Trump será o principal obstáculo para chegarmos a Marte?

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Em uma pesquisa realizada pelo YouGov em junho de 2025, 65% dos americanos declararam apoio a uma missão a Marte. Recentemente, Elon Musk anunciou planos de enviar uma Starship não tripulada ao Planeta Vermelho até o final de 2026. “Se esses pousos forem bem-sucedidos, os primeiros com tripulação podem acontecer já em 2029, embora 2031 seja uma previsão mais realista.” Será que as ambiciosas visões defendidas por presidentes dos EUA e pela NASA nas últimas décadas finalmente se tornarão realidade? Musk conta que ficou surpreso no início dos anos 2000 ao visitar o site da NASA e não encontrar nenhum plano concreto para explorar Marte.

Avançando mais de 20 anos, como está a situação hoje? Em uma palestra realizada em julho, Harry Jones, do NASA Ames Research Center, destacou uma redução drástica nos custos de lançamento – algo que tornou possíveis muitas coisas que antes pareciam impossíveis. Ele escreveu há um ano: “Parecia que existiam dificuldades enormes nos impedindo de chegar a Marte. Ainda não alcançamos Marte, embora ele tenha sido o objetivo de longo prazo da NASA desde a era Apollo. Não temos um plano de missão detalhado e viável. Não houve financiamento suficiente para permitir avanços concretos. Os planos para Marte geralmente propõem desenvolver tecnologias avançadas antes que a missão possa realmente começar.”

Entre as linhas, percebe-se a frustração – direcionada não apenas aos políticos, mas também à própria NASA. As missões a Marte foram adiadas repetidas vezes ao longo de mais de cinquenta anos. Ainda assim, nunca faltaram planos: desde a década de 1950, foram concebidas mais de 1.000 missões a Marte, das quais mais de 50 atenderam a rigorosos padrões científicos.

Em sua análise, Jones conclui que não há mais “impedimentos intransponíveis”. Ele identifica sete desafios principais: ambiente hostil da superfície, desempenho humano, suporte à vida, cuidados médicos, exposição à radiação, gravidade reduzida e atrasos nas telecomunicações – e demonstra que existem soluções viáveis para cada um deles.

Um dos principais desafios é o suporte à vida. Os sistemas atuais, como os utilizados na Estação Espacial Internacional (ISS), foram projetados para reciclar água e oxigênio, preservando recursos preciosos. No entanto, Jones argumenta que “o suporte à vida baseado no sistema de reciclagem da ISS não é adequado para Marte devido à sua alta taxa de falhas e à necessidade frequente de diagnóstico e correção de problemas, além de reparos.” Ele propõe uma abordagem mais eficaz: combinar suprimentos levados a bordo com tecnologias de reciclagem mais robustas.

A exposição à radiação, explica ele, também não é mais um problema intransponível, já que um pequeno abrigo protegido poderia ser usado para proteger os astronautas de explosões solares durante a viagem. Segundo Jones, tempos de trânsito mais curtos e o uso do regolito marciano para proteger o habitat na superfície também reduziriam o impacto negativo dos raios cósmicos. Ele também destaca soluções para o problema da gravidade reduzida durante o voo espacial e em Marte – viabilizadas pela redução massiva nos custos de lançamento – como uma nave rotativa que gera gravidade artificial e também uma roda subterrânea rotativa em Marte.

Certamente, uma missão a Marte – e ainda mais uma missão focada na colonização, como defendido por Robert Zubrin em seu livro impactante The New World on Mars – enfrentará inúmeros desafios, tanto antecipados quanto imprevistos. Mas, depois de milhares de planos, o momento para uma ação decisiva certamente chegou. A redução dramática nos custos de lançamento mudou completamente o jogo. A SpaceX conseguiu reduzir os custos em até 95% em comparação com o programa do Ônibus Espacial.

No entanto, um novo risco surgiu – e de origem política. O apoio anterior de Elon Musk a Donald Trump foi, pelo menos em parte, provavelmente motivado pela esperança de que Trump removesse obstáculos regulatórios e cortasse a burocracia absurda que repetidamente atrapalhou a SpaceX durante os testes dos foguetes Starship. Contudo, após a polêmica pública entre Trump e Musk, tudo mudou. Trump ameaçou cortar os contratos da NASA com Musk e disse que consideraria deportá-lo para a África do Sul. Embora isso nunca venha a acontecer, a possibilidade de Trump causar danos significativos aos planos da SpaceX não pode ser descartada. Por exemplo, logo após uma das disputas públicas com Musk, Trump retirou a indicação de Jared Isaacman como novo chefe da NASA, aparentemente por causa da amizade de Isaacman com Musk.

Musk parece ter cometido um erro ao se envolver tanto com Trump, que demonstrou repetidamente quão rápido uma amizade pode se transformar em inimizade. Politicamente, parece que Musk, o empreendedor mais brilhante dos Estados Unidos, marcou um gol contra monumental.

Mas Trump faria bem em lembrar que, sem Musk, os Estados Unidos ainda dependeriam dos foguetes russos Soyuz para transportar astronautas à ISS. No ano passado, a SpaceX foi responsável por 134 dos 258 lançamentos realizados no mundo todo. Se a SpaceX fosse um país, seria a nação número um em lançamentos, à frente da China, Rússia e Nova Zelândia. Sem a SpaceX, os EUA estariam apenas em quarto lugar.

Sem a SpaceX, não haverá missões a Marte no futuro próximo. A própria alternativa da NASA, o Space Launch System (SLS), não é apenas consideravelmente mais cara, mas também está anos atrasada em relação ao cronograma. Críticos chegaram a apelidar o SLS de forma irônica de “Senate Launch System” (Sistema de Lançamento do Senado), pois ele funciona menos como um programa espacial e mais como um programa de empregos, impulsionado por senadores interessados em garantir vagas em suas regiões.

A exploração espacial privada é a carta na manga dos EUA na corrida espacial contra a China, como afirmam os dois confidentes de Trump, Greg Autry e Peter Navarro, em seu livro Red Moon Rising: “Vencer a segunda corrida espacial depende totalmente do setor privado. Não vamos superar a China em uma competição de grandes programas governamentais; o espaço comercial é a melhor arma da América.”

Este artigo foi publicado originalmente na NATIONAL INTEREST.

https://nationalinterest.org/blog/techland/after-a-thousand-plans-is-mars-finally-within-reach

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Rainer Zitelmann

Rainer Zitelmann

É doutor em História e Sociologia. Ele é autor de 26 livros, lecionou na Universidade Livre de Berlim e foi chefe de seção de um grande jornal da Alemanha. No Brasil, publicou, em parceria com o IL, O Capitalismo não é o problema, é a solução e Em defesa do capitalismo - Desmascarando mitos.

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