Entre o BANI e Brasília: o preço emocional da instabilidade governamental
Há tempos o Brasil não vive apenas uma crise política ou econômica. Vive um esgotamento emocional silencioso, sustentado pela instabilidade institucional de um governo que opera com ruídos, improvisos e promessas sem clareza. A ansiedade crescente do cidadão brasileiro não é um distúrbio isolado, mas o sintoma coletivo de um ambiente em que a previsibilidade foi abandonada e muitas mentiras implantadas.
O conceito que define esta era já não é mais o VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade), mas o BANI: frágil, ansioso, não linear e incompreensível, formulado por Jamais Cascio em Facing the Age of Chaos, no Institute for the Future Journal. O Brasil não apenas se encaixa nesse cenário como o institucionaliza. Manobras fiscais, como o adiamento da dívida do INSS, ameaças a reformas estruturais, insegurança regulatória e ambiguidade tributária, tornaram-se rotinas. O resultado é um país que hesita diante do que exige ação e se esquiva de decisões que pedem urgência.
A consequência atinge diretamente quem investe, emprega e empreende. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil lidera as taxas globais de ansiedade, com cerca de 9% da população afetada. No ambiente de trabalho, pesquisa nacional da Think Work mostra que 60% dos profissionais não conseguem manter a concentração por mais de 30 minutos. Em 2024, o INSS registrou mais de 472 mil afastamentos por transtornos mentais, número 68% superior ao do ano anterior. Desde 2012, esses afastamentos cresceram 134%, segundo relatório do Observatório da Previdência Social em parceria com a ONU Brasil. Esses indicadores revelam que o adoecimento emocional deixou de ser episódico e passou a estruturar-se como um desafio permanente, amplificado pela instabilidade institucional e econômica.
O paradoxo é evidente: governos paternalistas afirmam proteger, mas, ao retirar do cidadão o poder de antecipar e planejar, semeiam medo e dependência. Em contraste, países com instituições previsíveis, como Dinamarca, Suíça e Nova Zelândia, apresentam menores taxas de burnout e maior confiança pública, conforme o OECD Trust in Government Surveys 2024. Essa estabilidade não nasce de discursos, mas de coerência entre o que se diz e o que se cumpre.
Mises alertava que incentivos distorcidos comprometem a ordem natural do progresso. Sandel associava a instabilidade à erosão da confiança pública. Jordan Peterson defendia a importância da ordem para a sanidade, e Taleb ensinou que apenas sistemas bem estruturados se fortalecem diante do estresse.
O novo cidadão brasileiro vive em meio ao ruído constante, mas liberdade requer ordem, e ordem nasce da previsibilidade, da confiança e da clareza. Um Estado que improvisa continuamente adoece seus melhores cidadãos. O Brasil precisa, com urgência, reaprender a ser confiável, porque nenhum país prospera enquanto seus líderes confundem comando com instabilidade e seus cidadãos confundem proteção com dependência. O preço da omissão institucional é pago em silêncio e com a saúde de quem ainda tenta construir um futuro.
*Rayane Fernandes Goncalves Borges é associada do Instituto Líderes do Amanhã.