O socialismo venceu por meio do feminismo

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Os funcionários do “Financial Times” podem entrar em greve amanhã em protesto contra diferenças salariais entre homens e mulheres. O mesmo fenômeno ocorreu na BBC, após o Reino Unido passar uma lei obrigando as empresas a divulgar os salários com base no sexo.

“Há uma sensação crescente entre os jornalistas daqui de que os gestores do FT não estão levando o assunto a sério”, disse Steve Bird, chefe do comitê da União Nacional de Jornalistas no FT, em um e-mail enviado para 600 funcionários.

“A diferença salarial entre gêneros na FT Editorial é de quase 13% – a maior em uma década – e a ‘ambição’ da empresa de alcançar a igualdade até 2022 é pior do que a meta atual da BBC de atingi-la em 2020”, acrescentou.

O jornal, na defensiva, se viu na necessidade de se explicar: “Levamos a questão da diferença salarial entre gêneros a sério e damos as boas-vindas à ação do governo para forçar todas as grandes empresas britânicas a divulgarem seus números”.

“Temos uma divisão 50/50 entre homens e mulheres no nosso mercado de trabalho e há mais mulheres do que nunca em cargos importantes na redação e nas equipes comerciais. Temos uma longa lista de iniciativas em andamento para promover esse progresso”, acrescentou.

É isso, caro leitor. Os socialistas venceram! O mundo não tem mais meritocracia individual. Isso é coisa do passado. Tampouco o direito de propriedade existe na prática, apenas no papel. O capitalismo de livre mercado é todo calcado no direito de discriminação, não com base em preconceitos, como pensam os esquerdistas, mas com base na meritocracia.

Premiar um bom funcionário e punir outro mais incompetente sempre foi o pilar do regime capitalista, razão de sua eficiência. Pagar de acordo com o valor agregado e a produtividade é parte essencial do modelo. Mas os socialistas nunca aceitaram isso. O socialismo é a idealização da inveja, e por isso prega a igualdade de resultados, independentemente do que cada um efetivamente contribuiu para os resultados.

Antes os socialistas olhavam apenas para classes, dividindo o mundo em patrão explorador e trabalhador explorado, achando que a “mais-valia” era aquilo que o proprietário deixava de pagar pelo trabalho realizado do funcionário. Uma baboseira, como os economistas sérios mostraram.

Hoje eles continuam com a mesma crença, só que adaptada para a realidade identitária da era moderna. Em vez de classes, são as “minorias” exploradas. As mulheres, os negros, os gays etc. E qualquer distinção na média entre seus salários é logo usada como prova de preconceito, como se a causa das naturais diferenças entre indivíduos fosse o racismo, a homofobia, o machismo.

Com base nessa narrativa, que vem seduzindo milhões de pessoas e claramente se tornou a predominante no mundo, a igualdade de resultados é o único meio de demonstrar sua “pureza”, sua ausência de preconceitos terríveis. Não paga exatamente o mesmo para mulheres e homens na média, ou para heterossexuais e gays, ou para brancos e negros? Então claro que a única explicação possível para isso é o preconceito!

E para o inferno com a meritocracia individual! E dane-se o direito de propriedade, que costumava trazer junto o inalienável direito de discriminar com base no que o dono julgasse relevante para seu negócio. Se ele sacrificasse produtividade e eficiência em nome de algum preconceito efetivo, seria claramente punido pelo mercado, que não tolera esse tipo de coisa, pois tende a premiar os melhores em atender a demanda. Era essa a pressão contra o preconceito.

Hoje não há mais espaço para isso. Hoje só a igualdade com base identitária serve. Na visão limitada desses movimentos coletivistas, só existem raças, gênero ou inclinação sexual, jamais indivíduos. E as estatísticas são usadas para “provar” o que já se concluiu na largada: que toda diferença é fruto do preconceito.

Se os gays ganharem mais na média em alguma empresa, ou os asiáticos, ou as mulheres e os negros, como no basquete, então pode se ignorar esses casos todos “incômodos”, uma vez que a reparação é de mão única, e em nome das terríveis injustiças do passado é perfeitamente legítimo adotar o preconceito contra o vilão da humanidade, o homem branco heterossexual cristão ou judeu.

Há marxista “raiz”, porém, que percebe o engodo e reclama: as elites dessas “minorias” estão usando esse discurso para obter privilégios à custa dos pobres de todas as categorias, ou seja, a mulher rica, o gay rico e o negro rico acabam conseguindo vantagens, enquanto o branco, o negro, a mulher e o gay pobres pagam o pato. Os salários no andar de cima são equiparados, e os ferrados no andar de baixo continuam ferrados.

Mas isso não muda a essência do problema: o socialismo venceu! Sim, não é exagero algum. Vivemos sob as aparências de um regime capitalista liberal, mas, na prática, quem manda é essa turma poderosa, são os movimentos das “minorias” que acumularam toda essa força somente bancando as vítimas oprimidas. E as empresas logo cedem à pressão, pois entendem como o jogo funciona.

Quem não declarar publicamente que está muito preocupado com a “igualdade salarial” entre os diferentes grupos será logo acusado de preconceituoso e sofrerá as duras consequências. A meritocracia já morreu. Em seu lugar, temos o igualitarismo identitário. Socialismo com outro nome, se preferir.

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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Presidente do Conselho do Instituto Liberal e membro-fundador do Instituto Millenium (IMIL). Rodrigo Constantino atua no setor financeiro desde 1997. Formado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), com MBA de Finanças pelo IBMEC. Constantino foi colunista da Veja e é colunista de importantes meios de comunicação brasileiros como os jornais “Valor Econômico” e “O Globo”. Conquistou o Prêmio Libertas no XXII Fórum da Liberdade, realizado em 2009. Tem vários livros publicados, entre eles: "Privatize Já!" e "Esquerda Caviar".

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