema do futebol brasileiro. Dizem eles que os clubes brasileiros de futebol não enxergam que os seus concorrentes são as ligas externas, e não o rival do bairro ao lado; que o erro é raciocinar como clube, e não como liga de clubes. É claro que um erro tão bobo como o dessa matéria deve ter sido por preguiça ou pressa, né?

    Ah, seria interessante saber do autor da matéria se em sua opinião os clubes brasileiros são excessivamente capitalistas. Lembre-o que clubes não podem, por lei, visar o lucro; que em todos os clube temos eleições( diretas ou indiretas) para presidente; que o presidente e a sua diretoria são proibidos por lei de receberem salários; que o presidente não é apenas um administrador temporário etc etc etc…Qualquer semelhança com a organização estatal.
    Enquanto isso, na NFL, todas as franquias possuem proprietários com o objetivo de lucrar alto. Mas diga para um torcedor, sócio ou dirigente do Flamengo que o clube deve ser vendido. Eles vão se indignar com o fato de o Flamengo possuir um dono, que o Flamengo é de todos os flamenguistas e por aí vai. Mas é a NFL que é comunista e nós os capitalistas. Esses espns…

    Abraço

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    24/01/2014 em 5:04 pm
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    A ESPN é um antro de esquerdistas.

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    24/01/2014 em 4:52 pm
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    Ótimo texto!
    A matéria ainda apela para lugares comuns típicos de aluno doutrinado de colegial ao falar da riqueza americana como sendo resultado de guerras e não de um século de liberalismo puro, ainda apelando para argumentos rasos de que os americanos não são a favor de políticas sociais, sendo que eles nem sequer resvalaram na questão de que se essas políticas são realmente eficientes.
    No mais o esporte não precisa ser justo e sim emocionante, as medidas em questão de certa forma enfraquecem as franquias mais competentes e eficientes e ajudam as piores equilibrando um pouco a disputa, então esse modelo de compensação da NFL não é um modelo que visa a justiça e sim a emoção no esporte em questão, o que não se significa que esse modelo seja justo e eficiente para a sociedade.

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    24/01/2014 em 4:40 pm
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    Acho sempre bom lembrar que esses tetos de gastos com salários, que causam orgasmos múltiplos nas esquerdas(sempre tão invejosas) só funcionam nos EUA por que eles não tem concorrentes à altura pelos jogadores, caso contrário teria como consequência inevitável a evasão de talentos para mercados que pagassem mais, empobrecendo o espetáculo.

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    24/01/2014 em 4:30 pm
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    Bernardo, tem uma questão que poucos se atentam. Antes das franquias, a NFL é a empresa que coordena tudo isso. E a NFL CONCORRE com a NBA, com a Fórmula 1, com as Olimpíadas, com a Copa do Mundo, com a Champions League etc etc etc. Ela em si é o produto, e as franquias são partes que se sujeitam às suas regras.

    E o esporte-espetáculo tem uma singularidade: se não for imprevisível, não atrai fãs e consequentemente não gera LUCRO. E, para ser imprevisível, tem de haver um mínimo de equilíbrio econômico entre as as franquias. É só por isso que a divisão é igualitária: para gerar mais LUCRO e para vencer a CONCORRÊNCIA com outras ligas.

    A ESPN é uma excelente emissora de esporte. Porém, sempre que seus comentarias saem da área na qual são especializados fazem humor involuntário como, por exemplo, dizer que uma empresa preocupada com o lucro e com concorrentes tem princípios socialistas.

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    24/01/2014 em 4:14 pm
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    Eu gosto muito da ESPN e em questão de liberdade de expressão, que seus repórteres tem acho que é a emissora esportiva mais avançada do Brasil. Mas lá existe existe sim um grande número de esquerdistas que são representados principalmente por João Carlos Albuquerque e Lucio de Castro.

Fechado para comentários.

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