Resenha: “Admirável mundo novo”

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Aldous Huxley, autor da obra Admirável Mundo Novo, nasceu em 26 de julho de 1894. Além de escritor, Huxley também foi um importante filósofo e pensador crítico do século XX. Assim como George Orwell, Huxley foi educado em Eton, posteriormente continuou sua formação na Universidade de Oxford.

Huxley é conhecido por sua diversidade de trabalhos, que vão desde romances até ensaios e poesia. Suas obras frequentemente abordavam questões filosóficas e morais complexas, tratando de temas desconfortáveis para a época.

Admirável Mundo Novo, publicado em 1932, é uma de suas obras mais famosas. Assim como o romance 1984 de Orwell, a obra escrita por Huxley se passa em uma realidade distópica e aborda a relação entre tecnologia, moralidade, eugenia e controle social.

O autor retrata, em sua obra, uma realidade na qual a junção entre tecnologia, ciência e controle governamental supostamente moldaram uma sociedade aparentemente perfeita. Contudo, desde o início do livro, o leitor já consegue notar a completa ausência de relações significativas entre indivíduos.

Ao longo da obra, são antecipados alguns dos dilemas éticos que a humanidade teria de lidar com os avanços científicos e tecnológicos. Atualmente, por exemplo, existem discussões sobre os limites da eugenia: ela deve se limitar à extinção de doenças genéticas e outras questões relacionadas à saúde ou a aspectos cognitivos ou deve permitir qualquer alteração genética sobre a vida por vir? Ainda que meramente estética.

O romance de Huxley se passa em uma sociedade rigidamente estratificada em castas. Por meio de práticas de eugenia, os indivíduos da sociedade retratada na obra são condicionados, desde sua concepção, a aceitar os papéis a eles estabelecidos e têm um conjunto predefinido de valores e crenças artificialmente impressos em sua mente.

Além de tais práticas, o Estado descrito no livro também destina esforços para a supressão de qualquer emoção humana significativa, incentivando seus cidadãos, desde a infância, a buscar situações de prazer instantâneo. Igualmente, como remédio para qualquer frustração ou sentimento desconfortante, é disponibilizada uma droga, chamada “soma”, capaz de suprimir tais emoções.

A combinação entre a engenharia genética, técnicas de reprodução assexuada e o condicionamento psicológico são utilizados com a finalidade de criar uma população dócil, obediente e desprovida de qualquer traço de profundidade emocional.

Durante o desenrolar da trama, Bernard Marx, um “alfa” desajustado, e Lenina Crowne, uma mulher “beta”, embarcam em jornada de questionamento do mundo em que vivem. Em certa altura, os dois se deparam com uma comunidade primitiva e experienciam o contraste entre sua realidade e tal comunidade.

A obra faz o leitor refletir sobre a natureza humana, a liberdade individual e os custos do “progresso” científico nas mãos de um regime totalitário. A distopia narrada pelo autor é um espelho de suas preocupações acerca da perda de autonomia, do respeito à individualidade e de preocupações éticas em face do avanço tecnológico.

A sociedade descrita por Huxley, no que tange à dependência tecnológica e à busca pelo prazer imediato, se assemelha, guardadas as devidas proporções, à realidade atual, situada quase 90 anos depois da publicação do livro. Talvez o alerta mais importante feito pelo autor seja a prevalência da ciência, da eficiência e da uniformidade sobre liberdades individuais e diversidade entre indivíduos.

Por fim, outro aspecto notável é a contradição existente entre o sentimento de alienação e de solidão experienciados pelos personagens em uma sociedade aparentemente conectada. As aparentes conexões, na verdade, são forjadas artificialmente pelo já mencionado condicionamento à busca pelo prazer instantâneo e pelo uso indiscriminado da droga “soma”, impedindo a construção de relações genuínas.

Os personagens muitas vezes se sentem vazios, mesmo em meio a uma sociedade aparentemente feliz. A partir de tal contradição, pode ser feito um paralelo com a atualidade, especialmente com relação ao aparente aumento de nossas conexões por meio de redes sociais em contraste com uma menor profundidade que tais centenas ou milhares de conexões representam.

Em suma, Admirável Mundo Novo permanece como alerta à supressão da individualidade e das liberdades individuais à uma sociedade que busca controlar cada aspecto das interações e do pensamento humano em nome de uma pretensa maior eficácia social.

 *André Paris é associado do Instituto Líderes do Amanhã. 

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