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“Brasil acima de tudo”: sou patriota e não sou fascista, acreditem se quiser

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O Brasil passou por constantes rupturas, sejam elas com a sua história ou com a democracia. Não nutrimos um elo muito robusto com as nossas heranças, além daquelas que recebemos de nossas famílias e costumes mais imediatos e “bairrescos”; a nossa história, enquanto nação, nunca foi prioridade para governantes e cidadãos. Na escola, o aprendizado dessa matéria era tratado como mera condição para passar de ano, o estudo de nossos álbuns empoeirados e prateleiras de museus era coisa de esotéricos das classes de humanas; nada e nem ninguém que mereça muita atenção. Saber do contexto onde nossos avós cresceram, ou da política que vigorava quando tínhamos reis e rainhas não passava de mera curiosidade que — vez ou outra — encontrávamos num fim de tarde entediante de conversas familiares ou em programas televisivos.

Não conhecemos minimamente a nossa história, “malemá” temos heróis nacionais que habitam o nosso imaginário, nunca passamos por eventos que nos pediram um amor sacrificial por nossa pátria; aliás, sejamos sinceros, mal sabemos o que é um amor pátrio. Somos quase que apátridas em terras ermas e aleatórias.

Um povo sem biografia:

O nosso elo histórico mais vigoroso foi cortado ainda na monarquia. Após o advento da República de Deodoro, nos encontramos numa queda vertiginosa de apreço nacional; não raro defendemos o implante de modelos internacionais pré-concebidos em várias de nossas instituições, uma espécie de Ctrl-C + Ctrl-V jurídico, político e social. Todavia, apartado de nossas raízes, não era de se espantar que tenhamos tentado implantar braços nos lugares das pernas.

Quando um povo se afasta de sua aorta histórica, ele vira um Frankenstein político, uma nação retalhada por ideologia, dissensões religiosas e brigas que não possuem nenhum objetivo que não a busca incessante e selvagem pelo poder e vantagens diversas. As instituições fundadas para serem instrumentos e vozes do populacho nada mais se tornam do que cabides de emprego, centros oficiais de corruptelas e demais atos vis a que diariamente assistimos nos noticiários como se fossem séries da Netflix.

Quando o povo não conhece as suas heranças, fica impossível amá-las; e, se não as amamos, por qual motivo deveríamos nos sacrificar e nos desgastar por elas? Quem não conhece a sua história, não sente com a sua história, não sofre com a sua história, não permanece com a sua história; mantém seu pensamento num egocentrismo “tolificante”; fecha-se em sua áurea de certezas e individualismos, sem ter qualquer apreço por aqueles que se avizinham e mantêm elos de sangue ou camaradagem. O povo que não sabe sequer quais foram as gentes que deram origem aos filetes de ouro que tecem o seu DNA genético e histórico não será capaz de patriotismos e autossacríficios por sua nação.

Patriotismo não é nacionalismo:

Outro fator que impossibilita o amor pátrio pelo Brasil é a confusão recorrente entre nacionalismo e patriotismo. Nacionalismo é um sentimento que geralmente está alicerçado no remorso por flagelos e humilhações pregressas, além do desejo desenfreado por poder e pela soberania de um grupo auto-eleito: “o mais puro”. Trata-se de uma ideologia que enxerga a virtude social e moral sob a posse exclusiva de seu povo, raça ou casta; pregando, dessa maneira, a ideia de que todos devem se dobrar frente à sua concepção de governo e Estado — caso contrário, eles próprios farão isso pela força militar, “pelo bem de seu grupo”.

No nacionalismo, não há lugar para irmandades e amor; o sentimento predominante é o egocentrismo alastrado e massificado, as almas dos indivíduos são cimentadas e transformadas num bloco uniforme de obediências e dogmatismos padronizantes; tudo isso abrangendo o Líder (sumo sacerdote do Estado) como o representante mor e chefe inconteste. Não há nacionalismo sem Estado forte, obeso e burocrático; a burocracia é o modus operandi e a desculpa para o controle social e cultural.

Patriotismo não é nazismo, comunista ranhento:

O patriotismo, por sua vez, é um sentimento fincado na partilha, na consciência de afeição e fraternidade de sangue ou vizinhança entre os concidadãos de um país (família, bairro, cidade, estado); mas, principalmente, se trata do apreço por suas heranças históricas, da consciência do preço de sangue que custa a liberdade de um povo e de quantos tijolos de moralidade ou pedras foram necessários para erguer uma nação próspera e feliz. Ou seja, o patriotismo é a consciência mais abrangente de amor comunitário; um olhar de coesão que abarca — apesar das diferenças de ideias, cores, religiões e sexos — um esforço conjunto pelo crescimento da nação, pela melhoria das condições de um povo. O amor pátrio age, dessa maneira, através de indivíduos interdependentes, isto é: de indivíduos diferentes, diversificados em suas funções e relações, mas que buscam os mesmos fins, ou seja, o bem do país.

Não é concebível para um patriota, por exemplo, o pensamento: “quanto pior, melhor”; ou seja, o ato de usar do caos — ou propriamente construí-lo — com o intuito de que uma crise acentuada leve a uma vitória política de sua visão de mundo. Tal mentalidade doentia deveria ser um absurdo em si mesmo.

Um democrata patriota não deve torcer pelo fracasso de um governo republicano, pois, ainda que adversários políticos, estão sob o mesmo vernáculo; é como se um tripulante começasse a furar o casco de seu navio porque não gosta do comandante. No fim ambos estarão à deriva. Um verdadeiro patriota não concebe como razoável uma luta ideológica que se sobreponha à saúde da nação; nesse sentido, o patriotismo é um antidoto natural contra a ideologia: o indivíduo que pensa no bem de seu país não terá porque priorizar as diretrizes do partido, frente às reais necessidades da nação.

O patriota reconhece o acerto pelo acerto e o erro pelo erro, não fazendo a distinção da verdade pelos pressupostos políticos daqueles que os colocam em prática. Se são os socialistas que estão no poder, ele amará a sua nação e procurará colaborar naquilo que for possível, ainda que desaprove 90% daquilo que o atual governo aprova; o patriota se apegará aos 10% que sobraram e fará de sua vida uma luta pelo acerto. E quando a crítica for necessária, primeiramente o fará pelo bem do país e não do partido.

Patriotas não querem suprimir países vizinhos — a não ser que estes os ameacem; muito menos submetê-los às suas tradições e modelos políticos por puro fetiche de expansão. O patriota busca apenas honrar, defender e fazer com que sua nação prospere. Os atos de um patriota, ao contrário do nacionalista, não estão ancorados na rancorosa supressão de terceiros para a glória de seu rebanho, mas numa virtuosa e laboriosa ascensão social, no amor medular pela sua população. Ser patriota não se trata de achar deméritos nos outros países a fim de elevar os méritos do seu, mas sim em trabalhar e construir arduamente os seus patrimônios e orgulhos.

No fundo, o patriota estende a sua concepção de amor familiar para os demais que se avizinham a ele; o sentimento mais tenro que permeia a sua casa, ele tenta vislumbrar em seu país; o autosacrifício que faria por seus pais, ele busca fazer por sua pátria.

Sei que é difícil:

Sei que é difícil imaginar tal postura de apego e amor ao Brasil. O momento em que aqui o civismo teve propaganda foi justamente na época do Regime Militar, uma época nada exemplar em muitos patamares. No entanto, amar o país não significa apoiar ditaduras, ser nacionalista ou antidemocrático; um dos países mais democráticos do mundo, os EUA, é profundamente patriótico e, não raro, exemplo de austero defensor das liberdades individuais.

O brasileiro, ao amar seu país, superando assim a síndrome de cachorro sem dono, cria condições para o crescimento e manutenção da prosperidade nacional. Uma sociedade que ama seu país trabalhará, estudará, educará e fará tudo com novo ardor, tendo como anexo de suas motivações o crescimento pátrio e a prosperidade de seu povo.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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