Uma nova obra de referência sobre os companheiros de partido de Hitler

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Quem realmente entrou para o partido de Hitler? Quantos alemães se tornaram membros do partido que se apresentava como o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP)? Os alemães foram obrigados a entrar, como alguns membros afirmaram após a guerra? De quais classes sociais o partido recrutava seus membros? E por que os membros aderiram ao partido?

Sobre esse tema, o renomado cientista político e historiador contemporâneo Jürgen W. Falter acaba de publicar um novo livro, recém-lançado pela Routledge: Hitler’s Party Comrades. The NSDAP Party Members 1919–1945 [em português, Os Membros do Partido de Hitler: Os Integrantes do NSDAP, 1919–1945].

Em 30 de janeiro de 1933, no dia em que Hitler foi nomeado chanceler, o NSDAP tinha novecentos mil membros. Quando o Terceiro Reich caiu, em 1945, esse número havia aumentado para quase nove milhões. Ou, em outras palavras, cerca de um em cada sete eleitores aptos na Alemanha era membro do partido ao final da guerra.

Hitler já havia desenvolvido a teoria da “minoria histórica”, segundo a qual apenas as minorias históricas fazem a história. A minoria histórica deveria ser composta por indivíduos “corajosos”, dispostos a fazer grandes sacrifícios, tanto pessoais quanto profissionais. Segundo Hitler, antes que um movimento político chegue ao poder, durante o período em que é ferozmente combatido pela elite estabelecida e outros opositores, ele inevitavelmente atrairá apenas membros “valentes”. No entanto, uma vez que o partido assumisse o poder, Hitler alertava em Mein Kampf que um número crescente de oportunistas se filiaria ao partido em busca de vantagem própria ou para alavancar suas carreiras. De fato, foi exatamente isso que aconteceu. Após 30 de janeiro de 1933, o oportunismo e as ambições de carreira passaram a ter um papel cada vez mais importante no recrutamento de novos membros: somente entre 30 de janeiro e o final de abril de 1933, 1,75 milhão de pessoas se filiaram ao NSDAP, momento em que as novas adesões foram novamente suspensas. Mas, apesar das frequentes interrupções no recrutamento, o número de membros do partido continuou a crescer de forma expressiva.

Após a guerra, muitos membros afirmaram que haviam sido forçados a entrar para o partido. Apesar de sua análise detalhada, Falter não encontrou evidências que sustentem essas alegações. Na verdade, os membros podiam deixar o partido e cancelar suas filiações livremente. Ao todo, 760 mil pessoas se desligaram do NSDAP entre 1925 e 1945, sendo 250 mil antes de janeiro de 1933 e quase meio milhão deixaram o partido durante a ditadura nazista.

Para este estudo, Falter analisou, de longe, a maior e mais abrangente amostra proveniente dos dois principais índices de carteiras de membros do NSDAP. Como Falter demonstra, um número desproporcionalmente grande de profissionais de colarinho branco e funcionários públicos se filiaram ao partido após 30 de janeiro de 1933. Ainda assim, a proporção de trabalhadores braçais no NSDAP sempre foi muito maior do que se supunha anteriormente. Semelhante aos eleitores do partido, cerca de 40% dos membros do NSDAP eram da classe trabalhadora. Em termos de composição social, o NSDAP não era um partido de trabalhadores nem de classe média, mas sim um “partido de protesto abrangente”. Homens estavam muito mais representados no partido do que mulheres, fato que também se aplicava a outros partidos políticos da Alemanha de Weimar.

Onde o NSDAP diferia dos outros partidos, porém, era na juventude de seus apoiadores. Nos primeiros anos, a maior parte dos novos membros tinha menos de trinta anos — incluindo muitos com menos de vinte e cinco. Depois, à medida que o partido envelhecia, a idade média de seus membros também aumentava. Em resposta, após a segunda suspensão de novas filiações, em 1942, apenas aqueles que haviam passado pela Juventude Hitlerista (Hitler Youth) e da BDM passaram a ser aceitos, além de sobreviventes de guerra e pessoas que haviam deixado a Wehrmacht. A ideia era que o partido permanecesse jovem.

Não existia um único e abrangente motivo para alguém se tornar nacional-socialista. Uma análise citada por Falter mostra que 50% dos maiores de quarenta anos — mas apenas 26% dos que tinham entre vinte e quarenta — apontavam a hostilidade contra os judeus como motivo principal para entrar no partido. Não há dúvida de que o NSDAP era um partido profundamente antissemita, mas Hitler sabia que o antissemitismo mobilizaria apenas uma minoria de eleitores. Ao contrário dos primeiros anos do NSDAP, Hitler não dava ênfase principal a motivos antissemitas em seus discursos no fim da década de 1920. Em vez disso, dedicou muito mais atenção às suas promessas sociais: “De mãos dadas com o ideal de Volksgemeinschaft (comunidade nacional), havia também, muitas vezes, o desejo de abolir privilégios e o sistema de classes vigente. A combinação de nacionalismo e socialismo no nome, somada ao programa político do partido, foi um fator importante para aumentar a atratividade do NSDAP.”

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Rainer Zitelmann

Rainer Zitelmann

É doutor em História e Sociologia. Ele é autor de 26 livros, lecionou na Universidade Livre de Berlim e foi chefe de seção de um grande jornal da Alemanha. No Brasil, publicou, em parceria com o IL, O Capitalismo não é o problema, é a solução e Em defesa do capitalismo - Desmascarando mitos.

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