Entre slogans e ameaças: o Brasil diante do novo antissemitismo
Nunca imaginei que viveria para testemunhar, em pleno Brasil — um país multiétnico, marcado por uma história de tolerância e miscigenação — um preocupante recrudescimento de manifestações antissemitas com ecos nas mais altas esferas do poder político. E não vindo de grupelhos extremistas às margens da sociedade, mas do próprio centro do poder.
Com naturalidade, ironia e até vaidade, o presidente da República profere absurdos contra o Estado de Israel, enquanto acena com simpatia a organizações terroristas. Isso não é apenas vergonhoso. É perigoso.
A recente iniciativa dos Estados Unidos, oferecendo uma recompensa de até 10 milhões de dólares por informações sobre terroristas atuando na Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai), acendeu um alerta que, para muitos, já estava pulsando silenciosamente. Quando os americanos colocam uma cifra dessas sobre a mesa, não estão lidando com ficção. Estão agindo com base em inteligência, histórico e risco real. O Brasil entrou nesse mapa, e não por acaso.
Não se trata de teoria conspiratória. Trata-se de seguir o fio das escolhas políticas e dos alinhamentos ideológicos. Quando o governo brasileiro promove o resgate de “brasileiros” da Faixa de Gaza, entre os quais havia nomes que o próprio Estado de Israel havia vetado por suspeitas de ligação com grupos extremistas, há algo muito errado. Essas pessoas entraram no país, estão livres, não houve qualquer transparência sobre monitoramento, investigação ou protocolo de segurança. A colaboração é silenciosa, mas o alinhamento com grupos terroristas é ostensivo.
A retórica presidencial sobre o conflito no Oriente Médio ultrapassa o campo do desequilíbrio diplomático. Trata-se de uma militância, sem responsabilidade, travestida de política externa. O presidente brasileiro compara ações de defesa de Israel ao extermínio nazista, deslegitima o direito de autodefesa do único Estado judeu do mundo e ecoa as palavras de quem deseja eliminá-lo do mapa. Nunca houve, por parte desses grupos e regimes que ele insiste em chamar de “resistência”, qualquer projeto real de um Estado Palestino viável. O objetivo, historicamente declarado, é um só: apagar Israel.
O antissemitismo, ao contrário do que imaginávamos, não foi enterrado com os escombros de Auschwitz. Ele apenas se reinventou. Como escreveu o dissidente soviético e ativista judeu Natan Sharansky, “o novo antissemitismo não exige que se odeie o judeu — basta demonizar, deslegitimar e aplicar dois pesos e duas medidas contra Israel”. A receita está em curso. Ele veste o disfarce da causa justa, mas desfila sob bandeiras que escondem punhais, travestindo ódio em virtude e preconceito em “engajamento”.
Enquanto isso, nas universidades americanas — berço de ideologias, mas também da liberdade acadêmica —, a coisa fugiu do controle. Estudantes judeus estão sendo fisicamente agredidos, excluídos, ameaçados. No Brasil, nada. Nenhuma palavra firme do MEC, nenhuma ação do Ministério dos Direitos Humanos. Jovens idealistas, muitos dos quais ignoram a história e a complexidade do Oriente Médio, sentem-se confortáveis em repetir slogans que, no fundo, pedem a extinção de Israel – e fazem isso como se fosse virtude.
Não estamos mais diante de uma disputa ideológica, mas de uma degeneração moral. De um lado, o mundo democrático reage com sanções, recompensas e segurança reforçada. Do outro, o governo brasileiro se aproxima ideologicamente de regimes e grupos cuja atuação é, internacionalmente, associada ao extremismo violento e à negação do direito de existência de Israel. Isso não é apenas um vexame internacional, é uma ameaça doméstica.
O Brasil lulopetista de hoje repele democracias e afaga tiranias, postura essa que está sendo normalizada com o silêncio de tantos. Assustador. Chegamos a um ponto em que não é exagero dizer que a neutralidade, nesse contexto, é cumplicidade; e, como a história já nos ensinou, ela sempre cobra seu preço. Deplorável.
Nota:
Este artigo expressa a análise e opinião do autor com base em fatos públicos, discursos oficiais e registros internacionais. Qualquer interpretação aqui exposta visa contribuir com o debate público e democrático.