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O caso Marielle e a falsa narrativa da esquerda

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Entre os acontecimentos marcantes de 2018, não podemos esquecer o bárbaro assassinato da vereadora carioca Marielle Franco. Filiada ao PSOL e conhecida pelo ativismo social, Marielle podia ser vista nas ruas da capital fluminense conversando com eleitores e jornalistas, era figura sempre presente no plenário da Câmara municipal do Rio e mantinha contato com os moradores da Maré, seu reduto eleitoral e favela onde nasceu e cresceu. No dia 14 de março, Marielle sofreu um atentado a tiros no carro onde estava. Os treze disparos também atingiram fatalmente o motorista Anderson Gomes. Desde então, as autoridades estaduais e federais se esforçam um tanto debilmente em responder à pergunta aterradora: quem mandou matar Marielle? Essa resposta interessa a todos que acreditam na democracia liberal e que não se conformam em assistir à matança impune de representantes eleitos do povo brasileiro.

Como era de se esperar, o crime gerou comoção pública e atiçou os ânimos político-ideológicos. Direitistas insensíveis fizeram pouco caso do homicídio, como se a vida da vereadora valesse menos em função de seu ativismo esquerdista. Por outro lado, a esquerda logo se mobilizou para explorar eleitoralmente o cadáver de Marielle. Segundo a narrativa fabricada pela canalhada socialista, a morte da vereadora foi obra de pessoas malignas que odeiam pretos, pobres, gays e mulheres. Seguindo um roteiro estratégico de propaganda política, a exploração eleitoral do terrível assassinato se deu em dois níveis: primeiramente nos círculos estritos da militância de esquerda, depois na programação da grande mídia voltada à audiência geral. Para os militantes, Marielle foi morta por inimigos das minorias interessados no extermínio de gays, negros e mulheres (como se negros e mulheres fossem minorias de fato no Brasil). Para o grande público, Marielle foi morta porque sua atuação mexeu com gente intolerante. Com a palavra dirigida ao público sensibilizado pelo crime, os líderes de esquerda cultivaram a narrativa segundo a qual Marielle teria sofrido as consequências de se colocar ao lado dos pobres excluídos da sociedade.

Nesse fim de 2018, é necessário desmistificar a narrativa esquerdista e analisar o caso sem viés ideológico. É preciso encarar o fato: uma vereadora democraticamente eleita foi assassinada no exercício de suas atribuições parlamentares. Levanta-se a pergunta: por quê? Se é verdade que as investigações permanecem inconclusivas, é também verdade que a resposta oferecida pela esquerda é descabida e serve apenas para sustentar a narrativa da luta constante entre brancos e negros, homens e mulheres, héteros e gays. A perspectiva do conflito não oferece uma visão razoável sobre o caso: Marielle seguramente não foi assassinada por ser negra, mulher e lésbica. Ela morreu porque contrariou os interesses de pessoas poderosas. Quem são essas pessoas? Provavelmente os chefes da milícia carioca. Muito atuante na zona oeste da capital fluminense, a milícia é inimiga do PSOL, sobretudo do deputado Marcelo Freixo, responsável por conduzir a CPI das Milícias na ALERJ. Até o momento, as evidências colhidas indicam fortemente a participação de milicianos no assassinato da vereadora.

Para quem não está familiarizado com o caso dramático da violência no Rio, devemos dizer que a atuação criminosa das milícias cariocas é ilustrativa das deficiências do Estado fluminense. Como autoridade constituída, o governo fracassou em impor-se como o detentor do monopólio do uso legítimo da violência. Há poderes paralelos distribuídos em todo o território do Rio, principalmente na capital, verdadeira arena de duelos sangrentos entre narcotraficantes, policiais e milicianos. Dominada por facções criminosas em guerra, por milicianos que parasitam o aparelho do Estado em benefício próprio, a cidade do Rio impõe um desafio maiúsculo aos governantes. Os mandatos executivos se sucedem e o problema só se agrava.

Além disso, a população carioca vive refém de criminosos que, na ausência total da autoridade impessoal do Estado, se autorizam a comandar o destino dos moradores das regiões sob seu domínio. Sem o auxílio institucional do governo, resta à sociedade civil elaborar suas próprias estratégias de vida em comunidade. É aí que os vínculos de solidariedade interpessoal sustentam os indivíduos abandonados pelo Estado. São os indivíduos que se associam e buscam meios de construir uma existência coletiva menos sofrida e precária. Não por acaso, regiões empobrecidas são terreno fértil para o surgimento de projetos sociais voluntários e voltados à comunidade. Em meio ao sofrimento diário dos cariocas, Marielle Franco surgiu como uma cidadã disposta a realizar trabalhos comunitários de assistência aos moradores dessas regiões, principalmente na Maré. Marielle fez o que os petistas e muitos direitistas deixaram de fazer: aproximou-se do povo trabalhador e os ajudou dentro de suas próprias capacidades. Não devemos esquecer que a coesão interna da sociedade civil é a garantia da coletividade contra a tirania do governo.

É preciso dizer o óbvio: esse trabalho comunitário exercido por Marielle transcende a ideologia. Não interessa se você é conservador ou liberal, anarco-capitalista ou monarquista, não há como negar a necessidade de trabalhos voluntários voltados à assistência de populações carentes. Se é verdade que o assistencialismo de Estado é indesejável, é também verdade que há contingentes enormes de pessoas desprovidas de serviços básicos. Se essas pessoas são atendidas por algum psolista, elas são afinal atendidas por alguém. As ideias políticas de quem realiza o atendimento são desimportantes em relação ao trabalho concreto de auxílio humano. Isso por uma razão singela: somos todos humanos antes de nos dividirmos por ideologias de qualquer natureza. Para ilustrar, pensemos no caso dos serviços de atendimento a drogados e alcóolatras realizados por igrejas neopentecostais como a Universal. Sabemos que Edir Macedo é um charlatão, mas por isso devemos impedir que drogados e alcóolatras sejam atendidos por membros da Universal? O que está em jogo, afinal? Não dá para confiar em quem prefere ver um ser humano sofrer as mais terríveis privações a vê-lo ser atendido por seus adversários políticos.

Subjugados pelo domínio privado das milícias, muitos cariocas foram atendidos por Marielle Franco em seus trabalhos de assistência à comunidade. Vale dizer que os moradores dessas regiões não sofriam apenas com a tirania miliciana, mas eventualmente sofriam violência por parte de policiais que, forjados na guerra contra as drogas, tornaram-se brutos e desumanos. Não é possível ignorar que há desvios de conduta por parte de policiais que abusam da autoridade institucional do Estado. Ora, se esses desvios de conduta se abatem sobre pessoas honestas que são obrigadas a conviver com criminosos, não é justo que elas sejam defendidas e ouvidas em alto e bom som? É evidente que sim. A violência legítima do governo tem de ser fiscalizada de perto e os excessos não podem ser simplesmente ignorados. Acontece que a esquerda exagerou convenientemente a questão da violência policial para pintar a imagem de Marielle como a mártir dos pobres e excluídos. Por uma razão simples: o martírio da vereadora psolista serve de trunfo eleitoral ao PSOL.

A narrativa esquerdista pretende obscurecer as prováveis causas do assassinato de Marielle. Não é conveniente assumir que a vereadora foi assassinada por milicianos que desejaram interromper seu trabalho comunitário. Segundo testemunhas ouvidas pelas polícias que investigam o caso, esse trabalho de base incomodou os donos das regiões atendidas porque desafiou a autoridade da milícia. Visto dessa forma, o caso lamentável da morte de Marielle ilustra mais o quadro geral de insegurança e anarquia em que vive o Rio de Janeiro e menos uma situação dramática de perseguição a minorias. Pois está claro que a atuação proeminente das milícias só pode existir na medida em que a autoridade do Estado fracasse em sua missão de prover a segurança pública aos cidadãos, isto é, punindo exemplarmente os criminosos e impedindo a realização de novos crimes.

A conclusão é relativamente simples: a barbaridade cometida contra Marielle não foi motivada por ódios viscerais contra as minorias, mas sim pela sanha dominadora de criminosos da pior espécie. Inimigos de todos os cidadãos honestos, os milicianos e os narcotraficantes devem ser neutralizados e punidos com o fim de proteger toda a sociedade civil. Acontece que essa constatação pode nos levar a concluir que a segurança pública interessa às maiorias que compõem o Brasil, nelas incluídas todas as pessoas sem distinção de cor, sexo ou sexualidade. Mas o PSOL sobrevive de explorar eleitoralmente o senso de pertencimento tribal das minorias ideologizadas. Logo, é eleitoralmente interessante expor o cadáver de Marielle como mártir. É preciso levantar um totem esculpido na forma da protetora de pobres, negros, gays e mulheres. Na narrativa psolista, é necessário fazer justiça ao crime. E a sociedade “branca, machista e homofóbica” deve servir de bode expiatório.

Se é verdade o que diz Thomas Jefferson, e “o preço da liberdade é a eterna vigilância”, então devemos prestar atenção em quem ameaça a vida de nossos representantes eleitos, mas sempre de olho aberto. Afinal, quem vigia os vigilantes?

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Rafael Valladão

Rafael Valladão

Licenciando em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense. Colunista do Burke Instituto Conservador, coordenador do Students for Liberty. É professor voluntário de Sociologia em pré-vestibular desde 2014.

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