Nixon, o Brasil e o espetáculo da impunidade

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Revi, depois de muitos anos, Nixon (1995). Mais de três horas de filme. Espetacular. Retrata o poder em sua essência: irresistível, corruptor — e, numa democracia que funciona, limitado. Nixon foi grande em política externa, mas pequeno em ética. E, como todo homem que confunde poder com impunidade, caiu.

Watergate não foi apenas espionagem política. Foi abuso de poder, encobrimento e arrogância. Mas o verdadeiro protagonista fora da Casa Branca era o sistema. A Suprema Corte não se dobrou a Nixon; não inventou tecnicalidades para salvá-lo. Justiça, lá, era princípio — não espetáculo. Resultado? Em 8 de agosto de 1974, o homem mais poderoso do planeta deixou o cargo.

Outro protagonista essencial, que o filme sublinha e que hoje parece peça de museu, foi a imprensa. O Washington Post fez jornalismo: investigou, apurou, revelou. Não se alinhou ideologicamente, não manipulou fatos, não tratou opiniões como verdades absolutas. A imprensa foi o quarto poder, atuando como deveria: informando para que o cidadão tirasse suas próprias conclusões. Hoje, o contraste é doloroso. Nem lá nem aqui a imprensa cumpre esse papel. Tornou-se partido, militante, seletiva, manipuladora. O cidadão já não pensa; recebe o “consenso” pronto, embalado e etiquetado.

Agora, o Brasil. Instituições existem, mas foram sequestradas pela ideologia coletivista. O Supremo brasileiro não é corte constitucional; é diretório político. Não guarda a Constituição; guarda interesses. Aperfeiçoou-se na modalidade mais inovadora da política judicial: a descondenação retroativa. Condenado em várias instâncias? Fachin, nosso Houdini togado, encontra a filigrana salvadora e — voilà! — o réu ressuscita e retorna à cena do crime, se apresentando como vítima e redentora. A empresa do poder vira funestamente e faz o corpo: consolida o espetáculo da impunidade, e todos aplaudem.

Nos EUA de 1974, até o presidente pode muito, mas não pode tudo. No Brasil de 2025, ministros podem tudo, inclusive o impossível. Lá, a Justiça foi maior que Nixon. Aqui, a toga é maior que a Constituição. Lá, a democracia saiu fortalecida do escândalo. Aqui, cada sessão de estrelismo judicial enfraquece a democracia.

Nixon caiu porque havia instituições independentes e uma imprensa vigilante. No Brasil, instituições caem porque se tornaram dependentes, e uma imprensa militante aplaude a queda. Eis a diferença brutal: em Washington, a lei falou mais alto que a política. Em Brasília, a política fala mais alto que a lei — e a imprensa faz o coro.

A ironia final é dolorosa: Nixon, com todas as suas sombras, teve de renunciar. Aqui, as sombras governam — e ainda dão entrevistas em horário nobre. Como num teatro macabro, não há cortina: a impunidade desfila, gargalha e se veste de justiça, e todos fingem que não veem.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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