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Quando Marco Antonio Villa desceu ao nível de palpiteiros de boteco

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Marco Antonio Villa é um comentarista político controverso desde quando despontou nesse meio, não é de hoje que seus trejeitos combativos chamam a atenção geral. Apareceu de maneira mais evidente, todavia, quando ousou contrariar a narrativa sacrossanta da esquerda sobre o regime militar brasileiro. Em vídeos espalhados pela internet podemos encontrar facilmente seu ponto de vista sobre o assunto; contrariou corajosamente historiadores vendidos, jornalistas chorosos e militantes ― alguns que também são ex-terroristas ― que faziam da era militar a perfeita justificativa para suas aposentadorias. Villa ― como dito acima ― guarda um caráter combativo que, por vezes, extrapola o limiar do aceitável e do sadio. Ano passado, por ocasião do início das campanhas eleitorais, Bolsonaro foi à Jovem Pan para uma suposta sabatina na qual Villa, claramente alterado, não só conduziu a discussão para um cenário de bar de velho oeste, como negou suas elementares afirmações sobre o regime militar. Aparentemente agiu assim pois Bolsonaro é um claro defensor do regime militar iniciado em 1964; enfaticamente o historiador queria fazer entender que o regime foi, na verdade, uma ditadura e ponto final ― ainda que suas afirmações de outrora sejam outras.

Tudo bem, concepções mudam, interpretações e explicações diversas também poderiam ser oferecidas pelo historiador à aparente contradição. Mas o que ficou do dia em questão foi o completo descontrole do comentarista e a sua ânsia animalesca para ganhar o embate no grito e na supressão das falas de Bolsonaro. Pois bem, nas últimas semanas o mesmo Marco Antonio Villa saiu da casinha novamente. Sou assíduo ouvinte da Jovem Pan; enquanto dirijo até o trabalho vou escutando o jornal da manhã e, quando lá chego, enquanto passo o café sagrado de cada dia, escuto os comentaristas de plantão ― escutava inclusive o Villa. Nos últimos dois meses o historiador vem se excedendo nas adjetivações, ultrapassando e muito o limiar da ênfase, adentrando abertamente no campo da calúnia e da histeria ativista.

Comentários completamente raivosos com pouco conteúdo real e muito ódio destilado logo às 8 da manhã ― quando ainda estamos com os estômagos vazios e nos preparando para o dia safadamente laborioso que nos aguarda ―, no mínimo podemos chamar tais verborragias de Villa de “pouco profissionais” e, se formos um pouco mais ousados, poderíamos chamar até mesmo de “injuriosas e dispensáveis”.

Trabalho diariamente com a análise política, todos os dias eu leio os diversos jornais do país, avanço na leitura de alguns livros e escuto diversos comentários políticos e econômicos; em paralelo a isso, ouso escrever textos como esse, comento um programa no YouTube e gravo um podcast diário para o Burke Instituto Conservador. Falo isso não para comparar o meu trabalho ao de Villa, mas para mostrar que conheço o dia-a-dia de um comentarista político.

Ainda que por vezes possam escapar, por entre as frestas das falhas tipicamente humanas, alguns comentários ácidos e indevidos, se eles se tornam o status quo de seu trabalho como comentarista político, se os ataques substituem análises, então acabamos nas mesmas cestas das massas militantes que sujam o debate atual com intempéries diversas.

Na semana passada, Villa chegou a afirmar que a manifestação do último dia 26 era um ato de neonazistas. Afirmação bizarra e totalmente descolada da realidade, um ataque puro, gratuito e caluniador per se; uma afirmação que se abstém de qualquer análise factual; uma asserção irresponsável que macula a moral não somente de quem profere a sandice, o alvo do ataque, mas também a instituição mesma que se vincula ao profissional descontrolado.

A Jovem Pan então decidiu afastar o comentarista por 30 dias para remanejar a programação e, com certeza, tentar encaixá-lo em algum outro programa da rede. Não o demitiu, o que mostra que a empresa possui um respeito pelo profissional, já que, por muito menos, outros já perderam empregos na história do jornalismo nacional e internacional. O professor Villa foi então ao seu canal pessoal, expôs a decisão interna da empresa, disse estar chateado com a decisão e chamou para o campo interno da Jovem Pan os abutres do jornalismo que vivem da caça de histórias ― e estórias ― a fim de montarem as suas cotas de parcialismos e ataques aos inimigos pré-determinados.

Não demorou muito para que Bolsonaro se tornasse o culpado da “demissão” de Villa; já se fala até mesmo de uma ligação do presidente ao Felipe Moura Brasil para pedir a cabeça do xingador.

Hoje, pela manhã, enquanto lia A praça e a torre do historiador Naill Ferguson (recomendo vividamente), meu celular vibrou, fui ver o que era, se tratava de uma notificação de um texto editorial da Jovem Pan sobre o caso Villa. Nele a empresa oficialmente afirma que Bolsonaro não pediu a cabeça de ninguém e que “o Grupo Jovem Pan entende que esse mesmo respeito ao público impõe aos seus comentaristas limites que separam a crítica substantiva da adjetivação grosseira. Quando tal barreira é ultrapassada, cabe à direção da empresa aplicar medidas que garantam a volta à normalidade”.

Ou seja, a causa do afastamento de Villa foi tão somente a sua bílis e seu destempero caluniador bizarro. As afirmações de Villa já extrapolavam o nível do razoável há tempos; seus ataques a Olavo ― ao próprio estilo Olavo ―, Bolsonaro e sua equipe, já não eram mais pautados por reflexões, fontes e fatos, mas sim por um ódio ocre e fétido. De um grande historiador e analista, deliberadamente Villa desceu ao nível de palpiteiro de boteco. Ouvir os seus comentários políticos já não se diferenciava muito de ouvir aquelas opiniões coléricas dos sindicalistas da CUT de São Bernardo do Campo.

Não se trata, por fim, de censura. Tanto que ele já está livremente comentando por seus próprios meios; trata-se da boa e velha polidez profissional, da têmpora dos maduros. Não caiamos na armadilha sórdida que nos leva a crer que para combatermos os tolos devemos antes nos juntar a eles na tolice; a mesmíssima tara que levou os porcos a se sentarem com os humanos em A revolução dos bichos. Villa foi vítima tão somente de seu próprio descontrole sentimental; confundiu crítica com injúria, comentário com impropério, análise com hostilidade despropositada.

Guardando meu otimismo como bônus, creio que talvez Villa só precise de umas férias no campo, um bom vinho em Gramado ou, quem sabe, um abraço apertado e um cafuné.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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