Como está a ética jornalística na era dos algoritmos

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Vivemos um tempo em que a informação deixou de ser apenas uma questão de conteúdo e passou a ser também uma questão de código. Plataformas digitais, guiadas por algoritmos, decidem o que vemos, o que ignoramos e, cada vez mais, o que pensamos. Nesse cenário, o jornalismo historicamente comprometido com a busca pela verdade e a liberdade de expressão enfrenta um desafio ético sem precedentes.

Do ponto de vista liberal, o dilema central é claro: como preservar a liberdade de informação e o pluralismo em um ambiente mediado por sistemas automatizados e concentrados em poucas mãos?

  1. A liberdade de expressão como valor fundante

Para o pensamento liberal, a liberdade de expressão é o coração da vida pública. John Stuart Mill, em Sobre a Liberdade, defendeu que “toda opinião silenciada é uma oportunidade perdida de descobrir a verdade.” A ética jornalística, portanto, deve estar enraizada na defesa incondicional da pluralidade de vozes, mesmo e sobretudo das vozes dissonantes.

No entanto, o ecossistema digital tem subvertido esse ideal. O que antes era censura estatal hoje se manifesta sob a forma de algoritmos privados que filtram, classificam e hierarquizam conteúdos de modo invisível. A consequência é o surgimento de “bolhas informacionais” que reduzem a diversidade de ideias, limitando o alcance da verdade a favor da conveniência.

  1. O jornalismo entre o mercado e o algoritmo

O liberalismo não demoniza o mercado. Ele o compreende como um instrumento de coordenação descentralizada. Como afirmou Friedrich Hayek em O Uso do Conhecimento na Sociedade, “o problema econômico da sociedade não é o de alocar recursos dados, mas o de utilizar o conhecimento disperso entre milhões de indivíduos.”
O mesmo princípio se aplica à informação: o jornalismo ético é aquele que reconhece que nenhum centro pode deter o monopólio da verdade.

Quando os algoritmos passam a determinar o que é “relevante”, substituindo o juízo humano por métricas de engajamento, o jornalismo corre o risco de perder sua autonomia intelectual. A busca pela verdade dá lugar à busca pelo clique. A ética, então, cede ao cálculo e a esfera pública se torna refém da atenção, não da razão.

  1. O perigo da engenharia moral digital

O novo paternalismo tecnológico no qual plataformas, governos ou “verificadores” decidem o que é verdadeiro fere a tradição liberal da liberdade individual. Como alertou Ludwig von Mises, em Liberalismo, “a liberdade deve ser concedida também àqueles que a utilizam de modo impróprio; caso contrário, não é liberdade, é privilégio.

A ética jornalística não pode ser reduzida a uma política de controle de discurso. Pelo contrário, deve se basear na responsabilidade individual, na transparência das fontes e no compromisso com o debate aberto. O algoritmo, se usado eticamente, deve ampliar o alcance da pluralidade, não a filtrar conforme conveniências políticas ou corporativas.

  1. O jornalismo liberal e o futuro da informação

O jornalismo ético da era digital precisa recuperar a sua vocação de mediador racional, não de curador moral. Alexis de Tocqueville, em A Democracia na América, já percebia o poder formativo da imprensa e alertava: “A imprensa não apenas fornece à liberdade a informação, mas também o espírito que a sustenta.

Em um mundo de algoritmos, esse espírito só sobrevive se o jornalismo resistir à tentação da homogeneização e reafirmar a sua independência frente à lógica algorítmica. Isso significa exigir transparência das plataformas, diversificar suas fontes de renda e apostar na formação crítica do público, não em sua manipulação.

Conclusão: liberdade, ética e responsabilidade

Na era dos algoritmos, a ética jornalística liberal não se define por códigos morais rígidos, mas pela defesa intransigente da liberdade e da responsabilidade individual. Um jornalismo ético é aquele que confia no discernimento do leitor, rejeita o controle centralizado da informação e reconhece que a verdade é fruto do diálogo, não da imposição.

Como escreveu Karl Popper, em A Sociedade Aberta e Seus Inimigos: “A liberdade de pensamento e de expressão é o oxigênio da ciência e da democracia.”

Em tempos de algoritmos, preservar essa liberdade é o maior dever ético do jornalismo.

*Isaías Fonseca é associado I do Instituto de Formação de Líderes de Belo Horizonte. 

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