Ordem espontânea: a realidade que o Brasil insiste em negar

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O Brasil é um país que insiste em acreditar que sem Estado não há ordem. Essa crença, repetida em discursos políticos e ecoada pela esquerda, sustenta a ideia de que somente o governo é capaz de organizar a vida social e proteger os mais fracos. No entanto, a realidade cotidiana e a teoria demonstrada por Christopher Chase Rachels em Ordem Espontânea apontam em direção oposta: a verdadeira ordem nasce da liberdade, não da coerção.

O autor explica que o Estado carece de mecanismos racionais para tomar decisões econômicas porque sua receita vem do confisco e não da criação de riqueza. Ao tributar e redistribuir compulsoriamente, não responde aos sinais reais de oferta e demanda, mas a interesses políticos e burocráticos. Mesmo que pudesse acertar momentaneamente onde e como produzir, no instante seguinte, essas informações já estariam obsoletas, pois preferências e tecnologias mudam constantemente. No Brasil, essa incapacidade se revela na constante ineficiência estatal: investimentos bilionários em estatais deficitárias, obras paradas e programas sociais que perpetuam a dependência em vez de criar prosperidade.

Rachels resgata a norma da propriedade privada como fundamento indispensável para a ordem. Não se trata de uma convenção arbitrária, mas da única regra capaz de evitar conflitos sobre recursos escassos. Essa lição ecoa no Brasil contemporâneo, onde a insegurança jurídica, a invasão de terras e a fragilidade da proteção à propriedade minam a confiança dos investidores e travam o desenvolvimento. Enquanto o Estado se coloca como árbitro supremo, é justamente sua interferência que desestabiliza.

A metáfora da natureza, usada por Rachels, é reveladora: predadores e presas encontram equilíbrio sem nenhum comitê central, plantas se adaptam ou desaparecem conforme as condições, e todo o sistema responde de baixo para cima, de forma constante e eficiente. O mercado brasileiro funciona da mesma forma quando não é asfixiado. O crescimento do agronegócio, que fez do país um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, não foi planejado em Brasília; foi resultado da capacidade de adaptação dos produtores às demandas globais. O mesmo se observa nas fintechs, que desafiaram os grandes bancos criando soluções digitais acessíveis e forçando concorrência onde antes havia cartelização protegida pelo Estado.

Outro ponto central é o autointeresse humano. Para Rachels, não é preciso acreditar em altruísmo generalizado para que a ordem espontânea funcione. Basta admitir que o homem busca satisfazer a suas próprias necessidades. O mercado, por alinhar interesses individuais com coletivos, transforma esse impulso em prosperidade social. No Brasil, o vendedor ambulante que encontra na rua uma forma de sustento, o pequeno empresário que abre uma lanchonete no bairro ou o agricultor familiar que produz para feiras locais demonstram, todos os dias, como o
autointeresse cria soluções que nenhum burocrata poderia planejar.

E quanto à pobreza? Rachels critica a ilusão de que o Estado é seu remédio natural. Ao contrário, políticas assistencialistas mal estruturadas perpetuam a miséria, criando dependência em vez de autonomia. Já a ordem espontânea permite que indivíduos, por meio de trocas voluntárias e livre iniciativa, ascendam socialmente. No Brasil, os casos de comunidades que prosperaram com cooperativas locais, associações de crédito solidário e empreendedorismo popular são provas concretas de que a liberdade gera caminhos reais de mobilidade social. O que os estatistas prometem entregar por decreto, a sociedade já cria de forma descentralizada.

Além disso, como destaca o livro, no mercado livre, lucros e perdas funcionam como bússola da eficiência. Se alguém obtém lucro, é porque satisfaz às preferências dos consumidores; se acumula prejuízo, significa que destrói riqueza. Essa lógica simples está ausente no Estado brasileiro, onde empresas deficitárias continuam sendo sustentadas com o dinheiro dos contribuintes. A consequência é o oposto da ordem: recursos escassos são drenados para atividades improdutivas enquanto setores inovadores enfrentam obstáculos.

A esquerda teme a ordem espontânea porque ela desmonta seu discurso paternalista. Se a sociedade pode se organizar sem coerção estatal, o Estado deixa de ser visto como protetor e passa a ser reconhecido como entrave. Esse é o verdadeiro choque: admitir que o Brasil só florescerá quando abandonar a ilusão de que Brasília é o coração da ordem e aceitar que a prosperidade nasce da
criatividade de milhões de cidadãos livres.

A lição de Rachels é clara e aplica-se diretamente ao nosso país: o Estado não cria ordem, apenas a violenta; não produz riqueza, apenas a redistribui mal; não liberta, apenas aprisiona. A ordem espontânea já pulsa no Brasil, seja nas ruas das grandes cidades, nas plantações do interior ou nas inovações tecnológicas que brotam das periferias. Cabe a nós reconhecê-la, valorizá-la e libertá-la por completo.

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João Loyola

João Loyola

Formado em administração pela PUC Minas e em Gestão de Seguros pela ENS, Pós-Graduado em Gestão Estratégia de Seguros pela ENS, é sócio sucessor da Atualiza Seguros, trabalha no programa Minas Livre para Crescer na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de MG e é associado do IFL-BH.

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