Ideologia não rebate a realidade

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Enquanto a elite do tênis mundial disputa Roland Garros com precisão e inteligência, a política brasileira segue patinando em quadra dura. Evidente, não por falta de bolas boas, mas por insistência em jogar de olhos fechados, com a velha raquete ideológica das décadas passadas. Lá em Paris, cada ponto é uma leitura de jogo. Aqui em Brasília, cada decisão é uma recitação de slogans.

No tênis, a bola não avisa, vem rápida, curva, curta, longa, exigindo resposta imediata. Não se vence por força bruta nem por pose; vence-se com tática, preparo, leitura de adversário e, sobretudo, capacidade de adaptação. Factualmente, com humildade diante da realidade.

A política deveria ser igual. Os desafios que chegam — inflação, desemprego, estagnação econômica, criminalidade, desindustrialização — são as bolas que a realidade lança. Espera-se que o governo rebata com estratégia. Mas o que vemos é um desgoverno ainda agarrado a um script ideológico que já não explica nem resolve mais nada. São “gracinhas” para a torcida.

Thomas Kuhn, em A Estrutura das Revoluções Científicas, mostrou que todo paradigma só dura enquanto explica adequadamente os fatos. Quando os erros e as exceções se acumulam, o paradigma entra em colapso e é substituído. O Brasil atual parece não ter lido Kuhn. Diante de fatos que desmentem a narrativa, o governo não revê a estratégia, apenas nega a quadra, a rede, o placar e a arquibancada.

Se antes a esquerda se organizava em torno da luta de classes, hoje reciclou seu manual para as divisões identitárias. Sai “burguesia vs. proletariado”, entra “homens contra mulheres”, “brancos contra negros”, “ricos contra pobres”, “heteros contra LGBTQIA+”. A estratégia é dividir a sociedade em subgrupos ressentidos e polarizar a convivência e coesão social.

No “progressismo do atraso”, sempre quem perde ponto é o povo, apesar dos slogans. O resultado prático dessa política é inflação, desemprego, insegurança, fuga de investimentos, precarização da educação e asfixia do empreendedor. O saque é sempre do Estado, e a devolução — quando vem — costuma atingir o cidadão na rede de impostos.

No tênis, isso se chama erro não forçado. O ponto perdido por incapacidade própria, não por mérito do adversário. O Brasil os coleciona na economia, na segurança, na diplomacia, na educação, por insistir em repetir jogadas que já se provaram falhas. Não há leitura de jogo, apenas recitação de um dogma.

Enquanto isso, em Paris, Djokovic, prestes a completar duas décadas no topo, permanece competitivo porque entendeu que não se vence em 2025 com a cabeça de 2005. Jannik Sinner e Carlos Alcaraz trazem a leitura de cenário, porque sabem que o adversário muda, a quadra muda, e o clima muda.

Aqui, o que muda é apenas o pretexto. A retórica se renova com termos novos — “inclusão”, “empatia”, “equidade” —, mas a estrutura é a mesma. Um Estado hipertrofiado, paternalista, hostil à liberdade e ao mérito, que se apresenta como salvador enquanto vai sabotando silenciosamente aqueles que dizem proteger. Governar, como jogar tênis, é um exercício de realidade. É preciso ler o adversário, interpretar o momento, ajustar a estratégia. O Brasil não precisa de ideólogos, precisa de estrategistas.

Não se governa como se escreve panfleto, governa-se como se joga tênis. Absolutamente, com leitura de jogo, coragem para mudar de estratégia e respeito pela realidade que quica na sua quadra, o tempo todo.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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